sábado, 7 de novembro de 2015

Avaliação dos 40 anos de Independência de Angola

Nativos em trabalhos de contratados

Independência – Angola, desde 11 de Novembro de 1975 que saiu do domínio colonial português depois de quase 500 anos de um colonialismo cruel e quase “canibal”. Sabemos que não foi uma independência fácil ao estilo da maioria de outros Estados africanos que tiveram o ensejo de negociar com os colonos as suas independências e tiveram os processos concluídos de descolonização. Em Angola o processo de descolonização não existiu, o colono embrulhou a bandeira, colocou-a debaixo do braço e partiu. O país ficou a deriva e entregue na mão de carpinteiros, enfermeiros, marceneiros, sapateiros e meia dúzia licenciados sem experiencia absolutamente nenhuma de liderança ou gestão pública. E como se não bastasse esta amputação, ainda importamos uma guerra atroz que nos era alheio entre potências que lutavam para dominar o planeta e o universo. 
O Ultimo dia colonização

Na verdade descalçamos uma bota apertada e colocamos os pés num sapato justo mas cheio de espinhos e apesar dos esforços, galgamos pedra sobre pedra até que nos entendemos e juntamos as pedras e há 13 anos começamos a caminhar sobre uma calçada que ainda é íngreme e desnivelado mas já permite caminhar sem muitos tropeços. Portanto o que ganhamos hoje embora muito pouco é resultado das perdas que tivemos no passado. Neste momento vivemos um processo de identidade e afirmação, é como se tivéssemos regressado aos primeiros anos da independência. É mentira se dissermos que está tudo bem, também estaríamos a faltar com a verdade se dissermos que está tudo mal. Tivemos avanços e retrocessos e a principal barreira entre nós é a dos homens que têm imensas dificuldades de de adaptação e abandonar alguns vícios e hábitos adquiridos nestes 40 anos. Uns não conseguem se libertar da rebeldia cronica aprendida e ensaiada e outros têm dificuldades de se libertarem de uma hegemonia política e ideológica em que se deitaram por três décadas e agora tende a surgir uma geração que não galgou a estrada de pedra sobre pedras e que se acha solução de um problema bicudo e muito maior que qualquer vontade. 
A bandeira da nova República 

A independência é um processo e não uma obra acabada e ainda vamos galgar muitos quilômetros para que nos sintamos todos completamente saciados. Portanto ao olharmos para os 40 anos da “dipanda” e antes de criticarmos que houve precipitações e que não ganhamos nada, aconselho-vos sempre a olharmos antes para a floresta e só depois para as árvores. 

Artur Cussendala

O que ainda guardo na MEMORIA.

11 DE NOVEMBRO DE 1975 
7 de Novembro de 1975, véspera de final de semana, tinha eu 9 anos e aluno da 1ª Classe na aldeia de Cambau na comuna do Quissongo, município do Libolo/K.Sul. Era na verdade criança mas já muito lucido e já tinha comprado com o meu suor uma camisa com o salario de colheita de café na Roça do Amorim. Ainda lembro-me do mulato capataz que nos açoitava com prazer e gozo. Nós as crianças, nossa tarefa era apanhar o café que cai ao solo quando na colheita dos adultos estes bagos se escapassem dos cestos que colocavam a tira colo. Recordo-me ter trabalhado dois meses mas no segundo não fomos pagos porque o fazendeiro fugira depois de envenenar a refeição do almoço dos trabalhadores não “mbalundo” da fazenda. Naquele distante dia que nem tenho noção do mês e pior ainda do dia, despertei a consciência quando vi a população da aldeia inteira vindo com catanas, enxadas, paus e canhangulos atacar o fazendeiro e seus capatazes. Estes vendo a picada de entrada coberta de gente enfurecida, debandaram cafeeiro a dentro e com eles o nosso lindo e belo salário. Creio que nunca mais retornaram até ao dia da “dipanda”. Pois neste dia 7 de Novembro (sexta-feira) salvo erro, apareceu em Cambau um “kwemba” do MPLA que nos instruiu militarmente com uso de réplicas de armas de pau, a marchar, cambalhotar, rastejar e a cantar canções patrióticas bem como o hino do MPLA. A aldeia estava num alvoroço total, havia marcha de mulheres, homens, velhos e crianças. A independência, diziam que viria na terça-feira dia 11. Nós as crianças na verdade não sabíamos como viria essa independência (a pé, de motorizada ou de camião) mas sabíamos todos que tínhamos de nos preparar para receber a independência. Todos sabíamos que naquele dia tínhamos de estar preparados e os treinos e as marchas com canções revolucionários se haviam intensificado. Os brancos das lojas no mbuiza tinha ido embora para Calulo e o comércio fechado. Os trabalhadores “mbalundo” na margem oposta do rio futy também havia levantado o acampamento e só alguns permaneciam. Então tinha chegado a terça-feira (11), alguns foram a lavoras a busca de mantimentos e nós crianças estamos ansiosos e com os olhos postos na esquina da estrada a espera da “tal” independência. Foi então que perguntei ao primo Joaquim que já andava na 3ª classe, como seria a independência. Ele calmamente explicou-me que a independência iria chegar mas não era uma coisa ou pessoa mas sim um acto em que os brancos já não mandariam em nós nem nos submeteriam mais a castigos de palmatória e trabalhos nas fazendas ou pagamentos de impostos. Pouco confuso, tentei explicar a minha maneira aos outros “pioneiros” e uns até mais crescidos do que eu e por pouco iria levar uma valente sova porque ninguém acreditou em mim e me chamaram até de “contra revolução” (grande ofensa na época) e fui salvo pelo primo Joaquim. Todo o dia as pessoas tinha colado os ouvidos na radio a escutarem noticias e canções revolucionarias e finalmente caiu a noite eu eu caí no sono, porem as tantas fui acordado para ouvir o discurso do presidente Neto em Luanda, pois tinha chegado a hora da independência e tínhamos de içar a bandeira. Pasme-se mas a bandeira era uma folha dupla branca, arrancada do meio de um caderno e pintado de VERMELHO/PRETO e uma estrela mal desenhado no meio. Estava toda gente da aldeia em volta e enquanto se cantava o hino no rádio a pinhas, nós içávamos a bandeira no meio da aldeia num mastro de bambu improvisado para a ocasião. Depois foram abraços, gritos de alegria e rajadas de balas incendiarias rasgando o seu escuro da noite, vindas de bairros vizinhos do Bango, Gingi e até da Banza do Quissongo. Finalmente tinha chegado a “dipanda” que tanto ansiavamos e que obrigava “religiosamente” o meu pai a ouvir o Angola Combatente com o som do radio baixíssimo todas as noites e no quarto.
Artur Cussendala 7/11/2015

domingo, 10 de maio de 2015

Novo Espaço de Debates

Amigos e seguidores do facebook e twiter, enviei-vos um convite para aceitarem o novo espaço aonde vamos passar a fazer as nossas reflexões (‪#‎REFLITAM_COMIGO‬). Como não aceito amigos com (alguma) facilidade, muitos têm reclamado pois notam recusas constantes dos pedidos que fazem. Deste modo os debates vão para este espaço em que a unica condição para todos será «GOSTAR» do espaço. 
Desde já minhas desculpas pelo incomodo.

