quarta-feira, 9 de agosto de 2023

PROJECTO LIBOLO


Estive em Calulo, Libolo, a terra que me viu nascer, como congressista convidado ao Congresso Internacional Linguístico (20° Conferência Anual da ACBLPE, IX Encontro Internacional do GELIC, 2° Jornadas Internacionais Científico Pedagógica do do ISPTLO e 8° Encontro Internacional do Projecto Libolo).


O congresso de Calulo Libolo, que decorreu com sucesso, de 25 a 28 de Julho de 2023, contou com a participação de 17 países, entre eles Portugal, Angola, Macau, Hong Kong, Senegal, Holanda, França, Brasil, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos da América, Finlândia, Alemanha, Itália, Cabo Verde, e teve a participação de várias renomadas figuras do mundo académico e não só, que prestigiaram o referido evento, com destaque para o General Francisco Higino Lopes Carneiro que é o patrono do Projeto Libolo, o renomado Professor Dr Alberto Oliveira Pinto, o escritor Jacques Arlindo dos Santos do Chá de Caxinde, o Dr Eurico Gungula reitor da universidade Óscar Ribas, o escritor e investigador de história Luciano Canhanga, o engenheiro eletrônico e telecomunicações Artur Cussendala ( Cusse Ndala), o académico Afonso Miguel entre outros importantes intervenientes do mundo do saber e da ciência.
Aproveitou-se a oportunidade para se fazer o lançamento da primeira pedra do Museu do Libolo e Centro Internacional de Pesquisas e Humanidades, pela Dra Ana Maria Isaac Carneiro. A planta museológica foi apresentada pelo famoso e renomado Arquitecto Troufa Real que foi um dos convidados do congresso.
Entre as várias recomendações, os participantes apelaram que as variedades de português não devem constituir barreiras para aproximação dos povos e nações falantes do idioma de Camões.
A recomendação resulta do factor português ter diferentes variedades, mediante os países falantes, em função da influência das línguas maternas. Os investigadores, que pertencem a várias universidades representadas no encontro, foram unânimes em reconhecer que a língua portuguesa apresenta diversas variações, dadas as dificuldades derivadas em termos de expressão e de concordância.
A Organização que merece nota máxima, foi coordenada pelo Professor Dr Carlos Figueiredo, professor da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade de Macau, na China, e a Professora Dra Marcia Oliveira, professora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, em coordenação com o ISPTLO-Instituto Superior Politécnico do Libolo presidido pelo competente Professor Dr Octávio Spínola o seu vice-presidente Domingos Lunga.
O congresso foi um grande sucesso, tendo sido indicado por unanimidade, a Cidade de S.Tome para acolher a 22ª conferência Anual da Associação do Crioulos, no próximo ano 2024.

Por: Eduardo Cussendala

terça-feira, 12 de novembro de 2019

É HISTÓRIA, NÃO ACEITEM ESTORINHAS
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"Em finais de Janeiro de 1975 toma posse perante o Alto Comissário Gen. Silva Cardoso o governo de Transição com pastas distribuídas pelos três movimentos e por Portugal, não fazendo Portugal parte do Colégio Presidencial (Lopo do Nascimento/Johny Eduardo Pinóqui/N’Dele). As reuniões do Governo de Transição tornam-se palco de permanentes agressões verbais, quando não de tentativas de agressão física. [11]
A situação interna não cessa de se deteriorar, chegando-se a uma situação de guerra aberta entre o MPLA e a FNLA que entra no limiar da guerra civil no interior da cidade de Luanda.
As forças militares mistas como embrião do exército nacional angolano previstas no Acordo do Alvor, não avançam dada a situação de confronto permanente entre os Movimentos apesar dos esforços da parte portuguesa.
A atitude de “neutralidade passiva” do Alto Comissário, pelo menos no que às atitudes inconvenientes da FNLA que violavam o Acordo de Alvor, o que provocava um confronto permanente entre o MFA de Angola e o Alto Comissário.
Proibição de entrada de forças militares em Luanda não respeitada pela FNLA e MPLA que continuam a introduzir na capital homens e armamento que serve para o confronto urbano.
Em finais de Abril o MFA de Angola elabora um estudo de situação que envia para o Conselho de Revolução que se tinha institucionalizado em Portugal depois do golpe do 11 de Março, no qual apresenta os principais problemas com que a descolonização de Angola se debate:
◦Governo de Transição paralisado;
◦Forças militares mistas não avançam [12] . Presume-se mesmo a presença de militares zairenses entre os elementos da FNLA, falando apenas o francês;
◦Constantes violações do Acordo do Alvor por parte dos movimentos;
◦Incapacidade anímica do Alto Comissário português para dominar a situação;
O MFA de Angola já então designado por CCPA [13] , propõe:
◦A “neutralidade activa” [14] por contraponto à “neutralidade passiva” do Alto Comissário;
◦A aliança MPLA/UNITA para se poder recuperar o essencial do Alvor, face à auto-marginalização da FNLA. Esta proposta não foi em frente porque o MPLA a recusou à partida;
◦A substituição do A. C. que se distanciava cada vez mais da CCPA;
◦O reforço do papel do MFA só possível com a sua institucionalização como acontecera em Portugal com o C. R.;
Estava bem delineada a confrontação para a conquista do poder. Os confrontos MPLA/FNLA agravavam-se em Luanda e alastraram a outros distritos.
De novo o MFA de Angola vem a Portugal em finais de Maio expor a gravidade da situação, sugerindo a necessidade de uma nova cimeira, para a qual o MPLA e a UNITA não se opunham totalmente. Este Movimento ocupava uma posição fortalecida em Nova Lisboa, endurecendo o seu discurso contra Portugal.
Os três movimentos encontram-se em Nakuru entre 16/21 de Junho, sem a presença de representante português, em princípio o Alto Comissário, em clara violação dos Acordos do Alvor. O comunicado final, «...omite, ostensivamente qualquer referência a Portugal, mas tinha aspectos positivos nomeadamente uma análise da situação que podia ser encarada, sem esforço, como uma séria autocrítica e que nos seus pontos fundamentais coincidia com os estudos que a CCPA vinha fazendo [15] .
Embora este Acordo de Nakuru declarasse que os três presidentes «...afirmam solenemente renunciar ao uso da força como meio de solucionar os problemas e honrar os compromissos resultantes do Acordo...» [16] , os resultados práticos foram nulos e caminhava-se para a guerra civil generalizada.
O MPLA lança a batalha de Luanda para expulsar a FNLA da capital, o que consegue. A FNLA, de acordo com Pezarat Correia, «tinha concentrado no Norte um forte exército, já com unidades do tipo convencional incluindo algumas forças do exército regular zairense, e inicia uma manobra para sul cujo objectivo é a ocupação de Luanda» [17] , ocupando nos finais de Julho os distritos do Zaire e do Uíge. A UNITA domina o planalto central expulsando as forças do MPLA e da FNLA dos distritos do Huambo e do Bié.
É a escalda da guerra civil com os movimentos a ocuparem partes do território, o que podia conduzir à balcanização de Angola. As forças militares portuguesas ainda espalhadas pelo território foram concentradas nas principais cidades para evitar serem envolvidas nos conflitos entre movimentos e em relação a Luanda é dada ordem de impedir qualquer tentativa de entrada da FNLA na capital. Ao pedido da parte portuguesa a Lisboa de reforço de meios, apenas é disponibilizada uma companhia de pára-quedistas (cerca de 120 homens).
Portugal vivia um processo complicado e era difícil, sobretudo os partidos políticos colocarem nas suas listas de prioridade o problema de Angola. Não dava votos. É o Presidente da República que assume o controlo mais directo do processo, para o que sentiu a necessidade de criar junto a si um Gabinete de Angola a fim de ter uma ligação mais directa com Luanda e ter disponível informação em tempo oportuno. Eu vim integrar esse Gabinete como elemento ligado ao processo desde o princípio e conhecedor da situação que se vivia em Angola (finais de Junho de 1975) onde, juntamente com o Cor. Passos Ramos que como elemento da Comissão Nacional de Descolonização estivera no Alvor, passámos a assessorar o P.R. no que à descolonização de Angola dizia respeito.
Em 30 de Julho o Alto Comissário, General Silva Cardoso, demite-se sendo substituído pelo Almirante Leonel Cardoso. Perante o não funcionamento dos órgãos previstos no Acordo do Alvor e a permanente violação do acordado, Portugal decide suspender parcialmente o Acordo de Alvor, o que levantou delicados problemas em termos de direito internacional, tendo sido incumbidos de estudar uma solução jurídica para o assunto a Professora Magalhães Colaço da Faculdade de Direito de Lisboa e o Dr. Miguel Galvão Teles. Entretanto no território, verifica-se a internacionalização do conflito: Zaire, África do Sul e Cuba intervêm em apoio aos diferentes movimentos
Em vésperas da independência estava iminente o ataque a Luanda em duas frentes. Mas o MPLA/Cubanos resistiram e a capital permaneceu em poder do MPLA graças à destruição da ponte sobre o rio Queve que deteve a coluna que se aproximava de sudeste e da coluna do FNLA, integrando mercenários portugueses, ter sido derrotada na batalha do Kifandongo. [18]
Em reunião da Comissão Nacional de Descolonização de dia 09 de Novembro é decidido o envio de uma Delegação a Luanda em representação de Portugal no momento da declaração de independência de Angola, chefiada pelo Almirante Victor Crespo e na qual eu me integrava. Por decisão do Governo foi travada a ida dessa delegação a Luanda, pelo que a independência da República Popular de Angola foi proclamada sem a presença de qualquer representante da antiga potência colonizadora, Portugal.
A 10 de Novembro, pelas dezoito horas, o Alto Comissário leu uma proclamação em nome da República Portuguesa, reconhecendo a independência do Estado Angolano e a entrega da soberania ao povo angolano a quem compete decidir das formas do exercício da soberania, após o que a última bandeira portuguesa símbolo da soberania portuguesa em África foi arriada e o Alto Comissário e comitiva embarcaram numa fragata da Marinha de Guerra Portuguesa [19] . Às zero horas de dia 11 de Novembro de 1975 estava fora das águas territoriais angolanas, navegando rumo a Portugal, enquanto o Dr. Agostinho Neto proclamava solenemente a República Popular de Angola, enquanto a FNLA e A UNITA proclamavam no Uíge e no Huambo a República Democrática de Angola, sem sucesso.
Foi a única ex-colónia onde se proclamou a independência sem a presença de representantes oficiais de Portugal. Lamento o que considero um grave erro histórico que teve consequências no relacionamento entre os dois países, vindo Portugal a ser o 83.º país a reconhecer, tardiamente, o país independente que nascera da sua antiga colónia. "
A VELHA QUESTÃO QUEM COMEÇOU COM A GUERRA EM 1975.
