sexta-feira, 12 de setembro de 2025

 Greve dos jornalistas em Angola

A anunciada greve dos jornalistas em Angola expõe uma realidade desconfortável: o jornalismo nacional perdeu relevância. Num país onde a emissora pública não é aberta, onde a pluralidade de vozes é abafada e onde a informação serve mais ao poder do que ao cidadão, é legítimo perguntar, que impacto real terá esta paralisação?

O único jornal de circulação nacional há muito deixou de ser uma referência. Com notícias sempre atrasadas em relação às redes sociais, perdeu leitores e credibilidade. As rádios privadas, mesmo que se juntem ao protesto, não têm alcance suficiente para mobilizar a opinião pública. O povo, que se informa cada vez mais por streaming, satélite ou pelas redes digitais, dificilmente sentirá falta da mídia nacional.
É esta a tragédia, uma greve que, em vez de abalar o patronato, pode até deixá-lo descansado. Afinal, quem vai sentir a ausência de uma informação que já era ignorada pela maioria?
A paralisação deveria servir como momento de reflexão profunda. Não basta cruzar os braços por melhores salários ou condições. É preciso reconquistar a confiança da sociedade. O verdadeiro impacto de uma greve jornalística não se mede pelo silêncio que provoca, mas pela voz que deixa de ecoar. E, infelizmente, a voz do jornalismo angolano já anda embargada há demasiado tempo.

 Para onde vai a diplomacia angolana?


A recente cúpula da Organização para Cooperação de Xangai (OCX), realizada na China, mostrou mais uma vez o isolamento da diplomacia angolana. Nem mesmo o presidente da União Africana — que é angolano — se fez presente. O resultado é um país que gasta muito para se mostrar no exterior, mas colhe pouco em termos de influência internacional.
Uma cúpula de grande relevância realizou-se na China, reunindo inclusive o Secretário-Geral da ONU, líderes de potências emergentes e uma boa parte do mundo que hoje procura reposicionar-se no tabuleiro global. Angola? Mais uma vez ficou à margem. Esta ausência não é apenas um detalhe de agenda, é um sintoma preocupante da fragilidade da nossa política externa.
A OCX, hoje consolidada como contrapeso à hegemonia ocidental, e o grupo dos BRICS, que ganha cada vez mais peso no cenário multipolar, são fóruns de decisão incontornáveis. A ausência de Angola nesses espaços, ou a falta de esforço para neles se inserir, mostra um desalinhamento entre as ambições do país e a prática diplomática efectiva. É como se aceitássemos, sem resistência, a condição de espectadores irrelevantes.
Enquanto isso, o que se observa é uma “diplomacia financeira” do presidente angolano que, quase todas as semanas, organiza viagens internacionais dispendiosas, acompanhadas de delegações numerosas que custam milhões ao erário. O contraste é gritante: gasta-se como potência, mas age-se como um país sem influência. Entre a retórica e a prática, sobra a imagem de um Estado que investe muito em aparência e pouco em resultados concretos.
A grande questão que se impõe é: para onde nos leva esta diplomacia? Se continuarmos a nos ausentar de fóruns estratégicos e a priorizar uma política externa de protocolo e prestígio pessoal, Angola corre o risco de perder espaço político e econômico num mundo em rápida reconfiguração.
Um país com os recursos, a história e a posição geográfica de Angola não pode contentar-se em assistir de fora. O mínimo que se exige é presença, voz e iniciativa. Porque, em diplomacia, ausência não é neutralidade, é renúncia de poder.

 A PREMIAÇÃO DO DEBOCHE

A entrega do galardão dos 50 anos de independência de Angola, está a virar uma verdadeira banalização de um tributo que devia ser tratado com mais critério e seriedade. Em vez de se valorizar a dimensão histórica de meio século de soberania, prefere-se espalhar medalhas e distinções sem rigor, tirando peso e simbolismo ao acto.

Na prática, esses prêmios vão quase sempre parar nas mãos de personalidades já conhecidas, gente com nome feito, artistas, celebridades e figuras mediáticas que já têm a sua fama garantida. Ficam de fora os verdadeiros filhos desta terra, aqueles que, no silêncio e no sacrifício, ajudaram a construir, defender e desenvolver Angola ao longo destas cinco décadas.
Mais grave ainda é ver entre os laureados pastores de reputação duvidosa, políticos e gestores conhecidos por más práticas e transformar os pobres em “ovelhas” submissas, ou simplesmente membros da elite que vivem rodeados de privilégios, sem nunca terem dado nada de relevante ao colectivo nacional. Ao invés de se premiar mérito e serviço à pátria, parece que se premia a proximidade ao poder e o estatuto social.
Enquanto isso, os heróis anónimos continuam esquecidos. Professores, médicos, cientistas, artistas de base, camponeses, militares e tantos outros que lutaram em diferentes frentes pela dignidade do país, não aparecem em nenhuma lista. A eles resta apenas a resignação, como se o seu esforço não tivesse valor na história nacional.
Se a celebração dos 50 anos de independência quer ser um acto sério e respeitado, então é preciso resgatar a justiça histórica. O verdadeiro reconhecimento deve ir para quem ergueu o país com suor, dedicação e sacrifício, mesmo sem fama nem fortuna. Caso contrário, vamos continuar a transformar um momento solene num simples desfile de vaidades das elites.
Eu, estou indignado com este desfile de deboche.

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