sexta-feira, 17 de abril de 2015

A vitória que mudou o mundo


A vitória que mudou o mundo

Artur Queiroz |
14 de Abril, 2015


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A Operação Displace, que teve início no dia 28 de Abril de 1988, marca o fim da invasão de Pretória e o início de negociações directas entre os governos de Angola, da África do Sul e de Cuba, sob mediação dos Estados Unidos.
O ponto final da Batalha do Cuito Cuanavale foi no Triângulo do Tumpo, ao longo do dia 23 de Março de 1988. A esmagadora derrota das tropas invasoras do regime de apartheid obrigou PW Botha a tomar medidas de emergência. Responsabilizou o seu ministro da Defesa, Magnus Mallan, e o comando das forças armadas em bloco. Acusou-os de o terem enganado. Numa reunião em Pretória mandatou o seu chefe dos serviços secretos (Neil Barnard) para tirar Nelson Mandela do cárcere.
No Sudeste de Angola as tropas invasoras retiravam penosamente, vergadas ao peso da derrota. Os soldados que chegaram à Namíbia escreveram nas paredes das casas onde pernoitaram: viemos do inferno.
O arco-íris começou de imediato a ser “pintado”. Era preciso garantir na África do Sul uma transição para a democracia, num clima de paz social. Neil Barnard, um radical do apartheid, revelou mais tarde que trocou confidências e deu todas as garantias a Mandela.
O futuro Presidente da África do Sul contou que já no fim das conversações com Neil Barnard, telefonou a PW Botha no dia do seu aniversário (12 de Janeiro) para lhe dar os parabéns. O chefe do apartheid, para retribuir a amabilidade, convidou-o para tomar chá e serviu-o. “Saí com a impressão de que tinha falado com um chefe de estado criativo, caloroso, que me tratou com todo o respeito e dignidade”, recordou depois Nelson Mandela.
No dia 29 de Março de 1988, os invasores punham-se a salvo rapidamente, temendo uma contra-ofensiva fulminante das FAPLA.
“Yet despite this, they came close to overrunning the badly over-extended 25-Brigade. Victory was within their grasp and they were about to clear FAPLA from the rear of their battalion positions”.  Contudo, apesar disso, eles quase conseguiam desalojar a 25ª Brigada mal posicionada no terreno. A vitória esteve ao seu alcance e estiveram a ponto de desalojar as FAPLA atacando por trás as posições do seu batalhão. (Coronel Jan Breytenbach  “The Buffalo Soldiers: The Story of South A­frica’s 32ºBattalion 1975-1993” página 268).
“However the brigadier – who had stationed himself 20km from to the rear and well clear of the battlefield – ordered an immediate withdrawal”. No entanto, o Brigadeiro – que tinha estacionado a 20 quilómetros da parte traseira e afastada do campo de batalha – ordenou uma retirada imediata. (Coronel Jan Breytenbach  “The Buffalo Soldiers: The Story of South Africa’s 32-Battalion 1975-1993” página 269). “They waited in vain. Brigadier Numa, instead of producing an encore, had decided that discretion was the better part of valour and had hurriedly withdrawn his brigade to position 20km farther back than the previous night”. Eles esperaram inutilmente. O Brigadeiro Numa, em vez de ressurgir, decidiu que a discrição era a melhor parte da operação e retirou, apressadamente, a sua brigada para uma posição 20 quilómetros mais distante em relação à posição da noite anterior. (Coronel Jan Breytenbach  “The Buffalo Soldiers: The Story of South Africa’s 32-Battalion 1975-1993” página 269).

Escrito nos anais


Abílio Numa e outros oficiais da UNITA, que no início dos combates derradeiros ­recuaram para 20 quilómetros do Tumpo, no dia 23 de Março já tinham recuado mais 20. Estavam a salvo e podiam chegar a Mavinga sem grandes sobressaltos.
Mas os militares da UNITA que não recuaram, pouco tempo se aguentaram nos combates. O coronel Jan Breytenbach, no seu livro “The Buffalo Soldiers  The Story of South Africa’s 32º Battalion 1975-1993” faz este relato impressionante: “Um cínico oficial americano, uma vez comentou que a missão de um soldado de infantaria é aproximar-se do inimigo e morrer com ele. Bem, muitos soldados da UNITA morreram, naquele dia 23 de Março, mesmo antes de entrarem em contacto com as FAPLA. Os canhões de 23mm eliminaram os ocupantes dos tanques como palha, enquanto os estilhaços da artilharia e os obuses dos morteiros faziam grandes estragos”. Esses militares das forças regulares de Savimbi não tiveram a sorte dos que iam recuando de 20 em 20 quilómetros, à medida que se desenrolavam os combates no Triângulo do Tumpo. A potência de fogo das FAPLA era tal, que só se via fumo e poeira, ainda que o céu estivesse limpo de nuvens.
O “pai” das forças da UNITA, Jan Breytenbach, foi uma testemunha privilegiada porque assistiu, desde o início, à derrocada das tropas invasoras. “Toda a potência defensiva das FAPLA foi dirigida contra o comando do Regimento do Presidente Steyn e contra uma UNITA já em fanicos”.
O comandante do célebre Batalhão Búfalo, do seu posto de observação, verifica que as forças de artilharia invasoras recuam para áreas mais seguras. Os comandantes perceberam que face à barragem de fogo das FAPLA e à intervenção dos MIG da Força Aérea Nacional, a derrota estava garantida. Só faltava saber a sua dimensão.  Jan Breytenvach dá uma indicação. Se os artilheiros se puseram ao fresco, “o mesmo não se pode dizer dos pobres soldados de infantaria da U­NITA, que entraram em acção encavalitados nos tanques Oliphant e nos Ratels. Os seus mortos ficaram espalhados em grande número pelo campo de batalha”. (The Buffalo Soldiers The Story of South Africa’s 32º Battalion 1975-1993. Página 309).

Explicação dos cemitérios


O comandante do Batalhão Búfalo revela o porquê da existência de um grande cemitério, junto ao terceiro tanque Oliphant recentemente encontrado no meio da mata, numa colina do Triângulo do Tumpo. A tropa de Savimbi “ficou em fanicos” e os mortos “estavam espalhados em grande número”. Foram enterrados à pressa, perto do tanque Oliphant que ficou fora de combate, ao início da tarde do dia 23 de Março.
Os oficiais das forças invasoras quiseram destruir os tanques, mas foram impedidos pelo alto comando. Naquele momento ainda acreditavam que iam ganhar a batalha. Acabaram por deixar o material de guerra e os seus mortos.
Face à estrondosa derrota, começou o jogo do “passa culpas” entre os oficiais do alto comando. O coronel Jan Breytenbach aponta muitos factores para o desastre militar. Mas mais uma vez implica a tropa de Savimbi. E escreve: “O oficial de inteligência da UNITA, Caxito, forneceu estimativas incorrectas da situação geral. Ele baseou-se na opinião exagerada que Jonas Savimbi tinha de si mesmo, segundo a qual era o mestre da guerra de guerrilha no continente Africano. Se qualquer um dos seus generais ousasse apontar os pontos fracos da estratégia de guerra de Savimbi, isso era considerado um insulto imperdoável. Essa audácia era geralmente recompensada com uma bala na nuca.”

