Artigo de José Ribeiro* para profunda reflexão e tomada de consciência dos...funcionários públicos.
O Hospital Américo Boavida vive momentos conturbados porque a direcção resolveu controlar a pontualidade dos funcionários com um sistema electrónico. Quem não regista a presença, está em falta. E como a máquina nunca se engana, os serviços financeiros descontaram aos faltosos os dias em que estiveram ausentes.
Os trabalhadores que viram os salários emagrecer, protestaram contra a direcção do hospital. Mas a directora clínica, que tem a responsabilidade de garantir que pelo menos 300 doentes internados e mais umas centenas que recorrem diariamente às urgências tenham assistência digna, apresentou razões para justificar os descontos nos salários dos faltosos e relapsos.
O novo sistema entrou em funcionamento durante um longo período experimental, para todos se habituarem à vigilância electrónica da pontualidade, sempre com o dedo apontado aos faltosos. Os que não registavam a presença no serviço, eram chamados e os técnicos explicavam-lhes como deviam proceder.
Mas segundo a directora clínica, muitos dos que hoje protestam, ignoraram a formação e as explicações. Quando o sistema electrónico entrou em funcionamento “a doer” as faltas ao serviço choveram em catadupas. No final do mês, os faltosos perceberam que a falta de assiduidade não rentabiliza os serviços nem o trabalhador e sentiram o corte nos salários. No limite, resolveram fazer greve para que lhes fossem restituídos os fundos descontados.
Alguns técnicos ameaçaram que se o dinheiro não fosse devolvido, os doentes é que iam sofrer. No sector da saúde as greves têm de ser bem ponderadas e as estruturas sindicais são obrigadas a garantir os serviços mínimos. Os doentes internados não podem ser negligenciados e as urgências têm de funcionar sem falhas. Isto quer dizer que os trabalhadores da saúde não podem fazer greves e prejudicar os serviços e os doentes.
Para tentar esclarecer tudo, o vice-ministro da Saúde, Carlos Alberto Masseca, foi dialogar com os faltosos e com a direcção do Hospital Américo Boavida. No final, ouvi na rádio um trabalhador “grevista” dizer que os técnicos iam levantar “parcialmente” a greve mas que o dinheiro dos descontos tinha de ser devolvido a quem não cumpriu o dever de pontualidade, assiduidade e produtividade.
Este episódio ilustra bem uma situação que é transversal a todos os nossos serviços públicos. Não é segredo para ninguém, muito menos para as centrais sindicais, que a nossa produtividade é das mais baixas do mundo.
O absentismo atinge níveis tão elevados que não há economia que resista. Este quadro resulta de velhos problemas da nossa sociedade nunca resolvidos.
Os óbitos custam milhões de horas de trabalho por ano. Os trabalhadores “incomodados” são responsáveis por outros tantos milhões de horas de trabalho perdidas. A chuva justifica igualmente milhares de dias de ausência ao trabalho. Num nível um pouco mais baixo, temos os engarrafamentos, a falta de transportes, os “pedidos”, os casamentos, as aulas ou a falta pura e simples, sem qualquer satisfação ou justificação.
O Presidente da República, José Eduardo dos Santos, num dos seus discursos recentes, pôs o dedo na ferida e disse que não podemos aceitar que bens de consumo importados, sejam mais caros do que aqueles que produzimos em Angola. Na altura, ninguém pegou na “deixa”. Mas o Chefe de Estado estava a alertar a sociedade para o gravíssimo problema da falta de produtividade nacional. Porque é isso que torna mais caro o feijão ou o milho nacional do que o importado, apesar do frete marítimo e dos dias a mais que os navios estão nos portos à espera de descarregar.
Temos problemas estruturais que agravam a situação já de si grave. As organizações são débeis e temos poucos quadros técnicos. Tudo isto faz uma mistura complicada que tem de ser solucionada com mais organização, mais cidadania, mais participação democrática e, sobretudo, mais trabalho. Temos de fazer mais.
O governador do Kuando-Kubango, Eusébio de Brito Teixeira, sabe disso e reuniu com todos os funcionários do Estado e das empresas públicas para lhes dizer que exige de todos mais empenho e mais responsabilidade. A mensagem do governador foi clara: temos de arregaçar as mangas!
E já agora, também interessa adoptar em todos os organismos da Administração Pública e no sector empresarial do Estado a vigilância electrónica da pontualidade, como em boa hora o fez a direcção do Hospital Américo Boavida.
Quem está, fica registado. Quem falta, escolhe os descontos.
Não sei qual é o sistema electrónico adoptado pelo hospital. Mas sei que existe um muito simples em que basta colocar o dedo indicador na máquina para ficar registada a presença do funcionário nos serviços de Contabilidade.
E como o sistema funciona com as impressões digitais de cada um, é impossível fazer batota.
Pode ser que com o sistema de vigilância da pontualidade através do dedo, todos comecem a arregaçar as mangas.
O país precisa que os trabalhadores angolanos dêem esse passo importante e necessário.