BREVE CRONOLOGIA DE ANGOLA
1483 – Portugal faz exploração ao longo da costa angolana.
1575 – Portugal inicia tráfico de escravos.
1900-1932 – Conquistadas três tribos significativas, mas todas resistem à consolidação da dominação portuguesa.
BAKONGO – Norte de Angola
KIMBUNDU – Norte e Centro de Angola (Luanda)
OVIMBUNDU – Centro de Angola (50% do total da população de Angola)
MOVIMENTOS NACIONALISTAS DE ANGOLA
HOLDEN ROBERTO, Presidente da FNLA ou Frente Nacional-1961, o mais violento. Com sede no Zaire. Contactos esporádicos com a CIA.
AGOSTINHO NETO, intelectual marxista, Presidente do MPLA-Movimento Popular; melhor organização política. Os guerrilheiros combatiam a partir da base da Zâmbia e do Congo (Brazazaville). Auxilio esporádico da União Soviética.
JONAS SAVIMBI, Presidente da UNITA-1966. Com sede na Zâmbia. Dirigiu pessoalmente a luta de guerrilha desde 1967. Doze oficiais treinados por Norte-Coreanos.
1961 – Tem inicio uma guerra de guerrilha prolongada, desencadeada separadamente por cada um dos três movimentos, combatidos pelo exército português que utilizava armas da NATO fornecidas pelos Estados Unidos.
1969 – NSSM 39 (Relatório “Tar Baby”-de Kissinger)
1973-1974 – A FNLA aceita fornecimento avultado de armas e conselheiros da China e a UNITA recebe armas também da China.
Abril 1974 – O exército português, cansado de guerras coloniais, assume o governo de Portugal.
Maio 1974 – 112 conselheiros chineses juntam-se à FNLA no Zaire. A China envia um carregamento de 450 toneladas de armas para a FNLA.
7 de Julho de 1974 – A CIA inicia secretamente o financiamento de Roberto (não aprovado pela Comissão dos 40) e faz démarches em Washington para obter apoio para a FNLA.
Agosto de 1974 – Os soviéticos reagem às iniciativas da China e dos Estados Unidos anunciando apoio moral ao MPLA.
Fins de 1974 – Os soviéticos começaram a enviar pequenas quantidades de armas para o MPLA via Congo (Brazzaville).
15 de Janeiro de 1975 – No acordo do Alvor os três movimentos de libertação concordam numa competição pacífica, sob a supervisão dos Portugueses, para eleições e independência marcadas para 11 de
Novembro de 1975.
26 de Janeiro de 1975 – A Comissão dos 40 aprova 300.000 dólares para Roberto.
Fevereiro de 1975 – A FNLA destrói a perspectiva de uma solução pacífica atacando o MPLA em Luanda e no Norte de Angola.
Março de 1975 – Os soviéticos respondem intensificando os carregamentos de armas para o MPLA. Conselheiros soviéticos e cubanos vão para Angola.
Julho de 1975 – A Comissão dos 40 aprova um programa paramilitar de 14 milhões de dólares para apoiar a FNLA e a UNITA contra o MPLA.
O MPLA expulsa a FNLA e a UNITA de Luanda.
Os Estados Unidos ignoram os apelos do Senegal para uma mediação por parte das Nações Unidas ou da Organização da Unidade Africana.
Os carregamentos de armas da CIA começam a entrar em Angola via aeroporto de Kinshasa.
As unidades blindadas do exército zairense juntam-se à FNLA e à UNITA em Angola.
Agosto de 1975 – A força da FNLA ameaça Luanda.
A CIA mente ao Congresso dos Estados Unidos sobre entrega de armas a Angola e utilização de conselheiros americanos.
O Subsecretário de Estado para os Assuntos Africanos dos Estados Unidos, demite-se como protesto pela intervenção paramilitar dos Estados Unidos.
Princípios de Setembro de 1975 – O MPLA retoma a iniciativa. Realiza uma conferência de imprensa alargada para mostrar armas norte-americanas que têm rótulos de embarque recentes da Força Aérea dos Estados Unidos.
Meados de Setembro de 1975 – O exército do Zaire compromete dois batalhões para-comandos.
Setembro de 1975 – A CIA inicia uma política de fornecimento de informação tendenciosa à imprensa dos Estados Unidos. A Agência desencoraja a discussão para uma solução pacífica entre a UNITA e o MPLA. O Departamento de Estado rejeita a abertura do MPLA para negociações.
Outubro de 1975 – Cuba começa a introduzir unidades do exército regular em Angola.
Uma coluna blindada secreta sul-africana junta-se à UNITA e dirige-se para o Norte. Colaboração entre a África do Sul e a CIA no terreno.
11 de Novembro de 1975 – Independência de Angola, proclamada pelo Presidente Agostinho Neto, em nome do Comité Central do MPLA. ESTAVA CRIADA A REPUBLICA POPULAR DE ANGOLA.
12 de Novembro de 1975 – O MPLA e os cubanos destroem e desmoralizam o exército da FNLA e do Zaire no Norte de Luanda.
Novembro de 1975 – A CIA inicia o recrutamento de mercenários em França.
Dezembro de 1975 – A CIA inicia o recrutamento de 300 mercenários portugueses.
Novembro-Dezembro de 1975 – A CIA continua a mentir ao Congresso sobre as armas e conselheiros utilizados em Angola; a Administração perde a batalha para o apoio do Congresso.
Janeiro de 1976 Retirada dos sul-africanos.
Janeiro-Fevereiro de 1976 – Um numeroso exército de cubanos e do MPLA, com aviões a jacto, helicópteros e armamento pesado esmaga a FNLA e a UNITA.
Abril de 1976 – Remunerações da CIA: 3,85 milhões de dólares dados às pessoas que apoiaram o programa.
Junho de 1976 – A CIA começa a atribuir condecorações e louvores a mais de uma centena dos seus homens comprometidos com o programa para Angola.
(J. Stockwell / 1979)

terça-feira, 26 de março de 2019




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23 DE MARÇO - DIA DA LIBERTAÇÃO DA ÁFRICA AUSTRAL.
SABIA QUÊ?

Capítulo 8
A ÚLTIMA BATALHA QUENTE DA GUERRA FRIA — ASSALTO FINAL AO TRIÂNGULO DO TUMPO



A batalha do rio Lomba seria apenas o preâmbulo para a batalha do Cuíto Cuanavale, que teria início em Novembro de 1987. Recorde-se que o Cuíto Cuanavale era o ponto mais avançado, dentro do teatro operacional das FAPLA, para levar a cabo acções contra a direcção político-militar da UNITA, no extremo sudeste da província do Cuando Cubango onde, na verdade, estava o seu bastião.  Deste modo, portanto, para as FAPLA, Cuíto Cuanavale representava um ponto estratégico, pelo que era necessário garantir a sua defesa, reforçando-a com outras unidades para não correr o risco de perda daquele reduto. Acresce que as SADF atacariam ainda as três brigadas das FAPLA que se defendiam a leste do rio Chambinga.
Logo no início do mês, chegava a Luanda, proveniente de Cuba, o general de Divisão, Arnaldo Tomás «Ochoa» Sánchez, num momento particularmente crítico devido à crescente investida sul-africana e ao perigo de que a concentração de tropas angolanas no Cuíto Cuanavale fosse penosa e provocasse o seu aniquilamento . A 7 de Novembro, as 16.ª, 21.ª, 25.ª e 59.ª Brigadas das FAPLA e o remanescente da 47.ª Brigada, que se encontravam a norte do rio Lomba, retirar-se-iam para a confluência do rio Cunzumbia.
Dois dias depois, tropas sul-africanas, numa composição de três mil homens, equipadas com cerca de 500 tanques e blindados, centenas de canhões e outras armas pesadas, constituídas pelo 4.º Batalhão de Infantaria, 61.º Batalhão de Infantaria Motorizada com três companhias, um esquadrão de tanques Olifant, uma bateria de canhões G-5 (oito peças), uma secção de canhões G-6 (três peças) e ainda um grupo de lança-roquetes múltiplos Valkyrie, os Shindungus, dois grupos mecanizados de combate, e a Task Force Delta, unidade de reconhecimento, informação e infiltração, aviação e vários batalhões da UNITA , atacavam a 16.ª Brigada das FAPLA na zona da nascente do Chambinga, com o objectivo de a aniquilar e de emboscar o caminho pelo qual deveriam retirar as 21.ª e 59.ª Brigadas. As tropas angolanas estavam em clara desvantagem, quer em termos de efectivos como de meios, numa proporção de um para quatro. Não obstante, os efectivos da 16.ª Brigada batiam-se corajosamente e conseguiam escapar à aniquilação , tendo retirado, de forma organizada, para o outro lado do rio. Este combate de tanques seria anunciado pelos estrategas sul-africanos como a primeira batalha intertanques desde a Segunda Guerra Mundial. As FAPLA perdiam cerca de meia dúzia de tanques e três eram capturados, várias peças de artilharia eram destruídas ou capturadas e houve pesadas baixas. Os sul-africanos registavam sete mortos e nove feridos, além de um veículo blindado destruído, outro danificado e de um tanque inutilizado . Este combate de tanques decepcionaria os sul-africanos que passaram a aviltar a manobrabilidade dos seus tanques Olifant, julgados como melhores do que aqueles empregues pelas FAPLA. Diziam mesmo que os tanques das FAPLA estavam mais agressivos e rápidos do que antes. Começava a desenhar-se o desespero.
A 11 de Novembro, não tendo conseguido desalojar a 16.ª Brigada da área sul da nascente do rio Chambinga, uma força sul-africana e de guerrilheiros da UNITA, reforçada com tanques, voltava a atacar um batalhão daquela brigada e o 1.º Grupo Táctico, sitos na zona da nascente do rio Hube. No confronto, as FAPLA tiveram consideráveis baixas em homens e 14 tanques, contra cinco mortos e 19 feridos, dois veículos blindados destruídos, três peças de artilharia antiaérea contra dois Ratel e um tanque danificado do lado sul-africano . Entre 13 e 17 de Novembro, as forças sul-africanas da 20.ª Brigada atacavam a 21.ª Brigada das FAPLA a sul do rio Hube, tendo as forças governamentais perdido cerca de sete T-55, um BTR-60, dois BM-21 e quatro camiões, além de pesadas baixas humanas .
 Face à gravidade da situação no teatro de guerra, que exigia grandes esforços para reforçar as tropas angolanas que se batiam corajosamente e resistiam, nomeadamente para impedir que as tropas sul-africanas e da UNITA ocupassem o Cuíto Cuanavale, pelas repercussões político-militares que acarretaria, a liderança cubana resolvia, a 15 de Novembro, dar uma resposta muito significativa à solicitação angolana. Antevendo o aniquilamento das melhores brigadas das FAPLA e de forma a manter a segurança das suas tropas no Sudoeste de Angola (Huíla e Namibe), Fidel Castro decidia reforçar o contingente militar cubano em Angola e aplicar uma nova concepção militar adequada, acreditando ser fundamental combinar a táctica defensiva com a estratégia ofensiva; por outras palavras, o ataque decisivo deveria ser buscado por meio do envolvimento de mais forças e meios.