Diário do desastre

De acordo com Helmoed Römer Heitman no livro “WAR IN ANGOLA: The Final South African Phase” (págs. 283-286), os sul-africanos já não sabiam o que haviam de fazer com a cabeça-de-ponte das FAPLA, a leste do rio Cuito. As tentativas para ludibriar as FAPLA com uma falsa retirada tinham falhado e elas responderam com ataques deliberados, realizados pelas suas forças firmemente desdobradas nas duas margens do rio Cuito: a oeste e a leste. Dada a natureza do terreno (totalmente alagado), um ataque a leste com uma força ainda maior era impraticável.
No dia 1 de Abril, às 10h00 horas, os MIG23 atacaram uma das posições de fogo da patrulha sul-africana de reconhecimento. A retirada era cada vez mais penosa. O moral das tropas invasoras estava de rastos.
Um soldado sul-africano foi ferido por estilhaços e um rebocador de artilharia ficou danificado. O regimento também perdeu um teodolito. À pressa, os artilheiros retiraram-se para as suas posições alternativas, logo depois de se confirmar que a precisão incomum deste ataque dos MIG não tinha sido um mero acaso.
Os elementos do 13º Regimento de Campanha passaram o dia 1 de Abril a efectuar operações de reconhecimento ao traçado pretendido para os campos de minas. O Regimento de Groot Karoo mudou a sua base para uma nova área. Estava muito vulnerável aos ataques da Força Aérea Nacional.
No dia 2 de Abril, os MIG estiveram continuamente no ar entre o nascer do Sol e as 18h35. O inimigo sentia-se cada vez mais acossado. Das forças regulares da UNITA não havia notícia. Como Numa tinha recuado de 20 em 20 quilómetros, provavelmente já estava perto de Mavinga.
No dia 3 de Abril, os MIG atacaram as posições dos canhões G-5 da patrulha de reconhecimento. No dia seguinte, registou-se mais actividade aérea e uma tentativa fracassada para atrair os MIG para uma armadilha antiaérea, em torno de uma posição de G-5 simulada. Os nossos pilotos já tinham muita experiência.
Durante a noite de 5 de Abril, o 13º Regimento de Campanha deslocou-se para uma posição, 15 quilómetros a Leste do Cuito Cuanavale para, em cooperação com tropas da UNITA sobreviventes, transportarem as minas que iam ser colocadas a Sul do rio Tumpo, para atrasar ou impedir a contra-ofensiva.

Vigiados de perto

As FAPLA não lançaram a contra-ofensiva porque sabiam que o terreno estava minado pelos seus engenheiros mas também pela engenharia dos invasores sul-africanos. No dia 7 de Abril, uma companhia de infantaria das FAPLA foi observada perto da estrada de Mavinga, precisamente a Sul do acampamento do 13º Regimento sul-africano.
Os militares angolanos vigiavam de perto os movimentos dos engenheiros sul-africanos. Depois da retumbante vitória no dia 23 de Março no Triângulo do Tumpo, era preciso evitar surpresas.
De 8 a 10 de Abril, a artilharia sul-africana entrou num duelo com a artilharia angolana valendo-se do maior alcance dos seus canhões, agora instalados nos limites do rio Chambinga.
No dia 14 de Abril, foram retiradas da frente as principais unidades sul-africanas. Mas o alto comando sul-africano decidiu que fosse realizada uma acção contra as forças das FAPLA no Triângulo do Tumpo, para criar a impressão de que os invasores ainda se encontravam lá e com toda a força. A simulação também implicava manter activas as estações das unidades já ausentes nas redes de comando e logística.

O adeus às armas

No dia 15 de Abril, o 1º Batalhão do Regimento De La Rey e o Esquadrão B do Regimento Presidente Steyn despediram-se do campo de desmobilização do outro lado do Kavango para o Rundo. No mesmo dia, o comandante Paul Fouché tomou conhecimento que o seu sogro tinha morrido. Concederam-lhe uma semana para ir a casa e o coronel Hennie Blou, da 7ª Divisão, assumiu o comando da 82ª Brigada Sul-Africana, em retirada.
Enquanto a operação de simulação estava a ser preparada, o brigadeiro Fido Smit e o coronel Robbie Roberts, comandante do Centro de Mobilização da 7ª Divisão, visitaram o 45º Posto de Observação A e uma das posições de artilharia.
No dia 20 de Abril, visitaram as antigas posições da 16ª Brigada. À medida que se distanciavam de um dos tanques que haviam inspeccionado, o seu Ratel detonou uma mina, que destruiu uma das rodas do meio.
Às 07h:00 do dia 21 de Abril, Hennie Blou começou a sua acção de diversão contra as posições das FAPLA que se encontravam no Cuito Cuanavale e no planalto entre o Cuito e o Cuanavale (36ª Brigada). As companhias A e B do Regimento Groot Karoo e o Esquadrão A do Regimento Presidente Steyn dispararam contra as FAPLA a partir das posições, a Norte da confluência, no espaço confinado pelos rios Cuatir e Cuanavale. Os resultados foram nulos.

As últimas baixas

No dia 23 de Abril, a operação de colocação de minas ao longo da anhara Lipanda resultou nas últimas baixas para os sul-africanos. Um dos sapadores morreu quando detonou uma armadilha das FAPLA. Outros três sapadores e sete soldados da UNITA ficaram feridos.
O sapador Johannes Badenhorst entrou no campo minado, numa zona que não ajudou a implantar, e não sabia o que fazer para recuperar o soldado gravemente ferido. Mesmo assim, voltou e desactivou várias minas para permitir que o corpo do homem, já morto, fosse recuperado.
No dia seguinte, Badenhorst mostrou novamente a sua coragem, quando o motor do Ratel do sapador pegou fogo. Incapazes de extinguir as chamas, os sapadores abandonaram o veículo. Badenhorst foi ao local e atirou os equipamentos e as munições para fora do veículo até as primeiras explosões o obrigarem a sair. No dia 28 de Abril, chegaram as primeiras tropas da “Operação Displace” e do esquadrão antitanque do major Hannes Nortmann do 32º Batalhão. O objectivo da “Operação Displace” era “manter a linha” ao longo do Rio Cuito para dar tempo a eventuais negociações e enquanto o traçado do obstáculo estava a ser preparado.
Às 19h:00 do dia 30 de Abril de 1988, as restantes unidades da 82ª Brigada Sul-africana estavam prontas para a retirada. Foram para a Área Administrativa da Brigada, às 20h00. A “Operação Packer” estava terminada. A derrota humilhante sofrida no Triângulo do Tumpo em breve ia acabar com o regime de apartheid.
O Coronel Jan Breytenbach, no seu livro “The Buffalo Soldiers The Story of South Africa’s 32º Battalion 1975-1993” escreve o epitáfio: “o dia 30 de Abril de 1998, marcou o início da ‘Operação Displace’, quando o comando mudou do coronel Fouché para o comandante Piet Nel, um célebre pára-quedista, conhecido nos círculos castrenses como ‘Piet Graspol’ (Piet Tufo de Capim). Assumiu o comando de uma força que foi designada, erradamente, por 20º Grupo de Combate. A unidade devia ser designada por Grupo de Batalha 20. O grupo incluía o esquadrão antitanque do major Hannes Nortmann, uma companhia motorizada de fuzileiros do 32º Batalhão, duas secções de engenheiros e uma bateria G-5 de 155mm. A UNITA forneceu três batalhões para ocupar o sistema defensivo projectado para manter as FAPLA à distância”.
Em Pretória, PW Botha nem queria acreditar que as suas forças estavam derrotadas, quando os chefes militares lhe relatavam grandes êxitos no terreno e os jornalistas apresentavam Savimbi como um chefe militar imbatível.
O derrotado presidente do regime de apartheid terminou seu mandato a 15 de Agosto de 1989, pouco mais de um ano depois da vitória das FAPLA no Triângulo do Tumpo e como resultado do Acordo de Nova Iorque. Entregou o poder a Frederik de Klerk, o presidente da transição.
 
