sexta-feira, 12 de setembro de 2025

 Para onde vai a diplomacia angolana?


A recente cúpula da Organização para Cooperação de Xangai (OCX), realizada na China, mostrou mais uma vez o isolamento da diplomacia angolana. Nem mesmo o presidente da União Africana — que é angolano — se fez presente. O resultado é um país que gasta muito para se mostrar no exterior, mas colhe pouco em termos de influência internacional.
Uma cúpula de grande relevância realizou-se na China, reunindo inclusive o Secretário-Geral da ONU, líderes de potências emergentes e uma boa parte do mundo que hoje procura reposicionar-se no tabuleiro global. Angola? Mais uma vez ficou à margem. Esta ausência não é apenas um detalhe de agenda, é um sintoma preocupante da fragilidade da nossa política externa.
A OCX, hoje consolidada como contrapeso à hegemonia ocidental, e o grupo dos BRICS, que ganha cada vez mais peso no cenário multipolar, são fóruns de decisão incontornáveis. A ausência de Angola nesses espaços, ou a falta de esforço para neles se inserir, mostra um desalinhamento entre as ambições do país e a prática diplomática efectiva. É como se aceitássemos, sem resistência, a condição de espectadores irrelevantes.
Enquanto isso, o que se observa é uma “diplomacia financeira” do presidente angolano que, quase todas as semanas, organiza viagens internacionais dispendiosas, acompanhadas de delegações numerosas que custam milhões ao erário. O contraste é gritante: gasta-se como potência, mas age-se como um país sem influência. Entre a retórica e a prática, sobra a imagem de um Estado que investe muito em aparência e pouco em resultados concretos.
A grande questão que se impõe é: para onde nos leva esta diplomacia? Se continuarmos a nos ausentar de fóruns estratégicos e a priorizar uma política externa de protocolo e prestígio pessoal, Angola corre o risco de perder espaço político e econômico num mundo em rápida reconfiguração.
Um país com os recursos, a história e a posição geográfica de Angola não pode contentar-se em assistir de fora. O mínimo que se exige é presença, voz e iniciativa. Porque, em diplomacia, ausência não é neutralidade, é renúncia de poder.

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