Fidel Castro decidia, então, enviar mais 15 mil homens para Angola, seleccionados no seio da Brigada Baraguá, da 50.ª Divisão das Forças Armadas Revolucionárias, equipados com tanques soviéticos T-62, do Regimento Plaza, assim como uma brigada de foguetes de defesa antiaérea autopropulsada e um grupo de pilotos de combate experientes na pilotagem de aviões MiG-23, a fim de permitir a superioridade aérea angolano-cubana. A União Soviética enviava para as FAPLA e para as tropas cubanas novos lotes de armas, peças e munições, descarregados no Porto do Lobito. Era o início da «Operação Manobra XXXI Aniversário das Forças Armadas Revolucionárias» . 
    O número de tropas cubanas em Angola ultrapassava agora os 50 mil homens; começava a grande batalha pela liberdade. Cuba preparava-se para cumprir com alguns fins políticos que prosseguia, tanto pela guerra quanto pela via diplomática. As tropas cubanas estavam prontas para permanecer em Angola até à vitória final sobre o regime do apartheid, sem cuja liquidação era impossível resolver os demais problemas que se viviam na África Austral . Fidel Castro tinha consciência de que uma vitória sul-africana, para além da captura do Cuíto Cuanavale e da destruição das melhores brigadas angolanas, equivalia, muito provavelmente, ao fim da existência de Angola «de facto» como um país independente. O plano cubano era claro: resistir, reforçar e contra-atacar; o objectivo almejado era conseguir uma saída honrosa de Angola e continuar a hastear a «bandeira do internacionalismo». Os custos do envolvimento cubano eram demasiado altos e, por isso, corria o risco de sofrer uma enorme humilhação . Por isso, o líder cubano optava por entrar na ofensiva militar, até porque sabia que a única maneira de forçar a África do Sul a concordar com uma solução política era intensificar a pressão militar sobre ela. Por outro lado, o futuro político de Fidel Castro dependia do resultado da campanha militar do Cuíto Cuanavale, já que a sua sobrevivência já não parecia ser uma das preocupações de Moscovo . Como os soviéticos não possuíam um plano de acção para pôr cobro aos problemas criados pela ofensiva militar, os cubanos, que até então tinham uma posição secundária na ofensiva, tomaram as rédeas e decidiam-se pela escalada do conflito .
A 16 de Novembro, as FAPLA travavam o avanço das tropas sul-africanas e da UNITA a apenas 10-20 quilómetros do Cuíto Cuanavale. O 1.º Grupo Táctico e dois batalhões da 16.ª Brigada das FAPLA desdobravam-se para oeste e ocupavam posições nas redondezas das pontes do rio Chambinga. Enquanto isso, a 21.ª Brigada e os batalhões das 66.ª e 59.ª Brigadas eram atacados no sudoeste da nascente do rio Hube. Desenrolava-se um violento combate, ainda assim, as FAPLA voltavam a escapar à aniquilação das suas brigadas.
Ofensivas de ambos os lados sucediam-se e fracassavam. A 17 de Novembro, o 2.º Grupo Táctico e dois batalhões da 16.ª Brigada e, depois, a 21.ª Brigada e um batalhão da 25.ª Brigada, por altura da travessia do rio Chambinga, confrontavam-se com as tropas sul-africanas. Nesse combate, as FAPLA tiveram pesadas baixas (cerca de 131 mortos), sete T-55, um BTR-60, dois BM-21 e quatro camiões, contra seis baixas, 19 feridos e quatro veículos blindados das SADF .  Os combates para a defesa da área, entre as nascentes dos rios Chambinga e Hube, continuavam por mais de sete dias, até que as tropas governamentais angolanas retirar-se-iam para além do rio Chambinga, travando combates durante a travessia do rio. As FAPLA ocupariam posições mais vantajosas nas elevações entre o rio Chambinga e Cuatir-II, dando cobertura à base logística do Tumpo  e à ponte sobre o rio Cuíto. As forças sul-africanas continuavam a sua operação com o objectivo de atravessar o rio Chambinga, fustigando o dispositivo das forças das FAPLA, de forma a expulsá-lo do Cuíto Cuanavale.
A 18 de Novembro, a chefia das SADF, nomeadamente os generais Johannes Jacobus Geldenhuys «Jannie», chefe do Estado-Maior General, Andreas Liebenberg, chefe do Estado-Maior do Exército, Neil Van Tonder, chefe do Serviço de Inteligência, reuniam para analisar as opções disponíveis, sempre orientados pelo objectivo de obter uma vitória decisiva sobre as brigadas angolanas envolvidas nas acções combativas naquela frente. As suas forças continuavam o avanço para o rio Cuíto e obrigavam as FAPLA a cruzá-lo, tomar o Cuíto Cuanavale a partir do ocidente e asfixiar as brigadas que se encontravam a leste do rio, o que facilitaria a sua total destruição; tudo isto antes do término da operação. Os sul-africanos tinham plena consciência de que não seria uma missão fácil aniquilar as brigadas das FAPLA, que eram muito melhores na defensiva do que na ofensiva e que, em muitas ocasiões, já tinham comprovado serem mais compactas e competentes.
A 20 de Novembro, chegava a Luanda os primeiros pilotos de combate cubanos e, três dias depois, zarpava de Cuba o primeiro de vários barcos transportando o armamento necessário para o reforço, enquanto do aeroporto de Havana saíam 20 aeronaves com o seu respectivo pessoal .
Entre 25 e 26 de Novembro, as tropas das SADF, com o envolvimento de tropas da UNITA, desencadeavam aquele que pensavam ser o «assalto final» contra as unidades das FAPLA, tendo empregado o 61.º Batalhão Mecanizado, equipado com veículos blindados Cassper e Ratel-90, o 4.º Batalhão de Infantaria e o 32.º Batalhão Búfalo. As FAPLA sofriam algumas baixas, mas mantinham o moral combativo e psicológico nas suas posições em torno do Cuíto Cuanavale e resistiam; se perdessem o Cuíto Cuanavale, o posto avançado mais próximo seria Menongue, a 400 quilómetros de Mavinga e a 500 quilómetros da Jamba. Até ao final do mês, a operação seguiu o seu curso normal; as FAPLA atingiam as margens do rio Lomba, a pouco menos de 24 quilómetros da sede municipal de Mavinga, causando pesadas baixas às tropas de Jonas Savimbi. Seria o último combate da «Operação Moduler», pese embora ainda que nos dias a seguir se tivessem registado alguns confrontos. Era pelo menos isso que indiciava o bombardeamento maciço do Cuíto Cuanavale com artilharia de longo alcance G-5 e G-6, a fim de manter sitiados os soldados das FAPLA, enquanto o Governo sul-africano reavaliava as suas opções políticas . Apesar das baixas humanas e materiais sofridos durante a batalha , as brigadas das FAPLA mantinham as suas posições em torno do Cuíto Cuanavale .
A 25 de Novembro, as SADF concluíam a «Operação Moduler» que servia de polígono de teste da bomba teleguiada KentronH2. Passavam para uma nova fase. Apesar de terem alcançado alguns dos seus objectivos, como conter o avanço das FAPLA contra a UNITA e infligir-lhes pesadas baixas, os sul-africanos não conseguiam atravessar o rio Chambinga e expulsar as FAPLA do Cuíto Cuanavale. As brigadas angolanas mantinham a capacidade de resposta e isto provava que tinha falhado o seu principal objectivo: aniquilar as unidades das FAPLA. Nesse mesmo dia, no auge da maior e mais decisiva batalha, o general Jannie Geldenhuys anunciava que as suas tropas tinham começado a retirar de Angola .
Jonas Savimbi pressionava os generais do alto comando sul-africano para que lhe entregassem Cuíto Cuanavale como troféu. Ele tinha na Jamba dezenas de jornalistas à espera de avançarem para a vila. Os políticos portugueses esperavam ansiosamente as imagens dos guerrilheiros da UNITA a erguerem as armas no ar, dentro da vila. Era o pretexto que lhes faltava para ignorarem o Governo angolano e promoverem, finalmente, a Angola do Sul.
Em Dezembro, os sul-africanos enviavam para a refrega o 32.º Batalhão Búfalo, então estacionado na região namibiana do Rundu, em apoio das tropas de Jonas Savimbi em debandada. Apesar do seu forte poderio militar, com material de guerra de última geração, incluindo equipamentos electrónicos de visão nocturna, o batalhão encontrava uma forte resistência por parte das FAPLA. Para contornar esta contrariedade, o contingente seria reforçado por dois esquadrões dos Regimentos President Steyn e Molopo, equipados com os sofisticados canhões de longo alcance G-5 e G-6, tanques e carros blindados, assim com esquadrilhas de aviões de combate e veículos aéreos remotamente pilotados, carregados de bombas . Face a esta superioridade numérica e tecnológica das forças sul-africanas, que viam o seu leque reforçado ainda com 23 batalhões semi-irregulares da UNITA e 18 comandos regulares que Jonas Savimbi movimentava de outras regiões do país, as FAPLA iniciavam de forma organizada a sua retirada para o Cuíto Cuanavale, de onde tinham partido, e criavam uma forte defesa para conter o avanço das tropas sul-africanas e da UNITA.
Animados com o recuo estratégico das FAPLA, Jonas Savimbi e o ministro sul-africano da Defesa, Magnus André de Merindol Malan, enviavam mais tropas para as linhas de combate e traçavam como primeiro objectivo a tomada do Cuíto Cuanavale, a partir de onde pensavam criar um corredor até Luanda, tomando por caminho as províncias do Bié, Huambo, Benguela e Cuanza-Sul. Neste contexto, a 12 de Dezembro, as tropas sul-africanas estacionadas a leste do Cuíto Cuanavale recebiam a comunicação de que a «Operação Moduler» tinha terminado e que uma nova fase estaria prestes a ter início. Por essa altura, antes mesmo do início da nova operação, o general Andreas Liebenberg, chefe do Estado-Maior do Exército mandava avançar para o rio Chambinga o Regimento de Reconhecimento Pretória equipado com os tanques Oliphant que estavam estacionados em Mavinga, muito longe do teatro de operações.