Versão de Chester Crocker

Chester Crocker, o chefe da diplomacia de Washington na época, no seu livro “High Noon in Southern Africa: Making Peace in a Rough Neighbourhood”, faz muita ficção mas revela elementos que permitem uma leitura mais abrangente do que se passou no Triângulo do Tumpo.
Sobre a situação militar no Cuito Cuanavale escreve: “As operações das forças sul-africanas/UNITA, de Janeiro a Março de 1988, foram projectadas para remover as FAPLA do seu refúgio na margem Leste do rio. Quando a defensiva das FAPLA se tornou mais consistente, em Fevereiro e Março, Pretória decidiu que uma vitória política no Cuito não valia a pena, e especialmente o custo humano em efectivos de raça branca que esta acção podia exigir”. Esta é a versão que lhe “venderam”. A realidade foi diferente.
Chester Crocker também diz que a “missão do embaixador Neil van Heerden a Washington, em Março de 1988, acabou por marcar o ponto de viragem na política externa sul-africana”. Mas depois reconhece que “nós soubemos da decisão sul-africana de reunir com os cubanos e os angolanos em meados de Abril. Não havia necessidade de uma etapa intermédia de negociações de proximidade: este era um encontro directo”.
A mudança na política externa de Pretória foi tão grande que deixou Washington de fora e PW Botha, face à derrota militar, decidiu negociar directamente com Angola e Cuba. Só mais tarde a diplomacia norte-americana voltou a ganhar protagonismo. Quem nunca esteve, nem de perto nem de longe, nas negociações, foi a UNITA.
Pretória escondeu Savimbi na Jamba ou no Gabão e rapidamente esqueceu os seus aliados. Washington, no dia da Independência da Namíbia, meteu “uma cunha” ao Presidente José Eduardo dos Santos, para dar uma mão aos derrotados. Assim se chegou a Bicesse, uma oportunidade de ouro que Savimbi desperdiçou.

segunda-feira, 13 de abril de 2015

"Paz única no Mundo"

O general Gerarldo Abreu “Kamorteiro”, um dos signatários do Memorando de Paz de 4 de Abril de 2002, revela pormenores sobre a acção do Presidente José Eduardo dos Santos, para que o acordo se concretizasse  e fosse o êxito hoje reconhecido internacionalmente.

Actual vice-chefe do Estado-Maior das Forças Armadas Angolanas, diz com orgulho que a paz lhe permitiu realizar o  sonho de menino, ao voltar à escola em 2003 para concluir a licenciatura em História, na Universidade António Agostinho Neto.

Jornal de Angola - Há alguma coisa que considere não ter sido explorada ou  valorizada no processo de paz?

General Kamorteiro
 - Talvez a autenticidade do processo. Nós  fazemos parte de uma geração que viu surgir o 25 de Abril. A paz que tivemos de 1974 e 1975 foi efémera, porque não tardou e descambou em guerra. Tivemos depois mais 16 anos de guerra até Bicesse, que também descarrilou. Então viemos para o Memorando de Entendimento do Luena, cuja paz perdura até à data. Não há comparação possível. Só gente desmiolada pode duvidar.

JA - A quem se refere quando fala de gente  desmiolada?

GK
-Refiro-me às pessoas que apresentam argumentos sem qualquer sustentação  e acabam por confundir outras pessoas com as coisas que dizem. O facto de termos a paz não significa que tudo esteja feito. Foram dados passos gigantescos desde que estamos em paz e isso é absolutamente inegável.  É impossível ficar indiferente ao facto de Angola estar pela segunda vez como membro não permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas.Todos dias chegam a Angola delegações estrangeiras a querer investir. Angola é hoje uma referência mundial.  Vejam a centralidade do Kilamba ou mesmo aquela que está no Dundo. Não havia no tempo colonial. 

JA-Depois de assinar o memorando disse que os angolanos começavam uma nova era. O que o deixou tão confiante?

GK-
Na sequência da morte do presidente da UNITA, Jonas  Savimbi, dias depois morre também o vice-presidente. O terceiro homem na hierarquia era o general Paulo Lukamba Gato. E esse estava numa determinada área com outros membros da direcção. Tiveram a iniciativa de criar uma comissão de gestão que, através de canais apropriados, conseguiu entrar em contacto com o Governo. Foi uma análise muito rápida que levou a Comissão de Gestão do partido a concluir que havia predisposição do Governo para uma negociação séria. Nessa altura, uma delegação chefiada pelo actual chefe do Estado-Maior, general Nunda, foi ao local aonde se encontrava o general Lukamba Gato, para transmitir aquilo que espelhava o pensamento do Presidente da República e Comandante em Chefe. Até porque na altura, a 13 de Março, o Governo já tinha declarado cessar-fogo a partir do dia 14.

JA- Quando foi contactado?

GK-
 Eu vim para este processo no dia 12 de Março. No dia seguinte o general Nunda foi encontrar-se comigo e transmitiu-me aquilo que eram as ideias do Presidente da República. Achei muito interessante. 

JA- Que mensagem foi essa?

GK-
Disse-me que o Presidente da República desejava conversações sérias e profundas, numa primeira fase, somente entre angolanos. Fazia questão que não houvesse nenhuma interferência externa. Por isso é que às vezes digo que talvez antes nos tivesse faltado maturação e se calhar também tivesse havido excessiva interferência externa. Hoje digo sem medo de errar que a paz que vivemos é uma obra nossa. 

JA- Reforçou a confiança?

GK-
Recordo-me de um comentário do general Armando da Cruz Neto, estávamos no Lobito,  onde também estavam o actual chefe do Estado-Maior general, o general Nunda, e o general Carlos Hendrick. Ao comentar o nosso processo de paz, ele sublinhou que foi bom ter-se feito finca pé naquela altura e seguirmos em frente com o processo sem interferências e com muita firmeza de ambos os lados. 

JA-A UNITA tinha condições para prosseguir  a guerra?

GK-
Podia não ser uma guerra tão sustentável, mas uma confusão seria real. Imaginem aquela gente toda, sem uma orientação. Alguém que lhes dissesse vão para ali ou para lá. Era normal que pensassem em não arriscar e ir até às últimas consequências. Um homem completamente cercado resiste até às últimas consequências. 

