quinta-feira, 14 de agosto de 2025

 O SACO DE KUMBÚ QUE NÃO ME ACHOU


Diz o comunicado do SIC de hoje sobre dois russos que andavam a fazer turismo criminal por Angola:
"Esses cidadãos entregaram avultadas somas de dinheiro, em moeda nacional e estrangeira, a jornalistas, políticos, associações profissionais e produtores de conteúdos digitais para dar suporte à sua acção."
Não sei se essa tal “acção” incluía mísseis, memes ou geopolítica tropical, mas a palavra “avultadas” bateu fundo. E bateu não pelo peso moral, mas pelo peso no bolso… do bolso dos outros, claro.
Sim, eu, produtor de conteúdo digital que acompanha a guerra Rússia–Ucrânia desde o primeiro estrondo e dado a versão russa, fiquei de fora do banquete, não recebi nem um mísero rublo. Zero. Nada. Népia.
Nem uma moeda de chocolate. O saco passou, distribuiu, fez amigos, e eu? Eu fiquei a acenar da berma da estrada, como criança que perdeu o autocarro escolar.
E não venham dizer que foi por prudência legal porque até onde vejo, nenhum dos beneficiados está a refrescar os tornozelos numa cela. Pelo contrário, andam leves, soltos e talvez com a carteira mais gorda.
Resta-me a dúvida existencial: isso foi sorte deles… ou o meu azar é tão grande que nem para suspeito eu sirvo?

 PARA SER SINCERO, ESTOU PREOCUPADO

‎O avanço da Inteligência Artificial e a força crescente das redes sociais no ecossistema informativo de Angola trouxeram um novo dilema político, porém, como equilibrar liberdade de expressão, combate às fake news e defesa da democracia, sem transformar a regulação em instrumento de censura?
‎No último Conselho de Ministros e ontem no Conselho da República, as autoridades demonstraram preocupação com o impacto destas tecnologias na política e na estabilidade social. Tudo indica que, em breve, Angola poderá adotar leis para regular o uso da IA e das plataformas digitais. A justificativa oficial é a protecção contra desinformação, discurso de ódio e manipulação política, mas a experiência histórica do país sugere que este debate não é neutro.
‎Desde a independência, a comunicação de massas em Angola foi estruturada sob forte centralização estatal. Durante o período de partido único, a imprensa pública ( Jornal de Angola, TPA e Rádio Nacional), funcionava como principal canal de informação e como ferramenta de legitimação do poder. Mesmo com a abertura política dos anos 1990, surgiram meios privados, mas as barreiras à independência jornalística mantiveram-se, seja por regulação, seja por pressão política. Com o crescimento da internet e sobretudo, das redes sociais a partir de 2010, o monopólio narrativo do Estado começou a enfraquecer. Plataformas como Facebook e WhatsApp tornaram-se espaços onde cidadãos comuns passaram a divulgar denúncias, mobilizar protestos e desafiar a narrativa oficial, frequentemente antes que a imprensa estatal reagisse. Esse fenómeno ficou visível nas manifestações de jovens activistas, nas eleições de 2017 e 2022 e nas denúncias de corrupção que ganharam repercussão online sem depender do filtro dos media tradicionais.
‎Agora, a Inteligência Artificial adiciona uma nova dimensão ao problema. Ferramentas capazes de gerar imagens, áudios e vídeos falsos com alto realismo, os chamados deepfakes, tornam mais fácil manipular a opinião pública. Num contexto político sensível, é possível criar discursos inteiros de candidatos, provas falsas de crimes ou distorções históricas e disseminá-los em segundos. Este perigo é real e não exclusivo de Angola, mas a resposta regulatória, se mal desenhada, pode ser pior do que o problema. Leis vagas ou excessivamente amplas podem servir para silenciar críticos e criminalizar conteúdos legítimos sob a alegação de serem “falsos” ou “perigosos”.
‎A experiência recente de outros países africanos serve como alerta. Uganda aprovou leis contra “uso indevido das redes sociais” que foram usadas para prender jornalistas e opositores. A Tanzânia obrigou blogueiros e criadores de conteúdo a pagar licenças caras, restringindo vozes independentes. A Zâmbia criminalizou a difusão de “fake news” sem definir critérios claros, permitindo interpretações políticas. Em todos esses casos, a narrativa oficial era “proteger a democracia”, mas o efeito prático foi reforçar o controlo político sobre a esfera digital.
‎O desafio para Angola é evitar que a luta contra a desinformação se torne apenas um pretexto para o reforço do controlo estatal sobre o debate público. É preciso criar mecanismos transparentes, com supervisão independente, que combatam efectivamente a manipulação digital sem sufocar a pluralidade de vozes. A democracia moderna exige que a informação circule livremente, mesmo quando desconfortável ao poder. Redes sociais e Inteligência Artificial são ferramentas poderosas que tanto podem fortalecer a cidadania como ser usadas para controlá-la. O futuro democrático de Angola dependerá de como essas ferramentas serão reguladas e, principalmente, de quem terá a última palavra sobre o que é verdade ou mentira.