A 13 de Dezembro, as SADF desencadeavam a «Operação Hooper», cujo objectivo era criar uma nova situação que impedisse as FAPLA de realizar nova ofensiva em 1988. Isso passava, nomeadamente, por aniquilar as forças das FAPLA a leste do Cuíto ou expulsá-las da sua margem ocidental, infligir-lhe pesadas baixas, limitar as acções da aviação angolana a partir de Menongue e dificultar o movimento logístico, desferir golpes contra a base aérea do Cuíto Cuanavale e torná-la inoperativa e, por fim, tomar de assalto a localidade do Cuíto Cuanavale. Disparavam sobre o Triângulo do Tumpo com os seus canhões G-5, a aviação com aviões Mirage bombardeava a base aérea do Cuíto Cuanavale e sobre a ponte do Cuíto. As chefias militares das SADF no terreno de guerra e algumas fontes militares sul-africanas e diplomáticas ocidentais asseguravam que a queda do Cuíto Cuanavale estava iminente e que constituiria um golpe demolidor para o Governo angolano. Esse esforço de guerra exigia os maiores combates, tendo as SADF enviado para a frente de batalha mais cerca de seis mil homens das suas melhores unidades, nomeadamente o 32.º Batalhão, o 61.º Batalhão Mecanizado, a 20.ª Brigada, a 82.ª Brigada de Infantaria Motorizada, liderados pelos melhores comandantes operacionais, que já tinham participado em acções de combate em Angola, em 1975. Era também mobilizada a sua melhor aviação, a sua melhor técnica blindada e a sua mais moderna e poderosa artilharia G-5 e G-6, assim como os mísseis antiaéreos Stinger. Praticamente, era o tudo ou nada.
A 19 de Dezembro, as SADF movimentavam de Mavinga o seu 61.º Batalhão Mecanizado, e a 21 do mesmo mês, a artilharia antiaérea movia-se para o Triângulo do Tumpo. E como se não bastasse, de 22 para 23 de Dezembro, o alto-comando sul-africano ordenava ao 4.º SAI que avançasse de Mavinga para o Triângulo do Tumpo. Os Ratel ficaram enterrados no terreno pantanoso.
A 25 de Dezembro de 1987, as tropas das SADF efectuavam um intenso bombardeamento de G-5 contra a ponte sobre o rio Cuíto, danificando-a parcialmente. No entanto, as SADF eram informadas por um posto de observação de que a ponte estava a ser novamente utilizada por veículos das FAPLA.
Os sapadores das FAPLA tentaram reforçar a ponte, através do desdobramento de uma ponte «TMM», na parte mais danificada. Mas a TMM caía ao rio e teve de ser recuperada rapidamente para evitar que a ponte ficasse intransitável e se registasse uma concentração de veículos que daria oportunidade à artilharia sul-africana de flagelar no dia seguinte.
Durante todo o dia 26 de Dezembro, a ponte sobre o rio Cuíto era atingida com cerca de 48 projécteis de G-5. Mas, no dia 27 de Dezembro, chegavam más notícias para as SADF, pois as FAPLA tinham conseguido reparar a ponte sobre o rio Cuíto a um nível suficiente para ser usada novamente na travessia de camiões pesados e de tanques. Isto significava que as FAPLA eram capazes de continuar a reorganização e o reforço das brigadas estacionadas a leste do Cuíto e que batalhavam com bravura pela defesa da integridade territorial e da soberania do país.
Os flagelamentos não produziam os efeitos esperados pelas SADF, o que lhes criava uma enorme aflição que se viria a reflectir na derrota final. Com a ponte do rio Cuíto novamente transitável, os canhões G-5 das SADF concentravam-se sobre ela ao longo do dia 27 de Dezembro. Os canhões continuavam a desferir golpes contra o tráfego que se fazia sobre a ponte.
Um equilíbrio de forças no teatro operacional começava a estabelecer-se em finais de Dezembro, com a chegada ao Cuíto Cuanavale de pequenos grupos de militares cubanos para assessorar as brigadas das FAPLA situadas na localidade e nos seus arredores, assim como a leste do rio Cuíto. Uma parte dos cubanos integrava as dotações mistas com as tropas das FAPLA, em tanques e artilharia, para optimizar o seu emprego. Era, assim, incrementada a capacidade de resistência e de combate das brigadas angolanas, o que seria decisivo para o aumento da estabilidade da defensiva. Nesta fase de guerra, as repercussões da situação do país sobre a economia estavam cálculados aproximadamente em 12 mil milhões de dólares, mais de 600 mil pessoas deslocadas, 50 mil refugiados, 60 mil mortos e um número elevado de multilados . Terminava assim o ano de 1987. O seguinte seria decisivo para todas as forças em contenda.
Para viabilizar a economia de mercado e contribuir assim para a melhoria do nível de vida das populações, na sequência inevitável da apresentação do SEF como programa, de forma a corrigir os desequilíbrios económicos e financeiros do país, o Governo angolano transformava o primeiro ano desta fase em «1988 — Ano I do Saneamento Económico e Financeiro», enquanto a UNITA proclamava «1988 — Ano da Reafirmação Política para o Triunfo da Revolução».
Logo no dia 1 de Janeiro de 1988, as tropas de Jonas Savimbi, apoiadas pela artilharia sul-africana, atacavam as posições da 21.ª Brigada das FAPLA a leste do Cuíto Cuanavale . Nos dias subsequentes, as forças sul-africanas, com o apoio da aviação, fustigavam as posições das forças angolanas, lançando diariamente 100 a 120 projécteis de artilharia de diferentes calibres, realizavam ataques terrestres limitados às unidades das FAPLA e empenhavam-se especialmente na destruição da ponte sobre o rio Cuíto. Neste último domínio, no dia 3 de Janeiro, aviões não tripulados da SAAF levantavam da base aérea de Grootfontein, na Namíbia, com a missão de destruir a referida ponte, de forma a isolar o agrupamento defensivo das FAPLA e asfixiar as brigadas que defendiam a região leste do rio, para depois as aniquilar separadamente . A intenção das forças sul-africanas era a de colocar a UNITA no Cuíto Cuanavale entre os dias 2 e 5 de Janeiro, mas não conseguiram atingir o objectivo traçado. A 5 de Janeiro, a 13.ª Brigada das FAPLA encontrava-se entrincheirada a ocidente do rio Cuíto, visando proteger a população em caso de ataque das forças sul-africanas através do rio; as 66.ª e 16.ª Brigadas, que se encontravam entrincheiradas entre o pequeno rio Dala e o grande rio Chambinga, cruzavam a ponte com mais 11 tanques. Mais a leste, estavam as 21.ª, 25.ª e 59.ª Brigadas, que formavam o perímetro defensivo irregular numa distância de 17 quilómetros do norte ao sul do bordo ocidental da grande altura de Chambinga; a 25.ª Brigada encontrava-se abaixo, a 59.ª Brigada ao centro e a 21.ª Brigada a sul do rio Cuatir. Esta última era eleita pelos sul-africanos como a primeira a ser destruída. Deveria ser atacada a partir do leste, só que as forças sul-africanas moviam-se a sul e procuravam eliminar a 59.ª Brigada a partir do norte. A 9 de Janeiro, a ponte sobre o rio era destruída; mas depressa as FAPLA construíam uma outra ponte, de madeira, apelidada «Pátria ou Morte».
Face a todas estas movimentações, as SADF concentravam todo o esforço na aniquilação das posições das FAPLA a leste do rio e na exploração de toda a frente, sem que as FAPLA pudessem precisar a direcção principal do ataque. No entanto, as tropas sul-africanas iniciavam o ataque com fogo de artilharia e com o apoio da aviação contra as 21.ª e 59.ª Brigadas. A 21.ª Brigada resistia e realizava um contra-ataque, com êxito, contra o 3.º Batalhão de Tanques; buscava, todavia, a reorganização para a resistência e recuperava as posições ocupadas pelos sul-africanos. Nessa área foi, entretanto, descoberta uma concentração de carros blindados sul-africanos, tendo a aviação angolano-cubana assestado golpes demolidores e decisivos no inimigo; os sul-africanos retiravam-se.
Foi com esse propósito que, entre 13 e 14 de Janeiro de 1988, a África do Sul se via obrigada a reforçar o seu contingente na frente de batalha. A tomada do Cuíto Cuanavale apresentava-se difícil e só seria possível, no entender da chefia sul-africana, através de um ataque frontal, mas reclamaria um elevado preço em vidas humanas para o qual o Governo sul-africano não havia preparado a sua gente. No primeiro dia, os sul-africanos, com uma força que integrava o 4.º Batalhão reforçado de infantaria, o 61.º Batalhão Mecanizado, dois esquadrões de tanques, seis batalhões da UNITA, apoiada pela artilharia e pela aviação de combate , atacavam violentamente as posições intercaladas entre as 21.ª e 59.ª Brigadas das FAPLA, penetravam em profundidade e chegavam à retaguarda da 59.ª Brigada, que combatia em condições difíceis de semicerco contra forças superiores. Um pequeno contra-ataque com sete tanques evitou a destruição destas brigadas, mas perdeu seis deles num combate desigual contra 40 blindados sul-africanos. A 59.ª Brigada reagrupa-se e contra-ataca, chegando a penetrar na linha sul-africana; envolvia-se num combate entre tanques, perdendo mais sete. Perante a situação no terreno, o comando das FAPLA decidia agrupar as suas tropas para as novas posições, visando diminuir o perímetro defensivo e melhorar o sistema de fogo e os campos de minas. A 14 de Janeiro, era decidido o envio de um batalhão de tanques, artilharia e outras armas, para a frente do Cuíto Cuanavale  e, dois dias depois, ocupavam posições a 25 quilómetros a oeste da povoação do Cuíto Cuanavale. As brigadas das FAPLA resistiam estoicamente, apesar da persistência das tropas sul-africanas e da UNITA no seu aniquilamento. Neste desígnio, a 19 de Janeiro, as forças de Jonas Savimbi, apoiadas pela artilharia sul-africana, realizavam um novo ataque — improdutivo — contra as posições da 25.ª Brigada, a leste do Cuíto Cuanavale. No dia seguinte, partia da Jamba Mineira (Huíla) para Menongue o 2.º Grupo Táctico da 60.ª Brigada de Tanques cubana, o qual se transladava até à povoação do Longa (120 quilómetros a oeste do Cuíto Cuanavale), onde se mantinham posicionados até ao final da batalha. Entretanto, no dia 24, para compensar todo o desgaste provocado pelo constante fustigamento da artilharia sul-africana, a 21.ª Brigada das FAPLA era reforçada por dois batalhões da 8.ª Brigada e recuperava as suas posições anteriores .
Em finais de Janeiro, chegavam ao território angolano cerca de sete mil soldados cubanos, incluindo unidades da 50.ª Divisão das Forças Armadas Revolucionárias de Cuba, equipadas com cerca de 150 modernos tanques T-62, dezenas de carros blindados, meios de artilharia e de comunicações, os seus melhores aviões com os seus experientes pilotos, sete sofisticados grupos de combate antiaéreos e outros meios, para reforçar as tropas angolanas e de formas a impedir o avanço das tropas inimigas que se encontrava a lutar no Cuíto Cuanavale, na frente sudeste  .