JA- O que dizer aos jovens sobre o valor da paz?

GK-
  Alguém me condene por esta expressão, mas vivemos  num mundo que está de cabeça para baixo. É um mundo muito violento em que se fala do terrorismo, que se apropriou de certas religiões que historicamente até são pacíficas, para promover a violência. Daí a necessidade de termos muito cuidado. Mesmo os da minha geração que têm de passar o testemunho, devemos dar uma educação muito profunda à nossa juventude para não se perder.

JA- As Forças Armadas são o espelho da reconciliação?

GK-
Em relação a essa questão, penso que, mais do que as próprias Forças Armadas,  o próprio acordo de paz que se celebrou a 4 de Abril constitui hoje, não só para Angola, mas para África, um paradigma. Uma fonte de conhecimento. Porque são poucos casos de conflitos que terminaram como terminou o nosso. E recordo-me que no dia em que assinamos o memorando, o Presidente da República estendeu um abraço aos signatários deste processo, e minutos depois convidou o então chefe da comissão de gestão da UNITA, Paulo Lukamba Gato, eu e o brigadeiro Marcial Dachala, só mesmo para nos encorajar. Ainda depois disso, não faltaram bocas de alguns cépticos, questionando se aquilo estava mesmo a acontecer. Talvez com alguma razão pelo que se passou com Bicesse, que foi uma grande desilusão para os angolanos. Mas nós nas Forças Armadas fizemos finca pé e dizíamos, já naquela altura, que aqueles que não acreditassem ficariam sozinhos, porque nós iriamos para frente. E isso ajudou bastante o país, porque é uma grande referência naquilo que constitui a unidade ou mesmo coesão nacional. As FAA são uma grande referência, pelo que fizeram e o que têm feito para que esse processo se tornasse no êxito que é hoje.

JA- Recorda das palavras do Presidente da República no encontro após a assinatura do acordo?

GK-
Recordo-me bem de uma passagem em que inclusive utilizou a expressão irmãos. E disse: Camaradas, chamei-os aqui como irmãos. O país está dilacerado mas com a vontade de todos vai para frente. O processo é irreversível se houver vontade patriótica. É uma das que me lembro e foi muito forte. Ouvir isso do próprio Presidente deixa marcas.

JA- É frequentemente convidado a falar no estrangeiro sobre o processo de paz angolano e a trajectória das forças armadas. Qual tem sido a reacção das pessoas que o ouvem?

GK-
 Como disse, o processo de paz angolano deve ser um caso de estudo para África e para o Mundo. Assim como as nossas Forças Armadas. Em Outubro estive em Adis Abeba para falar sobre a trajectória das Forças Armadas e muita gente ficou de boca aberta.Porque nem todos conheciam os pormenores do processo de criação das Forças Armadas Angolanas desde 1991. Foi um processo de avanços e recuos, progressos e retrocessos, mas que no fim deu certo. São processos políticos que não têm caminhos delineados, mas a coisa deu certo.

JA-O que a experiência de Angola pode valer ao Mundo?

GK-
 Angola praticamente tornou-se no mais requisitado conselheiro dos Estados na África Austral, Central, nos Grandes Lagos, Golfo da Guiné, etc. E também no Conselho de Segurança das Nações Unidas, onde tenho acompanhado com muita atenção as nossas intervenções, Angola tem dado boas cartadas. Temos passado a nossa experiência e ninguém põe isso em causa.

JA- A experiência de Angola em resolução de conflitos, do Brasil em políticas de redução da pobreza, e de outros países em vários domínios, serviam melhor ao mundo com uma eventual reforma do Conselho de Segurança?

GK-
 Não tenho a menor dúvida que sim. Países tão importantes e de referência como Angola, África do Sul e Nigéria, dariam bons representantes de África nas Nações Unidas. O actual formato do Conselho de Segurança já vigora há muitos anos. Os tempos são outros, inclusive os próprios conceitos mudaram. Porque não reformular esse órgão? Estamos a caminhar para um mundo multipolar que obriga a que o Conselho de Segurança tenha um formato diferente da que representa hoje.

JA-Teve algum significado especial para si fazer a licenciatura?

GK- 
Formar-me em história vem desde o tempo do meu avô. E tão logo chegamos, comecei a comprar livros. Pensei que chegara a hora de fazer aquilo que não pude fazer durante os quase 30 anos de guerra. Tudo porque sempre acreditei. Desde a assinatura do processo de paz, disse-o publicamente que a paz em Angola era irreversível e quem não acreditasse ficaria pelo caminho. Do meu salário, todos os meses comprava dois ou três livros. Em 2003 comecei o curso de licenciatura na Faculdade de Letras da Universidade António Agostinho Neto, e pouco tempo depois fiz o mestrado. 

JA- Qual foi o tema do seu mestrado?

GK- 
Falei do impacto económico e social da ocupação colonial em Angola, o caso do Bié.

JA-Porque não a história do processo de paz?

GK
-Houve quem sugerisse isso. Mas em história aprendemos que existem três tempos para se escrever. O tempo longo, que é de 50 a 10 anos, que é talvez o ideal para se escrever a História, o tempo intermédio, de uns 20 a 30 anos. E há o tempo imediato. E no meu caso, embora tenha vivido essa história, contá-la é muito mais difícil. O historiador francês Fernand Braudel chama a esses casos ‘histórias precipitadas’ ou ‘histórias que ainda sangram’, pois os seus protagonistas estão vivos e o que for contado pode ferir susceptibilidades.

JA-Conte-nos a história da sua alcunha?

GK-
 Essa história remonta o tempo em que pertencia ao Batalhão Fandango, comandado pelo general Kufuna-Yembe. Primeiro pertenci à sua unidade e depois agregou-me à sua segurança, como atirador de morteiro. Num episódio qualquer em Dezembro de 1975 achou que devia chamar-me Kamorteiro, que quer dizer ‘morteiro pequeno’. Decidiu baptizar-me assim porque tinha muita mestria. O nome ficou até 1979, altura em que fui para os meus treinos no exterior. Mas em 1998 ele foi informar a direcção do partido que o meu nome era Kamorteiro. E assim ficou até hoje.

