sábado, 7 de novembro de 2015

Avaliação dos 40 anos de Independência de Angola

Nativos em trabalhos de contratados

Independência – Angola, desde 11 de Novembro de 1975 que saiu do domínio colonial português depois de quase 500 anos de um colonialismo cruel e quase “canibal”. Sabemos que não foi uma independência fácil ao estilo da maioria de outros Estados africanos que tiveram o ensejo de negociar com os colonos as suas independências e tiveram os processos concluídos de descolonização. Em Angola o processo de descolonização não existiu, o colono embrulhou a bandeira, colocou-a debaixo do braço e partiu. O país ficou a deriva e entregue na mão de carpinteiros, enfermeiros, marceneiros, sapateiros e meia dúzia licenciados sem experiencia absolutamente nenhuma de liderança ou gestão pública. E como se não bastasse esta amputação, ainda importamos uma guerra atroz que nos era alheio entre potências que lutavam para dominar o planeta e o universo. 
O Ultimo dia colonização

Na verdade descalçamos uma bota apertada e colocamos os pés num sapato justo mas cheio de espinhos e apesar dos esforços, galgamos pedra sobre pedra até que nos entendemos e juntamos as pedras e há 13 anos começamos a caminhar sobre uma calçada que ainda é íngreme e desnivelado mas já permite caminhar sem muitos tropeços. Portanto o que ganhamos hoje embora muito pouco é resultado das perdas que tivemos no passado. Neste momento vivemos um processo de identidade e afirmação, é como se tivéssemos regressado aos primeiros anos da independência. É mentira se dissermos que está tudo bem, também estaríamos a faltar com a verdade se dissermos que está tudo mal. Tivemos avanços e retrocessos e a principal barreira entre nós é a dos homens que têm imensas dificuldades de de adaptação e abandonar alguns vícios e hábitos adquiridos nestes 40 anos. Uns não conseguem se libertar da rebeldia cronica aprendida e ensaiada e outros têm dificuldades de se libertarem de uma hegemonia política e ideológica em que se deitaram por três décadas e agora tende a surgir uma geração que não galgou a estrada de pedra sobre pedras e que se acha solução de um problema bicudo e muito maior que qualquer vontade. 
A bandeira da nova República 

A independência é um processo e não uma obra acabada e ainda vamos galgar muitos quilômetros para que nos sintamos todos completamente saciados. Portanto ao olharmos para os 40 anos da “dipanda” e antes de criticarmos que houve precipitações e que não ganhamos nada, aconselho-vos sempre a olharmos antes para a floresta e só depois para as árvores. 

Artur Cussendala

O que ainda guardo na MEMORIA.

11 DE NOVEMBRO DE 1975 
7 de Novembro de 1975, véspera de final de semana, tinha eu 9 anos e aluno da 1ª Classe na aldeia de Cambau na comuna do Quissongo, município do Libolo/K.Sul. Era na verdade criança mas já muito lucido e já tinha comprado com o meu suor uma camisa com o salario de colheita de café na Roça do Amorim. Ainda lembro-me do mulato capataz que nos açoitava com prazer e gozo. Nós as crianças, nossa tarefa era apanhar o café que cai ao solo quando na colheita dos adultos estes bagos se escapassem dos cestos que colocavam a tira colo. Recordo-me ter trabalhado dois meses mas no segundo não fomos pagos porque o fazendeiro fugira depois de envenenar a refeição do almoço dos trabalhadores não “mbalundo” da fazenda. Naquele distante dia que nem tenho noção do mês e pior ainda do dia, despertei a consciência quando vi a população da aldeia inteira vindo com catanas, enxadas, paus e canhangulos atacar o fazendeiro e seus capatazes. Estes vendo a picada de entrada coberta de gente enfurecida, debandaram cafeeiro a dentro e com eles o nosso lindo e belo salário. Creio que nunca mais retornaram até ao dia da “dipanda”. Pois neste dia 7 de Novembro (sexta-feira) salvo erro, apareceu em Cambau um “kwemba” do MPLA que nos instruiu militarmente com uso de réplicas de armas de pau, a marchar, cambalhotar, rastejar e a cantar canções patrióticas bem como o hino do MPLA. A aldeia estava num alvoroço total, havia marcha de mulheres, homens, velhos e crianças. A independência, diziam que viria na terça-feira dia 11. Nós as crianças na verdade não sabíamos como viria essa independência (a pé, de motorizada ou de camião) mas sabíamos todos que tínhamos de nos preparar para receber a independência. Todos sabíamos que naquele dia tínhamos de estar preparados e os treinos e as marchas com canções revolucionários se haviam intensificado. Os brancos das lojas no mbuiza tinha ido embora para Calulo e o comércio fechado. Os trabalhadores “mbalundo” na margem oposta do rio futy também havia levantado o acampamento e só alguns permaneciam. Então tinha chegado a terça-feira (11), alguns foram a lavoras a busca de mantimentos e nós crianças estamos ansiosos e com os olhos postos na esquina da estrada a espera da “tal” independência. Foi então que perguntei ao primo Joaquim que já andava na 3ª classe, como seria a independência. Ele calmamente explicou-me que a independência iria chegar mas não era uma coisa ou pessoa mas sim um acto em que os brancos já não mandariam em nós nem nos submeteriam mais a castigos de palmatória e trabalhos nas fazendas ou pagamentos de impostos. Pouco confuso, tentei explicar a minha maneira aos outros “pioneiros” e uns até mais crescidos do que eu e por pouco iria levar uma valente sova porque ninguém acreditou em mim e me chamaram até de “contra revolução” (grande ofensa na época) e fui salvo pelo primo Joaquim. Todo o dia as pessoas tinha colado os ouvidos na radio a escutarem noticias e canções revolucionarias e finalmente caiu a noite eu eu caí no sono, porem as tantas fui acordado para ouvir o discurso do presidente Neto em Luanda, pois tinha chegado a hora da independência e tínhamos de içar a bandeira. Pasme-se mas a bandeira era uma folha dupla branca, arrancada do meio de um caderno e pintado de VERMELHO/PRETO e uma estrela mal desenhado no meio. Estava toda gente da aldeia em volta e enquanto se cantava o hino no rádio a pinhas, nós içávamos a bandeira no meio da aldeia num mastro de bambu improvisado para a ocasião. Depois foram abraços, gritos de alegria e rajadas de balas incendiarias rasgando o seu escuro da noite, vindas de bairros vizinhos do Bango, Gingi e até da Banza do Quissongo. Finalmente tinha chegado a “dipanda” que tanto ansiavamos e que obrigava “religiosamente” o meu pai a ouvir o Angola Combatente com o som do radio baixíssimo todas as noites e no quarto.
Artur Cussendala 7/11/2015

PROJECTO LIBOLO

Estive em Calulo, Libolo, a terra que me viu nascer, como congressista convidado ao Congresso Internacional Linguístico (20° Conferência Anu...