A 5 de Fevereiro, aterrava novamente em Angola o general de Divisão, Arnaldo Tomás «Ochoa» Sánchez. Regressava de Havana, onde discutira a situação do Cuíto Cuanavale com a direcção política cubana, ficando rapidamente a comandar os cerca de mais 50 mil cubanos estacionados em território angolano, com ordens para proceder a um reajuste imediato da linha a leste do rio Cuíto, onde se esperava o golpe principal das forças sul-africanas e da UNITA, com brechas de cinco quilómetros entre cada brigada. O movimento do cerco da UNITA e da África do Sul tentava destruir em Fevereiro as três brigadas angolanas.
Até 9 de Fevereiro, a situação no terreno permanecia estacionária, apesar de as forças sul-africanas continuarem a fustigar violentamente com fogo de artilharia e bombardeamentos aéreos as posições das FAPLA a leste do Cuíto Cuanavale.
    Vivia-se um clima de grande efervescência militar no teatro de guerra. A 13 de Fevereiro, o 32.º Batalhão Búfalo lançava um ataque com fogo de artilharia contra o aeroporto de Menongue e inaugurava-se a ofensiva sobre o Cuíto Cuanavale. Começava o movimento com a artilharia a fustigar a 59.ª Brigada das FAPLA, ao mesmo tempo que dois batalhões semi-regulares da UNITA atacavam, a partir do nordeste, os postos avançados da 21.ª Brigada. Presumia-se que esta fosse o alvo principal, pelo que parte da 59.ª Brigada avançava em sua ajuda. No dia seguinte, falhado o aniquilamento da 21.ª Brigada, as tropas sul-africanas e da UNITA, apoiadas pela artilharia de longo alcance e aviões de combate, atacavam as posições defensivas da 59.ª Brigada a leste do Cuíto Cuanavale. Ainda assim, os sul-africanos rompiam a linha e conseguiam cruzar a brecha de cinco quilómetros entre a 21.ª e a 59.ª Brigadas, ficando em posição de alcançar a ponte e cortar a retirada das forças governamentais angolanas. Introduziam no teatro operacional mais de 100 tanques, veículos blindados e aviação , envolvendo o 61.º Batalhão de Infantaria e mais quatro batalhões de infantaria constituídos por elementos da força paramilitar Koevoet e da UNITA. Mas as brigadas das FAPLA não só continuavam a resistir, como, com parte da reserva que se encontrava no Tumpo, contra-atacavam com infantaria e tanques, com dotações mistas angolano-cubanas. Isso deu-lhes tempo para restabelecer uma posição defensiva. Neste quadro, travar-se-iam combates sangrentos e desiguais entre os tanques Olifant sul-africanos e os T-55 angolanos. As tropas angolanas, apoiadas pela aviação de combate, resistiam e impunham aos sul-africanos quatro baixas, sete feridos e diverso material de guerra danificado. As FAPLA, que causavam também pesadas baixas à UNITA, perdiam centenas de homens, 17 tanques e 18 outros veículos destruídos. Num novo ataque à 59.ª Brigada, as tropas sul-africanas e da UNITA eram novamente obrigadas a recuar.
A combinação do uso extensivo de minas terrestres em torno da ponte sobre o rio Tumpo com ataques aéreos da aviação angolana revelaria ser uma boa táctica contra o avanço das SADF, que já tinham os tanques Olifant no terreno. Ainda assim, Pretória não desistia e um novo ataque era planeado ainda no mês de Fevereiro. Entretanto, problemas técnicos nos seus blindados deixava-lhes em posição desvantajosa no combate, forçando novamente a sua retirada . Enquanto isto, a SAAF procedia a bombardeamentos de apoio táctico contra o Longa, o Baixo-Longa e o Cuíto Cuanavale, bombardeando também as cidades de Ondjiva e Lubango, assim como as povoações no troço Ondjiva-Môngua e Ondjiva-Tchamutete (Cassinga), na província do Cunene, tendo perdido dois Mirages.
A 16 de Fevereiro, as 21.ª e 59.ª Brigadas das FAPLA seguiam em direcção ao Cuíto Cuanavale. Mas duas unidades mantinham-se para lá da margem leste do rio Cuíto, no Triângulo do Tumpo. Os sul-africanos estavam convencidos de que o Tumpo era a chave da batalha. Se o tomassem de assalto, o Cuíto Cuanavale caía de imediato. A 20.ª Brigada sul-africana e as tropas de Jonas Savimbi recebiam a missão de destruir as brigadas das FAPLA no Triângulo do Tumpo ou obrigá-las a retirar através do rio Cuíto.  Os sul-africanos e a UNITA marcavam o 25 de Fevereiro como o ataque final ao Triângulo do Tumpo.
O Triângulo do Tumpo começava a ser o «túmulo» do apartheid. Era preciso as FAPLA defenderem, a todo custo, a aldeia de Samaria, à porta do Triângulo do Tumpo, a cabeça-de-ponte, a ponte sobre o rio Cuíto e a vila do Cuíto Cuanavale, cuja base aérea tinha uma parelha de Su-22, duas parelhas de MiG 23, duas parelhas de Mi-25 e uma parelha de Mi-17 .
Face à persistência dos ataques sul-africanos, as FAPLA decidiam retirar as suas brigadas sitiadas, que ocupavam as suas posições a oito quilómetros do rio Cuíto. Mas o regime racista sul-africano insistia nos seus ataques e, a 19 de Fevereiro, a sua artilharia fustigava fortemente as brigadas das FAPLA que estavam a leste do Cuíto e na área da ponte. Porém, a aviação angolano-cubana bombardeava as posições sul-africanas, que eram também flageladas pela artilharia das FAPLA.
No entanto, a ponte sobrevivera e continuava por concretizar o objectivo de aniquilar as forças governamentais na margem leste do rio, o que determinava o prosseguimento dos bombardeamentos. No dia 20, os sul-africanos atacavam pelo flanco direito onde se encontrava a 59.ª Brigada e a sua aviação bombardeava as posições da 36.ª Brigada, a uns 10 quilómetros a norte do Cuíto Cuanavale, assim como um grupo táctico das tropas cubanas que se encontrava no Longa. Ainda no mesmo dia, atacavam a 25.ª Brigada e a sua aviação golpeava a 66.ª Brigada, a oeste do rio Cuíto. A aviação angolano-cubana também procurava castigar as posições sul-africanas, mas com pouca eficácia.
Entretanto, em razão da forte resistência das FAPLA às continuadas investidas das SADF, o Cuíto Cuanavale tornava-se um símbolo; era defendido até ao «último homem» ou até a «última gota de sangue». Todos os protagonistas do conflito estavam conscientes de que, no dia em que fosse abandonado, o Cuíto Cuanavale tornar-se-ia a Dien Bien Phu angolana . Dien Bien Phu é uma localidade do Vietname onde grandes forças do exército colonial francês foram cercadas, em 1954, pelos guerrilheiros vietnamitas durante a guerra de libertação. Após grandes batalhas, a localidade foi ocupada, tendo os franceses sofrido milhares de baixas, entre mortos, feridos e prisioneiros, incluindo vários generais. A derrota significou o dobre de finados do colonialismo francês na Indochina, que viria a abandonar a área em Julho do mesmo ano, após negociações em Genebra. O sentimento de humilhação nacional francesa, particularmente agudo dentro do exército, teve repercussões duradouras sobre a opinião pública francesa e contribuiu, juntamente com eventos posteriores na Argélia, para a queda da 4.ª República, em 1958.
Ainda entre os dias 19 e 20 de Fevereiro, as forças sul-africanas desencadeavam uma forte ofensiva terrestre, apoiada pela aviação. O ataque seria rechaçado pelas FAPLA com o apoio da aviação e infligia pesadas baixas a um agrupamento sul-africano de tanques e carros blindados . A aviação sul-africana respondia, desferindo golpes em diferentes direcções e atacando o aeroporto do Lubango com Mirage.
A 23 de Fevereiro, as brigadas das FAPLA eram intensamente flageladas. Os sul-africanos preconizavam ataques com quatro colunas (dois batalhões mecanizados sul-africanos com infantaria namibiana e outros dois da UNITA). Primeiro tentavam pelo flanco direito e fracassavam; reagrupavam e golpeavam pelo flanco esquerdo. Aqui caíam nos densos campos minados e, com o fogo da artilharia, eram dizimados quando tentaram abrir fogo de tiro directo contra os tanques angolanos. Os sul-africanos perdiam três tanques Olifant e vários carros blindados.
A 25 de Fevereiro, as tropas da UNITA e da África do Sul, novamente pela frente leste do Cuíto, atacavam violentamente as posições de defesa abandonadas anteriormente pelas 25.ª e 59.ª Brigadas e caíam em campos minados, avançando desordenadamente. Nesta acção, as forças conjugadas sul-africanas e da UNITA, empregavam mais de 100 carros blindados, com o apoio reforçado do 61.º Batalhão Mecanizado, do 32.º Batalhão, de dois esquadrões de tanques, de uma companhia de infantaria mecanizada, de dois grupos antitanques, de três batalhões da UNITA, da artilharia de longo alcance e da aviação de combate. Devido a problemas ligados à limpeza dos campos minados e a falhas mecânicas num vasto número de Rateis e de tanques Olifant, as SADF não concretizavam os seus objectivos, a saber, a destruição da 25.ª Brigada e a demolição da ponte sobre o rio Cuíto. A UNITA passava ocupar as antigas posições da 25.ª Brigada e as SADF retiravam-se. Seria a última acção combativa vigorosa que as forças conjugadas sul-africanas e da UNITA levariam a cabo contra o Cuíto Cuanavale.
Mas, ainda assim, os sul-africanos não desarmavam. A 29 de Fevereiro, a SAAF voltava a bombardear a cidade do Lubango e as suas unidades de reconhecimento penetravam em profundidade na província do Cunene, precisamente nas localidades de Cafima, Evale e Mupa. Ainda nesse dia, as tropas das SADF que incluíam o 61.º Batalhão Mecanizado, um esquadrão de tanques, duas companhias do regimento Molopo, o Batalhão 32.º, uma secção de engenharia e os 3.º e 5.º Batalhões regulares da UNITA lançavam um ataque ao Triângulo do Tumpo e atacavam a 25.ª Brigada das FAPLA. As tropas governamentais angolanas resistiam heroicamente. As minas não convencionais da engenharia militar das FAPLA causavam estragos irremediáveis aos blindados Ratel e Olifant sul-africanos. Muitos meios das SADF ficavam fora de combate porque se enterravam nos pântanos.
Na noite de 29 Fevereiro para 1 de Março de 1988, durante o segundo ataque ao Tumpo, as forças das SADF decidiam lançar um assalto com tanques contra a ponte. O novo ataque que seria planeado era para ser executado em cinco fases, do reconhecimento à destruição da ponte e retirada.