Fonte: Jornal de Angola

segunda-feira, 23 de março de 2015

A Batalha do Cuito Cuanavale - Assalto final ao triangulo do Tumpo

O mapa mostra o terceiro e último fracassado ataque da África do Sul e da UNITA às posições das forças armadas governamentais angolanas no Triângulo do Tumpo. na foto ao lado.
Toda a verdade.
Os angolanos travaram no Cuito Cuanavale a maior batalha militar no continente africano a sul do Sahara. A batalha teve um vencedor, o Povo Angolano, e um derrotado, o regime de apartheid da África do Sul e seus aliados. O comandante das tropas, general de Exército José Eduardo dos Santos, ao felicitar os seus homens lembrou que os combates que durante meses foram “o símbolo da determinação do nosso povo, de vencer ou morrer pela defesa da Pátria”.
Muitos angolanos morreram na Batalha do Cuito Cuanavale, mas o seu sacrifício não foi em vão. Angola libertou o planeta do mais grave crime que alguma vez se cometeu contra a Humanidade, ao esmagar um regime que tinha o racismo como política de Estado.
No dia 23 de Março, segunda-feira, faz 27 anos que Angola, África e o Mundo triunfaram sobre os racistas de Pretória.
Um mau começo
O mês de Março de 1988 começou mal para os invasores. Impôs-se um tempo chuvoso e as chanas do Cuando Cubango ficaram alagadas.
Os invasores sul-africanos e as tropas da UNITA preparam nessa altura o assalto final ao Triângulo do Tumpo.
Aos primeiros minutos do dia 1 de Março, Mike Muller, comandante do 61º Batalhão Mecanizado sul-africano pede o adiamento do ataque porque considera as condições “muito adversas”. O seu superior, coronel McLoughlin, aceita. Às 7h30 a artilharia das FAPLA ataca a posição dos tanques sul-africanos. Mike Muller recua para posições mais seguras. Às oito da manhã, com o céu carregado de nuvens, quatro obuses de “BM21” das FAPLA atingem um camião de apoio “61 Koppie”. Há desorientação entre o inimigo. Às 11h25 os jactos Mig angolanos aproveitam uma aberta no tecto de nuvens baixas e atacam os invasores. Alguns minutos depois, os mísseis “Stinger”, fornecidos pelos Estados Unidos à UNITA, entram em acção e Mike Muller avança com os tanques em direcção ao Triângulo do Tumpo.
Todo este relato está detalhado no livro “War in Angola – The Final South Africa Phase” do especialista sul-africano em assuntos de defesa, Helmoed Roemer Heitman.
Às 13h55, a força de Mike Muller estava a pouco mais de dois quilómetros do Triângulo do Tumpo. Os invasores já viam a ponte sobre o rio Cuito e as árvores à entrada da aldeia de Samaria. Um veículo sapador sul-africano acciona várias minas. A reacção das FAPLA é contundente. Disparam com os morteiros de 120 milímetros, os canhões “D30” e os “BM21”. Um inferno de fogo e metralha envolveu os invasores e a tropa de Jonas Savimbi. Mike Muller responde com morteiros de 81 milímetros. Às 14h22, um super-tanque “Oliphant” detonou uma mina. As FAPLA disparam de frente e do flanco esquerdo.
Os sul-africanos e as unidades da UNITA estavam num campo de minas não convencionais criado pela engenharia angolana. Mais três tanques “Oliphant” detonam minas. Um fica imobilizado porque sofreu danos graves na esteira. Mike Muller entra em desespero e recua. Nessa ocasião, a tropa de Jonas Savimbi já tinha desaparecido. Para “abrir caminho”, a artilharia dos invasores dispara 500 obuses contra as posições das FAPLA. No auge da batalha o próprio tanque “Ratel” do comandate Mike Muller é atingido numa roda. Uma antena foi arrancada pelo fogo das FAPLA.
O tanque de outro sul-africano, Tim Rudman, também fica debaixo de fogo. Um obus de morteiro de 120 milímetros explodiu numa árvore, por cima da sua cabeça. Por sorte, instantes antes Rudman tinha entrado no tanque e baixado a escotilha. Um “Oliphant”, que avançava com soldados da UNITA sentados na parte de trás, à boleia, foi atingido e o canhão arrancado da torre. Os homens de Savimbi morreram.
Recuo organizado
Segundo Heitman, a situação era “muito grave”. Mas ia piorar para o lado dos racistas sul-africanos. Uma equipa de reconhecimento dos invasores informou que os tanques das FAPLA tinham acabado de abastecer na aldeia de Samaria e avançavam para o Triângulo do Tumpo.
A população de Samaria nunca abandonou a sua terra e teve um papel importante nos combates no Tumpo e na Batalha do Cuito Cuanavale. As Forças Armadas Angolanas (FAA) têm para sempre a gente Samaria entre aqueles a quem agredecem a ajuda.
O coronel McLoughlin ordenou ao 32º Batalhão que retirasse ordenadamente e aguardasse novas ordens. Mike Muller estava a enfrentar graves problemas mecânicos nos seus tanques e ordenou a retirada para longe do teatro de operações. Mas, para desgraça, um outro “Ratel” é atingido por uma salva de 23 milímetros. Às 14h50, Mike Muller pede nova retirada “para fazer uma reavaliação”. Menos de uma hora depois Muller informa o coronel McLoughlin que só já tem cinco tanques operacionais.
O coronel contacta de imediato os generais Liebenberg e Meyer e relata-lhe o desastre. A tropa da UNITA tinha desaparecido. A artilharia das FAPLA atacava com muita força. O comando ordena então a retirada de Mike Muller, que comandava a força principal. A derrota era evidente. “Mike Muller resumiu concisamente o resultado: o inimigo é forte e astuto. Apesar de não terem uma força poderosa na cabeça-de-ponte, as FAPLA possuíam um forte dispositivo de artilharia que fez a maior parte da luta. Planearam e executaram a sua defesa, seguramente de forma muito inteligente”, diz Heitman no livro. Às 17h00 o coronel McLoughlin desiste do ataque ao Triângulo do Tumpo e Mike Muller regressa ao ponto de partida.
Operação “Hooper”
No dia 2 de Março os invasores estavam a “digerir” a derrota. O brigadeiro Smith, o coronel McLoughlin e outros oficiais sul-africanos estão no posto de comando e discutem as operações para o futuro.
O brigadeiro e o coronel decidem voar para o Rundu. Regressam no dia seguinte e trazem ordens de retirar a Bateria “Quebeque”. As baterias “Romeo” e “Sierra” continuavam no teatro de operações, mas só atacavam de noite. De dia ficavam escondidas junto à nascente do rio Chambinga. No dia seguinte chega à nascente do Chambinga a 82ª Brigada para render o pessoal. O coronel McLoughlin sai de cena e entrega o comando táctico ao coronel Fouché. O derrotado passa a pasta a um perdido. Mike Muller tem o mesmo destino: volta para casa derrotado. No dia 6 de Março o 4º Batalhão de Infantaria da África do Sul retira. Os invasores são mais uma vez escorraçados e termina a Operação “Hooper”. O apartheid continua enterrado, desta vez nos pantanais do Triângulo do Tumpo.
Nas guerras a natureza é também um adversário ou aliado. “Hooper” é um pássaro dos pântanos. Naquele dia o pássaro não emprestou as suas asas aos invasores para voarem do Triângulo do Tumpo até à vila do Cuito Cuanavale. Estava do lado da humanidade e da justiça.
Pilotos ousados
No dia 9 de Março, ao fim da tarde, um Mig 23 bombardeou uma escolta dos invasores na nascente do rio Lomba. O comando sul-africano ficou “muito preocupado”, diz Heitman, pelo ataque inesperado, mas sobretudo “porque foi um ataque muito audacioso”. Os angolanos são génios e estava traçado o início dos graves problemas que os racistas de Pretória tinham de enfrentar no Triângulo do Tumpo. Já tinham os pés enterrados, mas haviam de ficar enterrados até ao pescoço.
“O general Meyer começou a ficar impaciente porque o próximo ataque contra o Triângulo do Tumpo podia nem ter lugar. A 9 de Março, ele manifestou a sua preocupação, ao enviar uma mensagem de desagrado aos homens no terreno, devido às demoras, tendo enfatizado que a situação só beneficiava as FAPLA, que podiam aproveitar o tempo para melhorar a sua defesa. Também estava preocupado com a situação internacional, que podia obrigá-los a retirarem-se do teatro das acções combativas antes que a missão tivesse sido levada a cabo” , recorda o especialista Heitman.
