segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

''Operação Kerslig'' abalou a economia nacional mas a vitória foi dos angolanos"


Fonte: José Ribeiro | Jornal de Angola
30 de Novembro, 2014

A “Operação Savana”, destinada a impedir a Independência de Angola, terminou com uma pesada derrota das forças invasoras da África do Sul em Março de 1976.
Mas o regime racista de Pretória não se deu por vencido e aproveitou os “restos” dos seus aliados angolanos para criar uma nova força invasora que não falhasse.
As FAPLA estavam cada vez mais activas no apoio à luta de libertação da Namíbia e da África do Sul. O regime racista começou a temer pelo menos o fim da sua hegemonia na região austral e viu que estava muito perto da verdade. No Triângulo do Tumpo, foi mesmo o seu fim.
Apenas cinco anos depois da retirada das tropas que participaram na “Operação Savana” e dois anos após o Presidente José Eduardo dos Santos assumir a liderança de Angola e das suas forças armadas, o regime de Pretória montou a “Operação Kerslig” (Candelabro) para sabotar os depósitos de combustível situados no Porto de Luanda e pertencentes à refinaria da Petrangol, numa zona de grande comcentração populacional.
O sul-africano Peter Stiff, no seu livro “The Silent War” conta todos os pormenores desta agressão dos racistas de Pretória a Angola.
Antes desta nova fase da desestabilização dos países da Linha da Frente, a comunicação social internacional começou a dar visibilidade a Jonas Savimbi e seus homens, treinados e municiados por oficiais sul-africanos. O objectivo não era reforçar as forças militares da África do Sul, legitimando as acções com o apoio da UNITA.
Peter Stiff explica cruamente qual o papel que estava atribuído ao caudilho: “a Operação Kerslig e todas as outras realizadas pela África do Sul em Angola eram atribuídas à UNITA”.
De facto, logo no dia seguinte ao acto de sabotagem, Jonas Savimbi apareceu nos jornais de Nova Iorque a dizer que foram as FALA que puseram a refinaria de Luanda em fogo. O chefe da UNITA da altura chegou mesmo a especificar que o ataque foi realizado por três de cinco homens com a utilização de uma “bazooka”.

Situação da África do Sul

O regime de apartheid estava sujeito a sanções e aqueles que o apoiavam por baixo da mesa, ficavam numa situação delicada se ficasse comprovado que Pretória continuava a ter tropas em Angola e desenrolava operações militares de grande envergadura, num Estado soberano membro da ONU e da OUA, hoje União Africana.
O alto comando das forças de defesa e segurança da África do Sul decidiu mobilizar o navio de guerra “Tafelberg” para transportar os sabotadores e o material explosivo. O “Protea” seguiu para a operação como navio-mãe, onde estava o comando. Ancoraram a mais de 50 quilómetros da costa angolana, em frente a Luanda.
Ao fim da tarde do dia 26 de Novembro uma embarcação rápida de casco rígido navegou na direcção da capital.
Às primeiras horas da madrugada, foram desembarcados nos terrenos contíguos aos depósitos de combustíveis, o sargento Jack Greef e o cabo Sam Fourie, ambos das tropas especiais de Pretória.
No livro “The Silent War” Peter Steef revela o objectivo dos dois invasores: “Eles foram fazer o levantamento operativo do alvo e recolher dados para orientar posteriormente as equipas de assalto”. Como a “Operação Kerslig” era “oficialmente” uma acção de Savimbi, os militares sul-africanos que participaram, ficaram por conta própria. Se algo corresse mal eles apenas podiam dizer que estavam às ordens do chefe da UNITA que decidiu trair os seus próprios irmãos africanos. Até hoje os familiares dos militares sul-africanos que morreram na sabotagem reclamam os corpos. O sargento Greef e o cabo Fourie estiveram na área dos depósitos de combustíveis três noites e dois dias.

A noite da sabotagem

Durante a noite recolhiam elementos e de dia escondiam-se. Os sabotadores conseguiram definir com precisão os pontos de ataque e deram-lhes nomes de código: “Alpha” e “Bravo”.
Quando recolheram todos os elementos necessários enviaram um sinal via rádio para o navio-mãe “Protea” e nessa noite foram recolhidos com os “Ski Boats”. Na noite de 30 de Novembro, o sargento Greef e o cabo Fourie regressam ao Porto de Luanda, mas desta vez para orientarem três grupos de assalto constituídos por tropas especiais da África do Sul. Em terra tomaram as posições e o capitão ATP De Kock, o cabo Kloppers Kloppies e mais um soldado chegaram aos depósitos de combustíveis da refinaria de Luanda.
De Kock começou a colocar os explosivos nos depósitos enquanto os outros dois ficaram de vigia. O capitão deu sinal que a sabotagem estava quase no fim. Os outros dois começaram a preparar a retirada. Mas de repente ouviu-se uma explosão e acto contínuo os depósitos de combustível começaram a arder. As chamas transformaram a noite em dia. De Kock teve morte imediata. Os outros dois invasores ficaram gravemente feridos.