A força principal para este ataque incluía o 61.º Batalhão Mecanizado, de Mike Muller, célebre derrotado daquela que viria a ser a «Batalha do Cuíto Cuanavale». As FAPLA mantinham a sua testa-de-ponte no planalto oriental. Contas feitas, no final de Fevereiro, a África do Sul averbava já três derrotas seguidas nas batalhas do rio Tumpo, testemunhando a eficácia do plano defensivo das FAPLA. O Estado-Maior das SADF apercebia-se de que a tomada do Cuíto Cuanavale exigia um ataque frontal maciço de infantaria, com um elevado preço em vidas humanas ; preço este que nem Pretória nem Washington estavam preparados para pagar.
Nos três primeiros dias de Março, lançavam outro ataque, desta vez a partir do flanco esquerdo da 25.ª Brigada, a leste do Cuíto Cuanavale. Tal como noutras situações da guerra, a defesa tinha as suas vantagens. O contingente sul-africano caía em campos minados e era submetido a um intenso fogo de artilharia, de tanques e da aviação, sendo obrigado a retirar-se sem conseguir atingir o bordo dianteiro da defesa das FAPLA. No dia 4, a 80.ª Brigada das SADF começava a substituir a 20.ª Brigada a leste do rio Cuíto; concluía-se a «Operação Hooper» . Entretanto, chegavam a Angola, como parte do reforço cubano, cerca de nove mil homens, mais de 200 tanques, uns 100 carros blindados e 10 grupos de mísseis antiaéreos e outros tipos de armamentos, acrescidos, pouco tempo depois, de seis mil homens, mais de 100 tanques, dezenas de carros blindados, seis grupos de mísseis antiaéreos e uma esquadrilha de caças-bombardeiros MiG-23, entre outros meios .
A 6 de Março, as forças cubanas, a par das três brigadas das FAPLA, começavam a avançar para sul pelo flanco ocidental da frente. Com o reforço que tinha chegado de Cuba e parte das tropas que já se encontrava em Angola, criava-se um poderoso agrupamento no terreno; a correlação de forças no Sudoeste alterava-se a favor do lado angolano-cubano. Um importante ponto de viragem tinha, pois, lugar no teatro de guerra. Começara a mais importante de todas as operações estratégicas, ainda que as tropas sul-africanas continuassem os sucessivos ataques contra Cuíto Cuanavale.
A 8 de Março, as unidades das FAPLA que se encontravam na zona do planalto oriental estavam a ser reabastecidas através da ponte. Os sul-africanos tinham o objectivo de destruir as unidades das FAPLA a leste do Cuíto ou obrigá-las a atravessar o rio e assim que a testa-de-ponte fosse tomada, a ponte seria destruída, mas o propósito não seria concretizado. Para além de não ter tomado a testa-de-ponte, as forças das SADF não conseguiam destruir a ponte. A ponte do rio Cuíto Cuanavale em Cuíto era considerada pelo comando militar sul-africano como um elemento vital para o apoio logístico das FAPLA a leste do rio. Os aviões de combate Mirage F-1AZ e Buccaneer realizavam vários ataques contra a ponte, mas não conseguiram destruí-la.
A 9 de Março, a aviação angolano-cubana bombardeava as linhas de abastecimento das SADF em torno do rio Lomba; este era o caminho utilizado para mover a sua logística de Mavinga para as suas posições a leste do terreno elevado de Chambinga. Enquanto isto, um grupo táctico da 40.ª Brigada de Tanques cubana manobrava do Lubango para Tchibemba e de Tchibemba para Cahama, onde se encontrava a 2.ª Brigada de Infantaria Motorizada das FAPLA e uma brigada de mísseis antiaérea autopropulsada com três baterias de mísseis das FAPLA. Também manobrava um grupo táctico da 60.ª Brigada de Tanques da Jamba para Tchamutete. Com as tropas cubanas também manobravam consideráveis forças das FAPLA e da SWAPO. A 11 de Março, a 40.ª Brigada de Tanques era movimentada para Tchibemba com o objectivo de reforçar Cahama, Xangongo, Mupa e Cuvelai. Acreditando que podiam constituir uma ameaça para os pontos estratégicos sul-africanos, os cubanos transladavam parte da aviação de combate, radares e meios de defesa antiaérea, o que levaria à construção e ampliação dos aeródromos fortificados da Cahama (seria utilizada, meses depois, em tribunal militar cubano contra o general Arnaldo «Ochoa») e Xangongo. Os sul-africanos não tinham previsto que a aviação angolana e cubana dispusesse de uma infra-estrutura tão perto da fronteira em tão curto espaço de tempo. As unidades avançadas foram para sul até Chipa, a cerca de 50 quilómetros a norte de Calueque .
Entre 11 e 12 de Março, a 80.ª Brigada de Tanques desdobrava-se de Caluquembe para Caconda e um grupo táctico da 40.ª Brigada de Tanques que se encontrava em Tchibemba movimentava-se para Humbe , sem poder juntar-se à 19.ª Brigada de Infantaria das FAPLA, estacionada nos arredores de Xangongo, porque a ponte sobre o rio Cunene fora destruída pelos sul-africanos. À medida que as tropas angolano-cubanas se movimentavam no terreno, as forças sul-africanas viam os seus planos e esperanças frustrarem-se.
    Importa sublinhar que, o então o ministro da Defesa de Angola, o coronel-general Pedro Maria Tonha «Pedalé», ordenava que os chefes das direcções do Estado-Maior General das FAPLA que tinham participado na «Operação Saudemos Outubro», permanecessem na frente do Cuíto Cuanavale, de forma a elevarem o moral combativo das tropas que resistiam destemidamente quanto possível. Destacavam-se para o grupo operativo o então major-general Roberto Leal Monteiro «Ngongo», os tenentes-coronéis Agostinho Fernandes Nelumba «Sanjar», chefe-adjunto das Operações do Estado-Maior General, Mário Plácido Cirilo de Sá «Ita», chefe da Direcção de Reconhecimento do Estado-Maior General, Pedro Sebastião, chefe-adjunto da Direcção Política Nacional, Farel Van-Dúnem, chefe da Direcção de Artilharia do Estado-Maior General, António Azevedo, chefe da Direcção de Defesa Antiaérea do Estado-Maior General, Hélder Cruz, chefe da Direcção de Engenharia do Estado-Maior General, major António José da Silva Melo «Kilucha», chefe da Direcção de Tanques e Transportes e o major Francisco Lopes Gonçalves Afonso «Hanga», substituto do comandante da FAPA/DAA para a aviação. Mais tarde, surgia também o coronel António Egídio Sousa Santos «Disciplina», chefe da Direcção Política da 5.ª Região Militar. De igual maneira, o ministro da Defesa de Angola também decidia que alguns oficiais superiores das FAPLA, que se encontravam a frequentar cursos de formação militar no país e no exterior, com real destaque para o então coronel Mateus Miguel Ângelo «Vietname», que se encontrava na União Soviética, em Moscovo, a frequentar o curso de comando táctico e direcção, na academia militar Michail Vassilievich Frunze, regressasse ao país e de imediato era enviado para a frente de combate no Cuíto Cuanavale, onde viria a assumir o comando directo das forças angolanas no teatro de operações. Comandava a frente do Cuíto Cuanavale o chefe do Estado-Maior General das FAPLA, o general António dos Santos França «Ndalu».
    Para quebrar a heróica resistência das tropas das FAPLA, os sul-africanos lançavam a «Operação Packer», que se desenrolaria entre 12 de Março e 30 de Abril de 1988, para tomarem Cuíto Cuanavale com reforços de tropas e com novos equipamentos. Sendo, de certa forma, um prolongamento da «Operação Hooper», que tinha falhado ao não conseguir uma vez mais aniquilar as unidades das FAPLA (quantas vez seriam necessárias para aniquilá-las?), o seu objectivo era passar à ofensiva e, uma vez mais, aniquilar as brigadas das FAPLA que ainda permaneciam na margem leste do rio, que se julgava já não constituir uma ameaça para a UNITA no Sudeste.
    A operação realizada pela 82.ª Brigada cujas tropas tinham feito os seus treinos em Bloemfontein (actualmente também conhecida como Mangaung), entre 10 e 26 de Fevereiro, tinha no seu dispositivo dois esquadrões de tanques do Regimento President Steyn, um esquadrão de carros blindados do Regimento Mooi Rivier, dois batalhões de infantaria mecanizada do Regimento de la Rey e do Regimento Groot Karoo e o 32.º Batalhão Búfalo. A artilharia incluía duas baterias do Regimento Potchefstroom University (cada uma delas com G-5 e G-6), uma bateria de morteiros de 120 mm da 44.ª Brigada de Pára-quedistas e uma secção do dispositivo de lançamento de foguetes múltiplos do 19.º Regimento de Foguetes, além de subunidades de apoio, incluindo duas secções do Regimento Ligeiro de Defesa Antiaérea, seis secções do 13.º Regimento de Engenharia de Campo e cinco equipas do 4.º Batalhão de Reconhecimento.
A UNITA envolvia nesta operação cerca de 18 mil homens distribuídos pelos seus 3.º, 4.º, 5.º, 6.º e 7.º Batalhões regulares, o 18.º e o 118.º Batalhões semi-regulares no flanco oriental e o 66.º e o 75.º Batalhões semi-regulares no flanco ocidental. Incluía também tropas de infantaria, comandos, artilharia e peças de defesa antiaérea, além dos célebres Stinger, de elevada eficácia.
    Atacariam Cuíto Cuanavale pelo norte para forçar as FAPLA a passarem para o lado leste do rio. A partir das posições sul-africanas (a uns 25 quilómetros a leste do Cuíto Cuanavale), incluindo as elevações de Chambinga, a artilharia G-5 e G-6 recebia a missão de perseguir as FAPLA até a ribeira oeste do rio Cuíto. Estava também prevista a tomada do Cuíto Cuanavale, donde seriam lançados ataques contra Menongue, para posteriormente se proceder à ocupação militar de todo o Centro e o Sul de Angola e à reocupação parcial do Caminho-de-Ferro de Benguela, permitindo um melhor reabastecimento da guerrilha no Planalto Central e consolidar as posições no Norte da Namíbia . Um último objectivo era reduzir o mais possível a capacidade táctico-operacional e o moral combativo das FAPLA e apoiar as suas forças e da UNITA, que avançavam em direcção ao Cuíto Cuanavale.