Carne para canhão
O coronel Fouché decidiu fazer um ataque em força entre 20 e 22 de Março. Mas, na sua perspectiva, os oficiais e soldados “brancos” tinham de ficar de fora. Apenas entravam em combate aqueles que fossem indispensáveis. A lógica do chefe dos invasores era a seguinte: “é preciso evitar ao máximo que jovens boers continuem a morrer por uma causa nebulosa e pouco convincente”, escreve Heitman no seu livro.
Fouché apresentou o seu plano aos oficiais da UNITA que, como sempre, deram o seu acordo. Estava garantida a carne de cidadãos angolanos para os canhões do regime racista de Pretória. Assim, inutilmente e sem glória, se perderam muitas vidas humanas, que nunca seriam choradas na África do Sul do “apatrheid”.
No ataque ao Triângulo do Tumpo também participaram o Batalhão Búfalo, constituído por angolanos, e mais dois esquadrões de tanques do 61º Batalhão Mecanizado. Fouché e os oficiais da UNITA fizeram “um plano provisório” que depois entregam ao brigadeiro Smith, para aprovação superior.
Mas os invasores e a tropa de Savimbi têm uma surpresa reseervada. As FAPLA começam a pressionar a retaguarda das tropas inimigas, desferindo golpes mortíferos de aviação. Dois Mig atacam o Regimento Mooi Rivier na noite de 10 de Março.
No dia seguinte o posto de comando da 82ª Brigada sul-africana avança para o Cuito e o 61º Batalhão Mecanizado vai para a “área de desmobilização”. O Estado-Maior da 82ª Brigada separa-se do Estado-Maior da 20ª Brigada e no dia seguinte a 20ª Brigada retira-se em direcção ao Rundu, no então Sudoeste Africano, hoje Namíbia
A 13 de Março é declarado o fim oficial da Operação “Hooper”. Estava na hora de “embalar” tudo e regressar a casa. O Cuando Cubango já não era um “campo de treinos” para os cadetes boers das escolas militares.
Operação “Packer”
O alto comando sul-africano ordena então o início da “Operação Packer”. É o último folego dos invasores. A 82ª Brigada, cujas tropas fizeram treinos em Bloemfontein entre 10 e 26 de Fevereiro, recebe ordens para entrar em acção. A chuva, novamente ela, atrasou o seu avanço para Angola. Mas agora está no Cuando Cubango, pronta para atacar o Triângulo do Tumpo e a partir daí tomar a vila do Cuito Cuanavale e a sua base aérea.
O coronel Fouché assume pessoalmente o comando dos ataques ao Triângulo do Tumpo. O derrotado Mike Muller foi substituído por um tanquista experiente, o comandante Gerhard louw, e Boet Schoeman foi nomeado comandante adjunto. Mas o Triângulo do Tumpo era intransponível. Morteiros e canhões anti-tanque estavam prontos para rechaçar qualquer força que tentasse penetrar.
Nas posições principais das FAPLA estavam cinco “GRAD”. Por trás das forças de Infantaria estavam preparados dez tanques, escondidos nos refúgios. Os engenheiros angolanos fizeram campos de minas, algumas não convencionais, em todas as entradas possíveis.
O rio Tumpo e os seus afluentes eram obstáculos naturais intransponíveis num mês de Março particularmente chuvoso. A artilharia e infantaria angolanas tinham muito poder. As forças defensoras das FAPLA tornaram-se invencíveis.
Dia da decisão
Os invasores sul-africanos colocam no campo de batalha os artilheiros do Regimento da Universidade de Potchefstroom, a elite da sua artilharia. O derradeiro ataque ao triângulo do Tumpo recebe o nome de Operação “Packer”. O brigadeiro Smith marcou o ataque para 23 de Março. O coronel Fouché pede que a data seja adiada para o dia 25, porque enfrenta “grandes dificuldades logísticas”. Os Mig não descansam e atacavam com frequência as colunas de reabastecimento. O brigadeiro recusa.
No dia 18 de Março os sul-africanos perdem duas pontes móveis de engenharia, atingidas por “fogo amigo” dos canhões “G5”. A desorientação começa a apoderar-se dos sul-africanos. E foi nesse estado que partiram para a batalha final.
Os invasores atacaram com tudo: a 82ª Brigada, com mais dois esquadrões de tanques do Regimento Presidente Steyn, um esquadrão de carros blindados do Regimento Mooi Rivier, dois batalhões de infantaria motorizada do Regimento de La Rey e do Regimento Groot Karoo, artilharia do Regimento da Universidade de Potchefstroom com canhões “G5” e “G2”, 44ª Brigada de Paraquedistas e a Defesa Anti-Aérea. A UNITA entrou com os 3º, 4º e 5º batalhões regulares, o 66º e 75º batalhões semi-regulares, mais os “Stinger” oferecidos pelos EUA.
Os “Mirage” começaram a atacar no dia 19 de Março. Durante o ataque um “Mirage”, pilotado pelo major Willie van Coppenhagen, é atingido e despenha-se na área do Cavango. A 22 de Março a 82ª Brigada avança para o Triângulo do Tumpo. A infantaria da UNITA vai atrás. Às 22h45, o coronel Fouché move o comando para o planalto norte do rio Chambinga e chega à uma e meia da manhã de 23 de Março. Estavam à sua espera os generais Liebenberg e Meyer e os coronéis Deon Ferreira e Neil. Às quatro da manhã do dia 23 de Março de 1988 a força de ataque atinge a “área avançada de concentração”.
Resposta fulminante
As forças armadas respondem ao ataque do inimigo às sete da manhã, a norte da nascente do rio Dala. Dez minutos depois desta acção, entram em acção os artilheiros do Regimento da Universidade de Potchefstroom, que bombardeiam o Triângulo do Tumpo. Às oito, as FAPLA respondem com o flagelamento à força principal de ataque dos invasores. Às 8h35 um tanque “Oliphant”, no flanco direito da linha de ataque, acciona uma mina. Fica fora de combate. Entre as 11h30 e as 11h50 os “G5” disparam contra o posto de comando avançado das FAPLA em Nancova. Um aguaceiro intenso obriga a parar o fogo. O comandante Louw limpa com um “plofadder” um campo de minas. Avança em direcção ao Triângulo do Tumpo com dois esquadrões de tanques que levam à cabeça um draga-minas. As FAPLA reagem em força e às 12h45 Louw retira-se. O 5º batalhão regular da UNITA sofre severas baixas. Louw tenta avançar de novo, mas foi travado por uma barragem de fogo das FAPLA. A infantaria da UNITA é desbaratada. Às 13h46 os “Oliphant” entram num campo de minas. Dois ficam destruídos. Louw tenta atacar de novo, mas mais uma vez é travado. Às 13h48 Louw informa o comando que os tanques estão sem combustível. Andaram às voltas para evitar os campos de minas o que levou a um gasto anormal de combustível.
Contributo dos engenheiros
O excelente trabalho realizado pelos engenheiros das FAPLA na criação de obstáculos contra a infantaria mecanizada e a técnica blindada do inimigo atingiu o seu ponto culminante: os super-tanques “Oliphant” estavam confinados aos campos de minas, consumindo combustível, enquanto procuravam por uma saída, no labirinto, totalmente à mercê da artilharia e da aviação angolana. Louw viu vários “Oliphant” atingidos. Deu ordens para que todos fossem retirados. Mas apesar dos esforços, três foram abandonados. As FAPLA tinham ali os seus troféus e a prova de que tinham destroçado o regime de apartheid. O general Meyer enviou um telex ordenando que o Coronel Fouché se assegurasse que os três “Oliphant” abandonados eram destruídos. Mas isto já não era possível. Os invasores, derrotados, retiravam para Mavinga, vergados ao peso da derrota. Até final de Março, todas as unidades invasoras abandonaram Angola.
O regime de apartheid ficou enterrado no Triângulo do Tumpo. A Humanidade deve aos angolanos a libertação de Mandela, a instauração da democracia na África do Sul e a Independência da Namíbia. Março de 1988 foi o culminar do ano que mudou a face do continente africano.
Fonte JA

