O Regionalismo interno na UNITA e os seus desafios contemporâneos
Por Artur Cussendala
As eleições internas no XIV congresso da UNITA revelam, em essência, a persistência de uma clivagem histórica dentro do partido, enraizada em rivalidades regionais e identitárias que remontam ao período da sua formação. De um lado, encontram-se os militantes oriundos do Huambo, que sustentam maioritariamente o ex-presidente do partido; do outro, perfila-se o principal desafiante, o filho do líder fundador, cuja base de apoio se concentra, de forma expressiva, entre os militantes provenientes do Bié.
O actual confronto eleitoral dentro do partido, portanto, deve ser compreendido como a expressão contemporânea dessa disputa histórica pelo protagonismo no seio do partido. Trata-se, em última instância, do auge do regionalismo tribal entre ovimbundos e, um fenómeno que fragiliza a coesão partidária e desafia a narrativa de unidade nacional que a UNITA tenta consolidar desde a transição para a democracia multipartidária em 1991.
Do ponto de vista político, tal fragmentação projeta sérias dúvidas quanto à capacidade do partido de gerir, em escala nacional, as complexas diversidades étnicas, regionais e culturais de Angola. A dicotomia entre “huambistas” e “bienos” reflete uma herança que o partido ainda não conseguiu superar desde a era de Savimbi, revelando que a luta pela liderança não é apenas de natureza ideológica ou geracional, mas também simbólica e territorial.
Em última estância, a persistência do regionalismo na UNITA representa um obstáculo estrutural à sua consolidação como força nacional de alternativa ao poder. Enquanto o partido não conseguir ultrapassar a lógica de pertença regional e afirmar um projecto assente em valores programáticos universais como a democracia interna, a meritocracia e a inclusão, continuará vulnerável à fragmentação e ao descrédito.
Mais do que uma disputa entre figuras ou províncias, o actual congresso põe à prova a maturidade política da UNITA e a sua capacidade de se reinventar num contexto nacional cada vez mais exigente. Se prevalecer o espírito de unidade e o sentido de missão nacional, o partido poderá emergir mais coeso e preparado para disputar o poder com legitimidade moral e política. Caso contrário, permanecerá refém das suas próprias contradições históricas e, o sonho de uma oposição forte e estável em Angola continuará adiado.

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