 A origem e a chegada da mandioca a Angola e à África


A mandioca (Manihot esculenta) é uma planta de raiz originária da América do Sul tropical, especificamente da
região do sudoeste da Amazónia, hoje abrangendo partes do Brasil, Bolívia e Paraguai. Estudos arqueológicos e análises genéticas mostram que a sua domesticação começou há cerca de 8.000 a 10.000 anos, quando povos indígenas selecionaram variedades silvestres do género Manihot, desenvolvendo métodos para reduzir ou eliminar o ácido cianídrico presente nas variedades bravas.
Muito antes do contacto europeu, a mandioca já se espalhara por várias regiões das Américas através das trocas culturais e comerciais entre povos indígenas. No entanto, foi no século XVI, com as viagens marítimas e o início do comércio atlântico, que a planta atravessou o Atlântico rumo a África.
Os portugueses, estabelecidos no Brasil, reconheceram na mandioca uma cultura extremamente valiosa: resistente à seca, capaz de crescer em solos pobres e produtiva ao longo de todo o ano. Por essas razões, começaram a transportar mudas e estacas a bordo das naus que faziam a rota Brasil–África. Angola foi um dos primeiros pontos de introdução, seguida de outras áreas da costa ocidental africana e, mais tarde, de regiões orientais como Moçambique e até Madagascar.
O impacto foi imediato. Em Angola, o clima tropical e as condições de solo favoreceram o rápido crescimento da mandioca, que logo passou a integrar-se nas práticas agrícolas e alimentares locais. Inicialmente utilizada como “cultura de segurança” para épocas de escassez, tornou-se gradualmente base da dieta, originando pratos como o funge, a farinha de bombó e a mandioca cozida.
Já no século XVIII, cronistas e viajantes europeus que percorreram Angola notaram que a mandioca era tão comum que muitos acreditavam tratar-se de planta nativa africana. Essa percepção ainda hoje é partilhada por comunidades que, ao longo de séculos, incorporaram-na profundamente na sua identidade culinária.
Assim, a mandioca, embora nascida no coração da Amazónia, encontrou em Angola e no restante continente africano um segundo lar, tornando-se elemento essencial para a segurança alimentar e para a cultura gastronómica de milhões de pessoas.

Bibliografia
1. Alves-Pereira, A., Peroni, N., et al. (2018). Domestication and diversification of Manihot esculenta: Insights from phylogeography and ethnobotany. Genetic Resources and Crop Evolution, 65(5), 1377–1390.
2. Olsen, K. M., & Schaal, B. A. (1999). Evidence on the origin of cassava: Phylogeography of Manihot esculenta. Proceedings of the National Academy of Sciences, 96(10), 5586–5591.
3. FAO (Food and Agriculture Organization). (2013). Save and Grow: Cassava – A guide to sustainable production intensification. Rome: FAO.
4. Carter, S. E., Fresco, L. O., Jones, P. G., & Fairbairn, J. N. (1992). An atlas of cassava in Africa. Collaborative Study of Cassava in Africa (COSCA), International Institute of Tropical Agriculture (IITA).
5. Jones, W. O. (1959). Manioc in Africa. Stanford, CA: Stanford University Press.
6. Blench, R. (2010). The diffusion of cassava in Africa: Linguistic and botanical evidence. In From Colonisation to Globalisation: Species Movements in Human History (pp. 93–112).
7. Dias, J. (1986). Plant introductions in Portuguese Africa. Interciencia, 11(6), 291–298.
8. Vansina, J. (1990). Paths in the Rainforests: Toward a History of Political Tradition in Equatorial Africa. Madison: University of Wisconsin Press.