sábado, 7 de março de 2015

Memorias do tempo - O recomeço da guerra em Angola

Fonte: Rui Filipe Ramos in facebook

1992. Setembro/Outubro, há 23 anos, os labirintos da minha vida. Quando um dirigente da UNITA me disse «isto está por horas», eu perguntei-lhe porquê. A resposta: «Nós não vamos ganhar a segunda volta das presidenciais, por isso para nós a solução não passa pelas eleições mas pela via armada, o objectivo é tomar o bairro de Alvalade e o Futungo para prender os ministros». Ante o inexplicável laxismo e a passividade do Governo, horas depois, de repente, como se de uma acção planificada se tratasse, as forças militares da UNITA tomam a Caála e Dombe Grande e exercem uma pressão militar terrível sobre alvos governamentais no Huambo, Bié, Malanje, Mbanza Congo, Luena, Uige, Ndalatando, Lubango, Benguela, Lobito, tomam a Lunda Norte para vender diamantes utilizados na compra de armas e fazem um cerco militar a Luanda, um semi-arco que vai de Mbanza Congo a Malanje, Mussende, Nharea, Andulo e Huambo, com tropas avançadas em direcção a Caxito. As ofensivas militares da UNITA são acompanhadas da prisão e morte dos administradores, polícias, militantes e simpatizantes do MPLA, de quem até hoje ninguém fala, não sei porquê.
O Governo angolano tinha esta posição «esquisita»: não responder à UNITA, fosse o que fosse que ela fizesse, para evitar nova guerra. Por isso nunca fez nada para retirar da posse militar da UNITA, contra os acordos de Bicesse, zonas como Quimbele, Nharea, Likua, Mussende e Jamba, só para falar das mais conhecidas.
No dia 30/9/1992 a UNITA ocupa militarmente diversas embaixadas e residências de diplomatas no bairro Alvalade, em Luanda, onde Jonas Savimbi vivia em luxuosa mansão. O embaixador português António Monteiro tem de «saltar muros» mas a reacção lusa é «não empolar» a situação». Sentindo-se derrotado, Jonas Savimbi declara a 3 de Outubro de madrugada: «O CNE terá de tomar em consideração que todas as suas manobras em números falsificados levarão a UNITA a tomar posição, a qual poderá perturbar profundamente a situação deste país.» Salupeto Pena ameaça com o caos e a catástrofe se os resultados eleitorais forem publicados. Chivukuvuku fala em «somalização» de Angola. Jonas Savimbi manda os generais da UNITA abandonar o exército único nacional para regressarem às FALA. A contra-inteligência da UNITA, generais Uambo e Andrade, está em Luanda. Sean Clearly, o sul-africano branco que dirigia a UNITA na Jamba, também está. O golpe de Estado estava à vista.
Sete dias depois, domingo, dia 10, Salupeto Pena tem em seu poder alguns polícias, que as tropas de elite da UNITA capturaram quando eles iam investigar o rebentamento de uma bomba de madrugada, que eu próprio ouvi, Salupeto ameaça, na Rádio Nacional: «Se o governo tentar libertar os polícias, nós fuzilámo-los.» O Governo parece não ter forças militares, onde estão as FAA? A iniciativa militar é da UNITA em toda a sua totalidade. A seguir a UNITA «condena à morte» a representante da ONU Margareth Anstee. Há dirigentes do MPLA receosos, há quem pense em sair do país, a UNITA militarmente parece toda-poderosa, proíbe a circulação automóvel no bairro Alvalade, o povo critica estas e outras arbitrariedades…
As adormecidas forças militares governamentais acordam nesse mesmo dia 10 da letargia e começam timidamente a reagir à tomada militar do poder pela UNITA.
No dia 10 ao nascer do sol eu estava em frente do Hotel Turismo, em Luanda, onde polícias estavam reféns da UNITA e assisti pessoalmente ao recomeço da guerra, ao fim da manhã. As tropas de elite da UNITA, com boinas vermelhas, cercaram toda a área até ao Baleizão, os «ninjas» estavam expectantes, nos seus veículos de piso baixo, fora do cerco, no antigo largo D. Afonso Henriques.
A guerra recomeçou ali á minha frente, do seguinte modo: a Polícia estava furiosa com a prisão dos seus efectivos pela UNITA. Mantendo-se o impasse, um carro preto com polícias vem do Comando-geral perto da Lello em direcção à então bomba de combustível e vai até perto do Hotel Turismo. As tropas da UNITA reagem e começam a disparar. Sou apanhado pelo fogo cruzado de metralha e morteiros.
Assim que posso, saio do cerco, passo por «adormecidos» «ninjas» e corro para a Rádio Nacional, onde a guarnição militar «estava a dormir». Grito-lhes: a guerra recomeçou, acordem!!! 
A acção militar da UNITA era para vir de Caxito, onde estavam as suas tropas de elite e foi para lá que todos tentaram fugir quando as Forças Armadas Angolanas reagiram. «O MPLA não está a ganhar, o MPLA não pode ganhar as eleições, se ganhar, nem daqui a 50 anos abandona o poder», ouvi na Rádio Vorgan a voz amargurada de Jonas Savimbi na madrugada daquele dia de Outubro de 1992, recusando a segunda volta das eleições presidenciais, uma atitude de fuga que considero não-inteligente e não-própria de um dirigente, que abandonou os seus correligionários em Luanda e fugiu para a mata para desencadear a «guerra maldita» 1992-2002 que culminou com a sua morte. Um erro do Governo: avaliou mal a força militar e as intenções da UNITA, deixando «adormecer» as Forças Armadas Nacionais. Dois erros de Jonas Savimbi: em 1992 abandonou os seus homens em Luanda, eles não gostaram. Em 2002 descalçou as suas botas e foi apanhado descalço. 

PROJECTO LIBOLO

Estive em Calulo, Libolo, a terra que me viu nascer, como congressista convidado ao Congresso Internacional Linguístico (20° Conferência Anu...