Greve dos jornalistas em Angola
A anunciada greve dos jornalistas em Angola expõe uma realidade desconfortável: o jornalismo nacional perdeu relevância. Num país onde a emissora pública não é aberta, onde a pluralidade de vozes é abafada e onde a informação serve mais ao poder do que ao cidadão, é legítimo perguntar, que impacto real terá esta paralisação?
O único jornal de circulação nacional há muito deixou de ser uma referência. Com notícias sempre atrasadas em relação às redes sociais, perdeu leitores e credibilidade. As rádios privadas, mesmo que se juntem ao protesto, não têm alcance suficiente para mobilizar a opinião pública. O povo, que se informa cada vez mais por streaming, satélite ou pelas redes digitais, dificilmente sentirá falta da mídia nacional.
É esta a tragédia, uma greve que, em vez de abalar o patronato, pode até deixá-lo descansado. Afinal, quem vai sentir a ausência de uma informação que já era ignorada pela maioria?
A paralisação deveria servir como momento de reflexão profunda. Não basta cruzar os braços por melhores salários ou condições. É preciso reconquistar a confiança da sociedade. O verdadeiro impacto de uma greve jornalística não se mede pelo silêncio que provoca, mas pela voz que deixa de ecoar. E, infelizmente, a voz do jornalismo angolano já anda embargada há demasiado tempo.

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