Com o decorrer do tempo, as tropas angolanas e cubanas realizavam outras movimentações. Nos arredores de Tchamutete, estava o grupo táctico da 60.ª Brigada cubana e as unidades da 35.ª Brigada de Infantaria Motorizada das FAPLA, que movimentavam de Tchamutete para Cuvelai, enquanto dois grupos tácticos da 50.ª Brigada manobravam da Matala para Mulongo e depois para Mucope. Estava, assim, reforçado o eixo Xangongo/Humbe/Mucope. A certa altura, chegavam a Cahama as últimas unidades da 80.ª Brigada de Tanques e a brigada de mísseis antiaérea autopropulsada cubana. Era evidente que algo não funcionava em pleno nos serviços de inteligência sul-africanos, pois as forças angolanas movimentavam-se do flanco ocidental da frente sul, estacionando quatro brigadas de tanques ao longo da fronteira com a Namíbia, estando as suas unidades avançadas estacionadas em Xangongo, a cerca de 80 quilómetros da fronteira.
Os sul-africanos não estavam conscientes da alteração da correlação de forças no teatro de guerra suscitada pelos movimentos e desdobramento das forças angolanas e cubanas. Estavam apenas empenhados em atacar o Cuíto Cuanavale e era sob esse signo que aprovaram um novo plano de ataque à localidade.
A 21 de Março, a artilharia e a aviação sul-africanas, já sem a sua supremacia aérea sobre a região do Cuíto Cuanavale, ainda procuravam vigorosamente fustigar as posições da 25.ª Brigada a leste do rio, enquanto as tropas da UNITA atacavam a 36.ª Brigada, que se encontrava estacionada a 12 quilómetros a norte do Cuíto, o batalhão da 13.ª Brigada, estacionada a sul do Cuíto Cuanavale, na região das confluências dos rios Cuíto e Mianei, assim como o flanco direito da 25.ª Brigada. Todos os ataques eram rechaçados. No dia seguinte, 22 de Março, o bombardeamento das posições angolanas era retomado, com maior intensidade. As tropas da UNITA atacavam o batalhão da 13.ª Brigada das FAPLA que se encontrava a sul do Cuíto Cuanavale, na região da confluência dos rios Cuíto e Mianei, enquanto uma outra força procedia a um ataque contra o flanco direito da 25.ª Brigada a leste do Cuíto.
Enquanto isto, as tropas cubanas prosseguiam os seus desdobramentos na direcção do Cunene. O 2.º Grupo Táctico da 50.ª Brigada de Tanques manobrava de Mulondo para Mucope, enquanto a 35.ª Brigada de Infantaria Motorizada angolana se movia de Tchamutete para Cuvelai .
No entanto, a região do Cuíto Cuanavale transformar-se-ia num cenário de combates extremamente violentos, vindo depois a ser palco daquela que se convencionou chamar, a «Mãe de todas as Batalhas». As forças sul-africanas e da UNITA preparavam o seu último assalto de grande envergadura contra as posições da 25.ª Brigada das FAPLA, entrincheirada a leste do rio Cuíto.
    A defesa enquanto forma superior de guerra estava a ser importante no contexto de uma derrota militar dos sul-africanos. As FAPLA não só iam defendendo a sua própria soberania com heroísmo, como também lutavam pela autodeterminação do povo da Namíbia e a abolição do regime do apartheid na própria África do Sul. Tinham consciência de que a conquista da vitória mudaria os paradigmas político-militar da região. Com isso, as FAPLA reforçavam os campos minados e a acção combinada da artilharia posicionava-se em ambos os lados das margens do rio para cobrir as possíveis rotas de ataque das SADF em caso de um eventual retorno. Os golpes da aviação contribuíam também para frustrar o ataque. Quando as SADF decidiram realizar a ofensiva para ocupar a localidade do Cuíto Cuanavale, já dispunha do controlo sobre a fronteira da província do Cunene com a Namíbia, sendo sua intenção controlar o Cuando Cubango e facilitar a penetração dos seus aliados da UNITA em vias infiltrantes. Era suposto que estas lhes permitissem consolidar posições a norte do Caminho-de-Ferro de Benguela, generalizar a guerrilha e provocar o colapso do Governo angolano. Paralelamente, as bases de apoio do ANC e da SWAPO seriam também neutralizadas .
Para os líderes do regime do apartheid e para a liderança da UNITA, assim como para o mundo ocidental, que já cantavam o hino da vitória, o objectivo estava alcançado. Admitiam abertamente que o jogo estava decidido, que seria uma questão de dias, de horas e de minutos, conseguir liquidar as brigadas das FAPLA no Cuíto Cuanavale.
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O dia 23 de Março era o momento decisivo. Nas primeiras horas do dia, as forças sul-africanas e da UNITA iniciavam o assalto com intenso fogo de artilharia contra a 25.ª Brigada das FAPLA, que se encontrava entrincheirada a poucos metros do rio Cuíto, depois atacavam pelo flanco direito para depois começarem o ataque principal pelo flanco esquerdo da brigada. A 25.ª Brigada, muito bem estruturada ao redor do Cuíto Cuanavale, respondia ao fogo dos tanques sul-africanos e da UNITA quando estes se encontravam a cerca de dois quilómetros do bordo dianteiro da brigada angolana, mesmo depois de terem já sofrido pesadas baixas humanas e materiais, que fazia com que o seu avanço fosse cada vez mais lento e dificultado.
Menosprezando as qualidades táctico-operacionais, combativas e psicomorais das forças angolanas, os sul-africanos empregavam maioritariamente novas forças da 82.ª Brigada. A UNITA atacava de novo, com todo o seu poderio humano e material, os batalhões da 13.ª e da 36.ª Brigadas, na tentativa de tomar de assalto Cuíto Cuanavale, mas sem sucesso. Entravam em acção os artilheiros do Regimento da Universidade de Potchefstroom, que bombardeavam o Triângulo do Tumpo. As FAPLA respondiam com o flagelamento à força principal de ataque dos sul-africanos e, a dado momento, um tanque Olifant accionava uma mina no flanco direito da linha de ataque, ficando fora de combate, enquanto os G-5 e os Valkyrie (lança-mísseis múltiplos) disparavam contra o posto de comando avançado das FAPLA em Nancova. Os acidentes de geografia militar contribuíam também para a desvantagem sul-africana. Um aguaceiro intenso obrigava a parar o fogo, mas, no entanto, os sul-africanos procuravam limpar com um plofadder um campo de minas e avançavam em direcção ao Triângulo do Tumpo com dois esquadrões de tanques que levam à cabeça um draga-minas.
Os campos de minas implantados na linha dianteira da defesa, o golpe poderoso e quadriculado da artilharia e a inundação dos eixos de aproximação das forças sul-africanas pelo transbordante rio Tumpo, começavam por limitar os movimentos das SADF, obrigando-as a imobilizar-se e a recuar das linhas de combate, à mercê do poderoso dispositivo de defesa das tropas angolanas, que mantinham a integridade da cabeça-da-ponte sobre o rio Cuíto.
O desfecho desta batalha seria favorável às FAPLA e na sua história surgiam nomes que não se devem apagar jamais das suas páginas e que ficam também gravadas na memória colectiva daqueles que deram o melhor de si para a libertação da África Austral. Destacar-se-iam o então coronel Mateus Miguel Ângelo «Vietname», comandante da 6.ª Região Militar, o comandante Francisco Deolinda da Rosa «Facho», o major José Domingos Baptista Cordeiro — comandante «N'gueto» (aquele que viria a ser o herói de todos os heróis da Batalha do Cuíto Cuanavale), os majores Fernando Amândio Mateus «Nando Cuíto» (chefe do Estado-Maior da 6.ª Região Militar), Emiliano (comandante da 8.ª Brigada), Tobias Domingos (que chefiou as tropas integradas pelas Brigadas 47.ª, 59.ª e pelo 2.º Grupo Táctico e também o comandante de uma bateria de foguetes antiaéreos OSAKA), os capitães Michel (comandante da 13.ª Brigada), António Valeriano (comandante da 59.ª Brigada, ex-1.ª Brigada e mais tarde comandante da 25.ª Brigada), Narciso Faz-Tudo Júnior (comandante da 24.ª Brigada de Defesa Antiaérea Petchora da FAPA/DAA), Hissendjelecua (comandante da 59.ª Brigada), Manuel António Zenzeca, Dimas (comandante da 47.ª Brigada de Desembarque e Assalto ex-18.ª Brigada), Avante (comandante da 16.ª Brigada), Franco (comandante da 16.ª Brigada), Sacudido (comandante da 16.ª Brigada), Martinho Ngueleca (comandante da 21.ª Brigada), Silva (comandante de uma companhia agregada na 47.ª Brigada), os primeiros-tenentes Mário Diniz N'donga (inicialmente comandante da 25.ª Brigada),  Fernando (comandante de um grupo táctico agregado a 16.ª Brigada), o segundo-tenente Remígio Espírito Santos (o combatente que defendeu a cabeça de ponte do rio Cuíto, à entrada da aldeia de Samaria) entre outros, que com sabedoria e mestria esmagavam o inimigo invasor da racista da África do Sul.
Entretanto, enquanto isto, no terreno operacional conheciam-se diversas movimentações. A 30 de Abril de 1988, as restantes unidades da 82.ª Brigada sul-africana estavam prontas para a retirada. Foram para a área administrativa da brigada. A «Operação Packer» estava terminada. A derrota humilhante sofrida no Triângulo do Tumpo em breve ia acabar com o regime de apartheid.
A artilharia das FAPLA reagia em força contra as forças sul-africanas, fazendo fogo indirecto a partir da margem oeste do rio Cuíto. O 5.º Batalhão regular da UNITA sofria severas baixas. Os sul-africanos realizavam outra tentativa de avançar sob forte fogo de todos os calibres, mas eram travados por uma barragem de fogo das FAPLA. A infantaria da UNITA era desbaratada. Os Olifant entravam em campo de minas. Três eram destruídos. Os sul-africanos tentavam atacar de novo, mas mais uma vez eram travados. Os tanques ficavam sem combustível antes mesmo de chegarem à linha do ataque directo contra as forças das FAPLA que se defendiam na cabeça-de-ponte. Andavam às voltas para evitar os campos de minas o que levaria a um gasto anormal de combustível. A fachada de invencibilidade sul-africana estava derrotada.
Aliás, o terceiro ataque a Tumpo seria o mais difícil para as SADF. Se o objectivo era uma vitória decisiva, este exercício era totalmente fútil. As suas tropas bebiam o cálice da amargura. Tal como os dois anteriores ataques, ficavam-se pelos campos de minas e perante o fogo da artilharia, além do papel activo da aviação da FAPA/DAA. As FAPLA defendiam com heroísmo e patriotismo o Cuíto Cuanavale e tinham ali os seus troféus, os seus homens eram autênticos heróis da África Austral e quiçá de África.