 Entre a memória e a realidade


Quase cinquenta anos se passaram desde que Angola recuperou o direito de ser dona do seu destino.

Para quem nasceu nos anos 2000 ou veio das chamadas “terras livres” jovem e com o intelecto partidarizado, é difícil imaginar a grandeza dos sonhos que acendemos em 1975. Para estes e muitos jovens, as dificuldades e a estagnação de hoje parecem normais, como se sempre tivessem existido. Mas para quem viveu a transição ou seguiu a trajectória, sabe que há uma verdade que não se pode apagar, já houve um tempo em que acreditámos num futuro diferente mesmo com todas as adversidades. A ressalva se faz aos saudosistas e ressabiados que ainda existem entre nós.

Nestes cinquenta anos, errámos. Errámos, sim e alguns erros como a guerra civil, foram graves, com marcas profundas. Mas também fizemos mais pelo nosso povo do que se fez em quase quinhentos anos de colonização. Erguemos infraestruturas colossais, barragens, estradas, pontes e cidades inteiras. Construímos escolas e hospitais. Abrimos espaço para vozes que antes eram silenciadas. Tentámos, mesmo com imperfeições, traçar um caminho pensado por nós e para nós.

Não é esconder as falhas, nem tapar o desastre que hoje vivemos. É lembrar que o único período justo para comparar o presente é a nossa própria independência. O passado colonial não é exemplo; é aviso. E o presente só fará sentido se nunca esquecermos o quanto custou chegar até aqui.

Eu acredito num futuro melhor. Mas esse futuro não cairá do céu. Ele depende de uma juventude que aprenda a pensar e a viver Angola de forma consciente. De uma juventude que perceba que partidos políticos, assim como religiões, muitas vezes não servem para unir, mas para dividir.
O destino do nosso país não será decidido por bandeiras nem por credos. Será decidido pela nossa capacidade de nos unirmos como povo e lutarmos por um propósito maior de fazer de Angola uma terra justa, livre e digna para todos.

E isso… começa agora.
Angola é vossa, nós kotas, estamos próximos do portão de saída.

 Os espantalhos humanos que a UNITA criou e como foi fácil torna-los milicianos digitais.


Durante anos, mantive-me atento, especialmente nas redes sociais, a um fenómeno chocante. Muitos dos chamados “maninhos” escrevem (às vezes até bem) mas é evidente que não sabem ler. Escrevem sem compreender, e entre os que realmente lêem, 1 em 10 não interpretam o que lêem. É alarmante.


A leitura não é apenas juntar letras; é pensar. É construir sentido. Requer vocabulário, memória activa, raciocínio, interpretação. E nada disso se ensina com repetição ou doutrinação.

Na Jamba e nas "terras livres", a UNITA tentou construir um sistema escolar paralelo com 1.000 escolas, 5.000 professores e 200.000 crianças, conforme seus relatórios da época. Mas muitos desses docentes eram sobreviventes do sistema colonial (a maioria com a 4ª classe), enviados ao “mato” para manter a ilusão de autoridade. O ensino era mecânico, ideologizado e desligado da autonomia intelectual.

A educação era usada como propaganda, não como emancipação. Repetição em vez de reflexão. Disciplina em vez de questionamento.

O triste legado é evidente, alfabetizados funcionais que ecoam frases vazias; robôs que repetem cartilha de forma canina. Raciocínio? Raro. Compreensão? Uma miragem. E muitos ainda aplaudem isso como “educação”. Daí o "exército" de milicianos digitais que o actual líder dos "maninhos" de outra escola, conseguiu reunir nas redes sociais para combater tudo e todos que pensem fora da caixa.