O Hospital Américo Boavida vive momentos conturbados porque a direcção resolveu controlar a pontualidade dos funcionários com um sistema electrónico. Quem não regista a presença, está em falta. E como a máquina nunca se engana, os serviços financeiros descontaram aos faltosos os dias em que estiveram ausentes.
Os trabalhadores que viram os salários emagrecer, protestaram contra a direcção do hospital. Mas a directora clínica, que tem a responsabilidade de garantir que pelo menos 300 doentes internados e mais umas centenas que recorrem diariamente às urgências tenham assistência digna, apresentou razões para justificar os descontos nos salários dos faltosos e relapsos.
O novo sistema entrou em funcionamento durante um longo período experimental, para todos se habituarem à vigilância electrónica da pontualidade, sempre com o dedo apontado aos faltosos. Os que não registavam a presença no serviço, eram chamados e os técnicos explicavam-lhes como deviam proceder.
Mas segundo a directora clínica, muitos dos que hoje protestam, ignoraram a formação e as explicações. Quando o sistema electrónico entrou em funcionamento “a doer” as faltas ao serviço choveram em catadupas. No final do mês, os faltosos perceberam que a falta de assiduidade não rentabiliza os serviços nem o trabalhador e sentiram o corte nos salários. No limite, resolveram fazer greve para que lhes fossem restituídos os fundos descontados.
Alguns técnicos ameaçaram que se o dinheiro não fosse devolvido, os doentes é que iam sofrer. No sector da saúde as greves têm de ser bem ponderadas e as estruturas sindicais são obrigadas a garantir os serviços mínimos. Os doentes internados não podem ser negligenciados e as urgências têm de funcionar sem falhas. Isto quer dizer que os trabalhadores da saúde não podem fazer greves e prejudicar os serviços e os doentes.
Para tentar esclarecer tudo, o vice-ministro da Saúde, Carlos Alberto Masseca, foi dialogar com os faltosos e com a direcção do Hospital Américo Boavida. No final, ouvi na rádio um trabalhador “grevista” dizer que os técnicos iam levantar “parcialmente” a greve mas que o dinheiro dos descontos tinha de ser devolvido a quem não cumpriu o dever de pontualidade, assiduidade e produtividade.
Este episódio ilustra bem uma situação que é transversal a todos os nossos serviços públicos. Não é segredo para ninguém, muito menos para as centrais sindicais, que a nossa produtividade é das mais baixas do mundo.
O absentismo atinge níveis tão elevados que não há economia que resista. Este quadro resulta de velhos problemas da nossa sociedade nunca resolvidos.
Os óbitos custam milhões de horas de trabalho por ano. Os trabalhadores “incomodados” são responsáveis por outros tantos milhões de horas de trabalho perdidas. A chuva justifica igualmente milhares de dias de ausência ao trabalho. Num nível um pouco mais baixo, temos os engarrafamentos, a falta de transportes, os “pedidos”, os casamentos, as aulas ou a falta pura e simples, sem qualquer satisfação ou justificação.
O Presidente da República, José Eduardo dos Santos, num dos seus discursos recentes, pôs o dedo na ferida e disse que não podemos aceitar que bens de consumo importados, sejam mais caros do que aqueles que produzimos em Angola. Na altura, ninguém pegou na “deixa”. Mas o Chefe de Estado estava a alertar a sociedade para o gravíssimo problema da falta de produtividade nacional. Porque é isso que torna mais caro o feijão ou o milho nacional do que o importado, apesar do frete marítimo e dos dias a mais que os navios estão nos portos à espera de descarregar.
Temos problemas estruturais que agravam a situação já de si grave. As organizações são débeis e temos poucos quadros técnicos. Tudo isto faz uma mistura complicada que tem de ser solucionada com mais organização, mais cidadania, mais participação democrática e, sobretudo, mais trabalho. Temos de fazer mais.
O governador do Kuando-Kubango, Eusébio de Brito Teixeira, sabe disso e reuniu com todos os funcionários do Estado e das empresas públicas para lhes dizer que exige de todos mais empenho e mais responsabilidade. A mensagem do governador foi clara: temos de arregaçar as mangas!
E já agora, também interessa adoptar em todos os organismos da Administração Pública e no sector empresarial do Estado a vigilância electrónica da pontualidade, como em boa hora o fez a direcção do Hospital Américo Boavida.
Quem está, fica registado. Quem falta, escolhe os descontos.
Não sei qual é o sistema electrónico adoptado pelo hospital. Mas sei que existe um muito simples em que basta colocar o dedo indicador na máquina para ficar registada a presença do funcionário nos serviços de Contabilidade.
E como o sistema funciona com as impressões digitais de cada um, é impossível fazer batota.
Pode ser que com o sistema de vigilância da pontualidade através do dedo, todos comecem a arregaçar as mangas.
O país precisa que os trabalhadores angolanos dêem esse passo importante e necessário.
* Jose Ribeiro - Director do Jornal de Angola
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