A história militar da guerra de fronteira africana e da Guerra Fria na África Austral nunca conhecera exemplos de fracasso tão rápido de um exército tão numeroso, tão bem treinado e bem equipado. Nas margens dos rios N’dala, Cuíto e Tumpo, assim se desmoronava o apartheid e como prova é que tinha sido derrotado definitivamente no Triângulo do Tumpo pelas FAPLA que combateram até ao último soldado. Ao princípio da tarde do dia 23 de Março, testemunhava-se finalmente o movimento de retirada massiva das forças derrotadas, deixando no terreno de guerra inúmeros soldados de Jonas Savimbi mortos, inclusive muitos deles esmagados pelos tanques sul-africanos na sua retirada precipitada. O regime racista sul-africano e Jonas Savimbi, que tinham obrigado os seus soldados a um sacrifício sem sentido, empacotavam assim o seu material de guerra e retiravam-se para Mavinga, vergados ao peso da derrota.
À época, o «Guia Prático do Quadro» da UNITA, aliada ao apartheid, dizia que quando os cubanos saíssem de Angola, o Governo do MPLA caía . Sirva à verdade o facto de ter acontecido o contrário: a África do Sul estava totalmente derrotada, o apartheid caía e África vencia.
No fim do dia do fracassado ataque contra o Cuíto Cuanavale, o coronel sul-africano Deon Ferreira , de uma forma não realista, enviava uma mensagem para o quartel-general das SADF, referindo que a missão tinha sido cumprida e que o avanço das FAPLA em Mavinga havia sido travado. Eram-lhe então dadas novas instruções, nomeadamente limpar o que restava das FAPLA do lado oriental do rio Cuíto e restabelecer posições que impedissem travessias futuras em território da UNITA; não era mencionada a própria captura do Cuíto Cuanavale. Todavia, as SADF queriam estar em posição de poder bombardear a base aérea e neutralizá-la como ponto de partida para uma nova ofensiva. Cuíto permitia acesso fácil dos MiGs ao território da UNITA e, se fosse destruída, a aviação angolana teria de se deslocar para Menongue .
Os especialistas sul-africanos reconheciam que as FAPLA não tinham somente sabido escolher bem o terreno vantajoso para a defesa, como tiveram vários meses para cavar trincheiras e as preparar. Tinham construído posições fortalecidas, com campos de minas e de fogo, limpos por escavadoras. A infantaria, apoiada por tanques, armas antitanque, artilharia e aviação, estava bem posicionada para cobrir todas as aproximações da base por parte das forças sul-africanas e da UNITA. Todas as prováveis linhas de aproximação das forças das SADF e das FALA estavam identificadas. A artilharia das FAPLA cruzava uma bem concebida rede de linhas de apoio às suas defesas. As armas e dispositivos de lançamento de mísseis eram cuidadosamente posicionados, isoladamente ou aos pares, com múltiplas alternativas de posições de fogo.
    Os norte-americanos, apesar de glorificarem Jonas Savimbi e a UNITA, eram forçados a reconhecer que, dada a ausência de orientação estratégica em relação aos níveis políticos de topo, era importante que o chefe das Forças de Defesa das SADF, general Johannes «Jannie» Geldenhuys, e os seus comandados, evitassem o desastre no Triângulo do Tumpo.
    Como resultado da violência dos combates que durariam mais ou menos seis meses (até Abril de 1988) naquela localidade, alcançava proporções catastróficas com milhares de mortos e feridos (houve um elevado número de baixas, milhares de militares de ambos os lados [FAPLA como da UNITA] e umas poucas dezenas pelo lado sul-africano), mas os números são ainda hoje objecto de controvérsia (divergências persistem quanto ao resultado do embate) .
    É preciso também testemunhar que os factos históricos, apesar de poderem ser deturpados, manipulados ou distorcidos, revelam que no teatro operacional do Cuíto Cuanavale, entre Novembro de 1987 e Junho de 1988, travar-se-iam mais de 30 violentos combates entre as forças em confronto, o que é comummente reconhecido entre os estrategas militares ocidentais e não só, que desde a Segunda Guerra Mundial não se travava em África nenhuma batalha com a envergadura da que se desenrolara à volta do Cuíto Cuanavale, sendo por vezes equiparada à famosa Batalha de Estalinegrado  ou às Batalhas de El Alamein em 1942, em plena Segunda Guerra Mundial . Este estatuto foi-lhe efectivamente outorgado em razão da quantidade e variedade de armamentos utilizados, atendendo a que, a par da infantaria, foi mobilizado todo o tipo de blindados, de peças de artilharia e de aviação, assim como pelo número de intervenientes (Angola, União Soviética, Cuba e SWAPO, de um lado, e a África do Sul, Estados Unidos e a UNITA de outro lado), sendo as estatísticas unicamente superadas pelas registadas na Segunda Guerra Mundial.
De outra perspectiva, Cuíto Cuanavale tornava-se o centro de gravidade da guerra civil angolana, da guerra de fronteira sul-africana e da Guerra Fria na África Austral. Apesar de terem sido derrotados no campo de batalha, os sul-africanos também reclamavam vitória pelo facto de as suas tropas terem travado o avanço do comunismo na região austral, por terem salvo a UNITA em Mavinga e, por último, porque iriam conseguir a retirada dos cubanos de Angola e de África.
Seja como for, a verdade é que, política, militar e moralmente, as tropas sul-africanas e da UNITA eram derrotadas no Cuíto Cuanavale pelas FAPLA com o apoio das tropas cubanas e dos guerrilheiros da SWAPO, na retaguarda, ajudados pelo seu armamento, sobretudo as audazes unidades da aviação que se apoderavam do domínio aéreo, avançando para a fronteira da Namíbia dispostas a, literalmente, derrotar as forças sul-africanas que ali estavam aquarteladas . Os MiGs partiram-nos o coração, escrevia, num muro crivado pela metralhadora, um soldado anónimo sul-africano .
O todo-poderoso general das forças do apartheid, Magnus André de Merindol Malan, após a reforma, daria uma entrevista interessante onde afirmava que o ponto mais alto da sua carreira foi «ter lutado contra os comunistas na batalha do Cuíto Cuanavale, a maior batalha travada na História da África do Sul». Afirmava que tinha vencido o mais importante combate da sua vida, mas a verdade é que foi copiosamente derrotado, seja qual for o ângulo de análise do que tinha acontecido no Triângulo do Tumpo. As tropas do apartheid entravam naquele pantanal e saíram de lá vergadas ao peso da derrota. Magnus Malan dizia que houve uma grande batalha no Triângulo do Tumpo e iria ainda mais longe: «Duvido que os africanos de hoje saibam perceber que o Cuíto Cuanavale foi uma grande batalha e vou dizer porquê: não conseguimos manter a imprensa informada. Havia muita pressão das Nações Unidas a dizer-nos: saiam de Angola» .
Mesmo sem a pressão das Nações Unidas, as forças do apartheid saíram de Angola derrotadas militarmente e só pararam em Pretória . De qualquer das formas, a batalha do Cuíto Cuanavale significou um marco de mudança radical da situação político-militar em toda a África Austral, acabando por transformar a geopolítica da região; além disso, selava o destino do colonialismo na África; constituía também o ponto de viragem decisiva em uma longa guerra civil em que o Estado angolano sofria sérias pressões, ameaças de grandes potências e a agressão directa de forças militares apoiadas e financiadas pelas potências ocidentais; foi ainda o começo do fim do apartheid ; last but not least, marcava o início de novos esforços diplomáticos no sentido de pôr termo ao conflito regional já em si internacionalizado.
Com a derrota conjunta das forças das SADF e da UNITA no assalto final ao Triângulo do Tumpo, apesar de ter sido anunciada ao mundo a sua captura, o presidente Pieter Willem Botha teve de se deslocar à zona de guerra, no interior de Angola, para aí intervir numa disputa no seio do comando militar sul-africano sobre a utilização ou não de armas nucleares tácticas. Na época, os Estados Unidos, o Reino Unido e a maioria dos países europeus apoiavam Pretória na sua luta contra o Governo angolano. Israel oferecia armas atómicas aos segregacionistas, para acabar com a guerra e tornar a África do Sul numa potência nuclear. Fidel Castro recorda:
[...] Os sul-africanos possuíam, segundo cálculos, entre 10 e 12 armas nucleares. Eles tinham realizado provas, inclusive nos mares ou nas áreas congeladas do Sul. O presidente Ronald Reagan tinha autorizado isso, e entre os equipamentos entregues por Israel estava o dispositivo [de sincronização precisa] necessário para fazer explodir a carga nuclear. A nossa resposta [cubana] foi organizar o pessoal em grupos de combate de não mais de mil homens, que deviam marchar de noite em uma ampla extensão de terreno e dotados de carros de combate antiaéreos. As armas nucleares da África do Sul, segundo relatórios fidedignos, não podiam ser carregadas por aviões Mirage, necessitavam de bombardeiros pesados tipo Canberra. Mas em qualquer caso, a defesa antiaérea das nossas forças dispunha de numerosos tipos de foguetes que podiam golpear e destruir objectivos aéreos a até dezenas de quilómetros das nossas tropas. Adicionalmente, uma represa de 80 milhões de metros cúbicos de água situada em território angolano tinha sido ocupada e minada por combatentes cubanos e angolanos. A explosão daquela represa seria equivalente a várias armas nucleares .

Pieter Botha vedava o uso de armas nucleares porque a África do Sul era então um Estado «pária» . A História mostrava quem estava do lado certo ou, pelo menos, o peso do «tabu nuclear» que se instalava no sistema internacional desde Hiroshima e Nagasaki e se reforçava com a crise dos mísseis de Cuba . Ciente de que aquelas armas serviriam para dissuadir, mas não para combater, a África do Sul abandonaria o seu programa nuclear. Seria um erro pressupor que o destino de Angola teria sido resolvido pelas armas nucleares. O presidente Pieter Willem Botha, por não ter acreditado que as suas tropas se tivessem rendido, teve uma recaída depressiva, sofrendo mesmo uma trombose .
    No dia 30 de Março, o 1.º Batalhão do Regimento de La Rey, o Esquadrão B do Regimento President Steyn e o Batalhão 32.º Búfalo iniciavam a preparação da retirada do Triângulo do Tumpo. Nesse mesmo dia, o comandante da 82.ª Brigada sul-africana, Paul Fouche, passava formalmente o comando da frente do Cuíto Cuanavale para o Comandante Piet Nel, comandante da «Operação Displace» (Remover) que teve início no dia 28 de Abril de 1988.
Ainda no mês de Março, ocorriam em Angola outros desenvolvimentos, considerados cruciais, designadamente o esforço militar ante a intensificação das pressões da UNITA. Enquanto isso, as questões interpretativas que decorriam no SEF, em virtude do corte de algumas práticas anteriores de condução da política económica, a discussão em torno da sua aplicação que estava sendo bastante acentuada,

PROJECTO LIBOLO

Estive em Calulo, Libolo, a terra que me viu nascer, como congressista convidado ao Congresso Internacional Linguístico (20° Conferência Anu...