sexta-feira, 7 de novembro de 2025

Homenagear Jonas Savimbi é ofender as vítimas da guerra

Homenagear Jonas Malheiro Savimbi como herói nacional é um insulto à memória das vítimas da guerra civil angolana. É negar a dor de milhares de famílias destruídas, é transformar um símbolo de violência num modelo de virtude, e é, sobretudo, deturpar a verdade histórica de um país que ainda não cicatrizou as feridas do seu próprio passado.

Ao contrário do que muitos procuram fazer crer, Jonas Savimbi não foi um libertador.
Durante o período da luta anticolonial, ele não combateu o colonialismo português mas sim os seus próprios compatriotas.
Formado e recrutado pela PIDE-DGS, a polícia política do regime salazarista, Savimbi tornou-se instrumento de divisão interna, sabotando a unidade entre os movimentos de libertação.
Enquanto o MPLA, o FNLA e outros combatentes sacrificavam vidas para expulsar o colonizador, Savimbi travava uma guerra paralela, uma guerra de ambição pessoal e de manipulação externa.
A sua passagem pela Frente Leste, o contacto com serviços secretos portugueses e o apoio indirecto que recebeu durante o período colonial evidenciam que Savimbi não nasceu da resistência mas da estratégia portuguesa de infiltrar e desarticular a luta pela independência.
Ele foi, em essência, um produto do colonialismo que, mais tarde, se reinventou como nacionalista para capitalizar o discurso da libertação em Alvor.
Depois da independência, em 1975, mostrou o seu verdadeiro rosto, de um homem obcecado pelo poder, que preferiu incendiar o país a aceitar o papel de opositor político legítimo.
Transformou a UNITA numa força de destruição, sustentada por potências estrangeiras - primeiro pela África do Sul do apartheid e, depois, pelos Estados Unidos em plena Guerra Fria.
A sua ambição mergulhou Angola em décadas de sofrimento, com massacres de civis, execuções sumárias, raptos, trabalho forçado e o uso sistemático de minas terrestres que ainda hoje mutilam inocentes.
Homenagear Jonas Savimbi é, portanto, reabrir feridas antigas e humilhar as vítimas da sua violência.
É dizer ao povo que a destruição pode ser heroísmo, e que a ambição de um homem vale mais do que a dor de uma nação inteira.
Um país que procura a reconciliação verdadeira não pode colocar no mesmo pedestal os que lutaram pela libertação e os que combateram a libertação.
Reconhecer o papel histórico de Savimbi é necessário mas glorificá-lo é deturpar a história.
A verdade é que ele não libertou Angola; pelo contrário, atrasou o sonho de independência e condenou gerações inteiras a viver sob a sombra da guerra.
A reconciliação não se constrói sobre mentiras políticas, mas sobre memória, justiça e verdade.
Se Angola quiser realmente honrar o seu passado, deve erguer monumentos às vítimas da guerra, não aos seus autores.
O país precisa de memoriais que contem a história dos que sofreram e não dos que fizeram sofrer.
A paz não se consolida com homenagens a quem semeou o ódio, mas com respeito aos que, silenciosamente, suportaram o peso da tragédia.
É preciso coragem moral e intelectual para dizer o que muitos tentam esconder:
Jonas Savimbi não foi libertador, foi divisionista. Não foi herói, foi responsável por um dos capítulos mais sombrios da nossa história.
O verdadeiro herói é o povo angolano que sobreviveu à guerra, à fome, às minas, à perda e ao esquecimento.
Homenagear Savimbi é ofender esse povo.

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