Meu nome é Dick quando proso e quando desproso como é o caso porque assunto é seco.
Nasci no bairro operário há 65 anos. Quando me conheci minha casa humilde era seca, quer dizer, não tinha água. Fiz todo a instrução primária sem água, tinha mãe acartava água sem parar. Nem casa de banho. Nem luz, o que tínhamos era um candeeiro de petróleo, alguém se lembra? Não? Não tem kijila. Então nos anos sessenta já estava a estudar no liceu, sim aquela liceu salvador correia cheio de brancos. Na minha turma tinha o Tony e o Magosa, algum tinha água do tubo em casa? Morde meu dedo. Como então estudávamos? Diferente de quem tinha luz eléctrica no quartinho. Nosso quartinho nem existia. Livros sombreados com candeeiro de petróleo. Minha santa mãe cozinhava com fogão primus, sabe o que é? Não? Não tem kijila.
Bons estudos, nunca reprovei nem eu nem eles.
No ano 1975 ainda sem água e sem luz.
Então naquele Novembro com o Kinfangondo em guerra, morteiros muitos água nunca.
Em 76 fui em Cabinda dar aulas sem casa. A única casa eu ocupei, bem lá em baixo ao pé do Kiloango. Lê Tchiloango. Sexto andar. Sem água. Minha água era subir seis andares a pé com garrafas de água castanha. E bebia. E tomava banho.
De volta em Luanda 1978 cheguei no paraíso, um rés do chãozinho modesto com torneira-raiz num tanquinho, sim quase em baixo da terra, então o povo fazia bicha, o povo isto é as senhoras, desde as 5h até ás 8h um pouco de água, eu pedia dá licença para me lavar para ir trabalhar. Sorte a minha. Quase 40 anos de vida e só aí com aquela aguinha das 6h às 8h. Ponto final.
No Serpa Pinto lá na baixa naquela torneira do jardim, mamãs serpenteavam ruas com banheiras, enche põe na cabeça, europeia gemia tem desvio na coluna, mamã de Luanda não tem coluna. Na Maianga também grande bicha sabe o que é bicha? não? Não tem kijila. Mas na Maianga também tinha uma torneirinha rentinha ao chão que oferecia sua água-benta.
(Continua)
No ano 1975 ainda sem água e sem luz.
Então naquele Novembro com o Kinfangondo em guerra, morteiros muitos água nunca.
Em 76 fui em Cabinda dar aulas sem casa. A única casa eu ocupei, bem lá em baixo ao pé do Kiloango. Lê Tchiloango. Sexto andar. Sem água. Minha água era subir seis andares a pé com garrafas de água castanha. E bebia. E tomava banho.
De volta em Luanda 1978 cheguei no paraíso, um rés do chãozinho modesto com torneira-raiz num tanquinho, sim quase em baixo da terra, então o povo fazia bicha, o povo isto é as senhoras, desde as 5h até ás 8h um pouco de água, eu pedia dá licença para me lavar para ir trabalhar. Sorte a minha. Quase 40 anos de vida e só aí com aquela aguinha das 6h às 8h. Ponto final.
No Serpa Pinto lá na baixa naquela torneira do jardim, mamãs serpenteavam ruas com banheiras, enche põe na cabeça, europeia gemia tem desvio na coluna, mamã de Luanda não tem coluna. Na Maianga também grande bicha sabe o que é bicha? não? Não tem kijila. Mas na Maianga também tinha uma torneirinha rentinha ao chão que oferecia sua água-benta.
(Continua)