Recolha dos feridos

O cabo Kloppies ficou com queimaduras graves mas não perdeu os sentidos. Viu que o soldado estava gravemente ferido mas não conseguiu tirá-lo do local. Partiu em direcção ao “ponto de emergência”, a 600 metros dos depósitos, onde estavam todos os outros à espera dos sabotadores. Pediu ajuda para o soldado que ficou ferido no terreno e informou que o capitão De Kock tinha “explodido” com os depósitos.
O tenente Franz Fourie e o cabo Sam Fourie partiram em direcção aos depósitos em chamas. Mas não encontraram o ferido. Peter Steef conta no seu livro o que aconteceu:
“O soldado gravemente ferido recuperou os sentidos e arrastou-se em direcção a um ponto onde já estavam os combatentes das FAPLA. O tenente conseguiu encontrá-lo antes de ser feito prisioneiro. Depois carregou com ele até ao ponto de emergência, local definido para o caso de algo correr mal”.
Com a sabotagem, os invasores conseguiram causar graves danos à economia angolana, debilitada pelo tremendo esforço de guerra. Mas a “Operação Kerslig” acabou por correr mal, porque morreu o capitão De Kock e mais dois homens ficaram gravemente feridos. Os três grupos de assalto abandonaram a área dos depósitos em chamas e conseguiram chegar aos navios de guerra, a 50 quilómetros da costa.

Sabotadores condecorados

O sul-africano Peter Stiff, no seu livro “The Silent War” explica a razão que levou o alto comando dos racistas de Pretória a deixarem os navios de guerra a 50 quilómetros da costa: “Assim fugiam aos radares costeiros e as patrulhas da força aérea angolana não se afastavam tanto da costa”.
A imprensa internacional deu grande destaque a esta “operação de Savimbi”, mas o livro “The Silent War” de Peter Stiff revela a verdade dos factos com tantos pormenores, que não oferecem qualquer dúvida.
No dia 30 de Novembro de 1981, tropas especiais sul-africanas, apoiadas por dois navios de guerra, desembarcaram à noite na área dos depósitos de combustíveis do Porto de Luanda e sabotaram-nos.
Savimbi foi apresentado como o “herói”. Mas os militares sul-africanos que participaram no atentado foram reconhecidos por Pretória e os familiares procuram por eles. Mas nunca mais voltam porque “explodiram” naquela noite em que causaram graves dados à economia nacional, ao apoio logístico às Forças Armadas de Angola e puseram em risco a vida das populações que vivem na zona limitrofe da Petrangol.
Peter Stiff foi aos arquivos do regime de apartheid e encontrou lá a verdade: “O tenente Franz Fourie, o sargento Jack Greef e os cabos Sam Fourie e Kloppers Kloppies foram condecorados com a Honoris Crux”. É uma das mais altas condecorações militares da África do Sul.
O acto de sabotagem e a libertação de gases tóxicos dos depósitos em chamas criaram o perigo de poluição que afecta a saúde, sobretudo as vias respiratórias. Grupos mais vulneráveis, como crianças e idosos, nos dias que se seguiram ao gigantesco incêndio, tiveram que receber assistência hospitalar.
A população que vivia a Norte de Luanda teve de abandonar os seus lares e muitas famílias perderam os seus haveres. Além da catástrofe económica, também se registou um grande problema social, com repercussão evidente no Ambiente. O Govern o angolano acusou, na altura, a África do Sul de tentar sabotar toda a Refinaria de Luanda, pertencente a investidores estrangeiros. Em conferência de imprensa alargada, o ministro dos Petróleos, Pedro de Castro Van-Dúnem “Loy”, afirmou que o ataque danificou tanques de combustível e “pipelines” mas não afectou o complexo da refinaria proprimanente dita. “Os trabalhadores angolanos da refinaria mostraram uma coragem excepcional, retirando milhares de barris com substâncias aditivas que estavam armazenados”, afirmou alguém que acompanhou o combate ao incêndio. “Se não tivessem feito isso num espaço de tempo muito curto, e no meio de temperaturas elevadíssimas, o pior tinha acontecido”, diz hoje um técnico que na altura combateu fogo. O pior era, seguramte, um desastre ecológico de proporções inimagináveis, que punha em risco a vida de milhares e milhares de luandenses.  Os danos causados a Angola ainda hoje estão por ressarcir, sobretudo por parte dos sul-africanos.

PROJECTO LIBOLO

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