PAZ E AMOR

 Vitória com sabor a chá morno


Ontem a nossa selecção ganhou… e foi só isso. Parece que o Pep Clarós trouxe os doze para fazer um piquenique de luxo, porque basquetebol de verdade, vimos pouco.
A defesa até se portou como um aluno aplicado e fez o trabalho de casa, mas sem imaginação. Já no ataque, parecia que a bola tinha medo de circular e o camisola nº 1 um tal de Miguel, estava mais para “estrela de reality show” do que para jogador de equipa.
Contra a Líbia, que no ranking está mais para convidado de festa do que para adversário sério, conseguimos impor algum ritmo. Mas se for para enfrentar tubarões, é melhor começarem a treinar… ou a rezar.
Vitória é vitória, claro. Mas ontem parecia que o marcador final foi um favor, não uma consequência do jogo.

sexta-feira, 8 de agosto de 2025

 Os "imbumbáveis" já esfregavam as mãos


‎Alguns “imbumbáveis”, como eu, ou mesmo empregados mas pertencem ao "verbo encher", já esfregavam as mãos de contentes ao ouvirem rumores de novas paralisações entre 11 e 17 de Agosto. Imaginavam mais umas “mini-férias” forçadas, recheadas de vandalismo, saques e a já habitual circulação de vídeos violentos nas redes sociais, celebrando a morte e o caos como se fossem troféus. Mas ao que parece, a ANATA tirou-lhes o gostinho. Nenhuma paralisação foi oficialmente decretada, e se vier a acontecer, será por conta e risco de quem decidir dar a cara por ela.
‎É importante lembrar e reiterar que o direito à greve e à manifestação está consagrado na Constituição da República de Angola. Greves não são, por si só, crime. São uma forma legítima de reivindicação e eu mesmo já liderei uma quando estava no activo. O problema está no formato como elas têm sido conduzidas: coercivas, violentas e frequentemente manipuladas por interesses obscuros, que vão muito além das legítimas reclamações laborais.
‎A paralisação dos taxistas, por exemplo, pode até ser legal, desde que não impeça o exercício livre de outros motoristas que não aderirem ao protesto. Nenhum cidadão tem o direito de impedir outro de trabalhar, circular ou exercer funções essenciais, como os profissionais de saúde que salvam vidas diariamente nos hospitais. O bloqueio de vias públicas, a destruição de bens e o impedimento do direito de ir e vir são actos criminosos, e devem ser tratados como tal.
Ninguém tem o direito de travar uma ambulância que vai salvar uma vida. Isso devia ser óbvio. Mas parece que, neste país, até o óbvio precisa de ser explicado com desenho.
‎Mais grave ainda é o papel que alguns políticos em especial aqueles que se dizem líderes na oposição e alguns aspirantes a líderes sociais desempenham neste cenário. Incentivam o caos a partir do conforto dos bastidores e muitos a mais de 10 mil quilómetros das nossas fronteiras sem medir as consequências humanas e sociais dos seus discursos inflamados. Muitos pouco se importam se da "confusão" virá desemprego, instabilidade ou mesmo morte. Para eles, o cálculo é puramente político e quanto pior estiver o país, melhor para suas ambições.
‎Portanto, é preciso separar as águas: o direito à manifestação é sagrado, mas não é um salvo-conduto para o crime. O cidadão consciente deve saber quando se está a lutar por justiça e quando está a ser usado como massa de manobra para fins alheios à sua causa.
‎O país não está bom, de facto mas não podemos torná-lo pior.

 OS COBARDES DO EXÍLIO DIGITAL


Há uma categoria curiosa de indivíduos que só encontra coragem para criticar o regime depois de atravessar fronteiras e instalar-se confortavelmente em sofás aquecidos pela comodidade ocidental. Enquanto cá estiveram, silenciaram-se, adaptaram-se e, pior ainda, beneficiaram do sistema que hoje atacam com fúria teatral. Alguns até floresceram nos braços da mídia pública, sendo promovidos, celebrados e sustentados por aquilo que agora classificam como opressivo, corrupto ou retrógrado.
Quem não se lembra, por exemplo, de nomes como Victor Hugo Mendes ou Gilmário Vemba? Personalidades que se tornaram populares com o apoio e visibilidade oferecidos por canais estatais, que hoje vilipendiam sem pudor. Não estamos a falar de jovens desiludidos em busca de liberdade, estamos a falar de pessoas que se empanturraram à mesa do regime e, só depois de saciados, passaram a cuspir no prato onde comeram. Um deles chegou ao ponto de se associar ao Venâncio, que quer ver Angola mergulhada em conflitos como os que varreram Moçambique no pós eleitoral e que já o vivemos e nos deixaram memórias tristes. Falta apenas alinhar-se, mesmo que subtilmente, com outras figuras estrangeiras hostis aos interesses nacionais, como o populista português André Ventura, conhecido pela sua retórica racista e colonialista. Até onde vai a sede de protagonismo?
Essa súbita coragem no exílio não é sinal de consciência crítica, é puro oportunismo. É fácil fazer-se de revolucionário quando se vive longe das consequências. É fácil levantar a voz contra um regime quando se tem gás, internet de alta velocidade e um passaporte carimbado. Difícil mesmo é enfrentar os desafios de cá, conviver com o povo, sentir na pele os dilemas diários e, ainda assim, erguer a voz com lucidez e responsabilidade.
O que esses “combatentes de ocasião” praticam não é activismo, é traição moral. Porque, se de facto queriam mudança, teriam usado os privilégios que tiveram quando cá estavam para promover o debate, formar consciências e propor alternativas. Mas preferiram o silêncio confortável enquanto subiam a escada do sucesso. Agora, no topo e longe, fazem do grito uma fachada.
Não é patriotismo — é cobardia disfarçada de lucidez. Não é crítica construtiva — é revanche de quem perdeu o lugar à mesa.
Qual é a sua opinião?

 O Presidente da República afirmou no seu discurso à Nação, a propósito dos recentes tumultos em Luanda, que o Estado conhece tanto os instigadores internos como os externos. Ora, se de facto os conhece — como afirmou com convicção — o que espanta é a ausência de responsabilização concreta. Afinal, por que razão continuam soltos e impunes aqueles que colocam em risco vidas humanas e o património público e privado?


O pior é que não é a primeira vez. São sempre os mesmos rostos, os mesmos nomes ou estruturas que operam à sombra da legalidade, instigando a violência e a desordem, travestidos de democratas e defensores de causas populares. E o Estado, que diz conhecê-los, parece hesitar sempre na hora de agir. Já o filho do Zé-Povo que na oportunidade pegou um pacote de 'sambapitos' ou um papel higiénico, está detido, a ser julgado, condenado com penas efectivas e outros conheceram a pior situação, despachados para o campo santo.
‎ Fica a pergunta incômoda: existe algum pacto com estes "bandidos de gravata"? Há medo? Há interesses ocultos? Ou estamos perante um jogo político em que se mantém os radicais à solta para que sirvam de válvula de escape controlada, útil para momentos de distração pública ou manobras internas de poder?
‎ O povo, que paga o preço mais alto com sangue, luto e perdas materiais, tem o direito de saber. Ou o Estado age com firmeza e justiça para todos sem selectividade nem compadrio ou a sensação de impunidade só continuará a alimentar a instabilidade.

 O nosso governo é, infelizmente, um caso gritante de má gestão e desorganização. Não é à toa que se ouvem protestos nas ruas: eles são legítimos e merecidos. A máquina do Estado está tão mal calibrada que por exemplo, continua a pagar salários a funcionários públicos que há anos abandonaram as suas funções, muitos deles já nem vivem em Angola. Isso não é apenas descuido, é um insulto aos que continuam a trabalhar com dedicação e aos milhões que vivem em dificuldades.

Eu Vivo no município do Camama, mas, pasme-se, para resolver uma simples questão de faturação da energia eléctrica, sou obrigado a deslocar-me até à Ilha do Cabo. Isto, num tempo em que o governo fala de "serviços digitais" e "proximidade com o cidadão". Que proximidade é essa que exige travessias pela cidade inteira para resolver algo básico?
Os meus camaradas do MPLA que me perdoem, mas o partido precisa urgentemente de passar uma temporada na oposição, nem que seja por uma legislatura. Talvez fora do poder tenham a oportunidade de reflectir, reorganizar-se e, quem sabe, reaprender a ouvir o povo. O país não pode continuar a ser gerido por quem se recusa a reconhecer seus próprios erros.
Muitos só não votam contra, porque o opositor se chama UNITA e de triste memória.


 UNITA - o culto à personalidade mudou de rosto?

Será impressão minha, ou a UNITA, outrora firme no culto à personalidade de Jonas Malheiro Savimbi está, aos poucos, a livrar-se dessa herança simbólica? Ontem, 3 de Agosto, assinalou-se mais um aniversário natalício do líder fundador, mas estranhamente, a data passou quase despercebida. Rodei pela cidade e, ao contrário dos anos anteriores, não vi qualquer acto simbólico, mensagem pública de vulto ou mobilização visível em homenagem ao homem de Muangai. Nenhum cartaz, nenhuma nota de imprensa que fizesse jus ao peso histórico da figura que moldou, para o bem e para o mal, a UNITA moderna.
Curiosamente, a UNITA parece ter encontrado um novo centro gravitacional em torno do seu actual presidente, Adalberto Costa Júnior. A sua data de nascimento é agora celebrada com destaque, e a máquina partidária não poupa esforços em transformá-lo num ícone do presente. O culto à personalidade permanece — apenas mudou de rosto.
O que se passa? A UNITA decidiu, estrategicamente ou por conveniência, virar a página de Savimbi? Ou é esta uma tentativa de reescrever a sua narrativa histórica, suavizando os traços do passado para se reposicionar no presente político nacional?
E até o símbolo maior da UNITA, o galo negro, parece estar a ser esvaziado de sentido. Com excepção da bandeira, que ainda resiste, o galo desapareceu do marketing, dos discursos e dos palanques, ele deixou de voar. Estarão à espera da próxima reforma estatutária para o pintar de vermelho, branco ou outra cor mais "moderna"? O símbolo já não canta como antes. Talvez o silêncio do galo seja reflexo da tentativa de enterrar uma parte da identidade que ainda divide opiniões.
Se a UNITA quer evoluir, tudo bem. Mas apagar ou negligenciar a figura de Savimbi sem uma reflexão profunda e pública, levanta questões sérias sobre coerência histórica, fidelidade às origens e respeito pela sua própria génese. Savimbi pode ser controverso, mas é inegavelmente o alicerce da organização. O que é a UNITA sem Muangai?
Esquecer o passado para parecer mais "palatável" ao presente é um erro perigoso. Uma força política que apaga selectivamente a sua memória pode estar a comprometer a sua própria legitimidade. Afinal, quem se esquece das suas raízes corre o risco de se tornar uma sombra de si mesma.

quinta-feira, 24 de julho de 2025

Aos que me acusam de ter ouvido e interpretado mal o Presidente da República no meu texto anterior, cá vai a prova:

“Porque não podemos deixar que o país fique nas mãos de um qualquer”.

Está certíssimo, senhor Presidente. Ninguém quer ver o país entregue ao acaso ou à irresponsabilidade. Mas num Estado constitucionalmente democrático, onde o poder emana do povo e é exercido através do voto livre, como se fará essa "engenharia" para impedir que “um qualquer” chegue ao poder?
Quem decidirá quem é “um qualquer”? O voto popular, ou uma elite iluminada?
É exactamente para evitar essas ambiguidades que existem eleições. Ou vamos, enfim, admitir que o jogo democrático está a ser manipulado?

  O SACO DE KUMBÚ QUE NÃO ME ACHOU Diz o comunicado do SIC de hoje sobre dois russos que andavam a fazer turismo criminal por Angola: "...