terça-feira, 12 de novembro de 2019

É HISTÓRIA, NÃO ACEITEM ESTORINHAS
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"Em finais de Janeiro de 1975 toma posse perante o Alto Comissário Gen. Silva Cardoso o governo de Transição com pastas distribuídas pelos três movimentos e por Portugal, não fazendo Portugal parte do Colégio Presidencial (Lopo do Nascimento/Johny Eduardo Pinóqui/N’Dele). As reuniões do Governo de Transição tornam-se palco de permanentes agressões verbais, quando não de tentativas de agressão física. [11]
A situação interna não cessa de se deteriorar, chegando-se a uma situação de guerra aberta entre o MPLA e a FNLA que entra no limiar da guerra civil no interior da cidade de Luanda.
As forças militares mistas como embrião do exército nacional angolano previstas no Acordo do Alvor, não avançam dada a situação de confronto permanente entre os Movimentos apesar dos esforços da parte portuguesa.
A atitude de “neutralidade passiva” do Alto Comissário, pelo menos no que às atitudes inconvenientes da FNLA que violavam o Acordo de Alvor, o que provocava um confronto permanente entre o MFA de Angola e o Alto Comissário.
Proibição de entrada de forças militares em Luanda não respeitada pela FNLA e MPLA que continuam a introduzir na capital homens e armamento que serve para o confronto urbano.
Em finais de Abril o MFA de Angola elabora um estudo de situação que envia para o Conselho de Revolução que se tinha institucionalizado em Portugal depois do golpe do 11 de Março, no qual apresenta os principais problemas com que a descolonização de Angola se debate:
◦Governo de Transição paralisado;
◦Forças militares mistas não avançam [12] . Presume-se mesmo a presença de militares zairenses entre os elementos da FNLA, falando apenas o francês;
◦Constantes violações do Acordo do Alvor por parte dos movimentos;
◦Incapacidade anímica do Alto Comissário português para dominar a situação;
O MFA de Angola já então designado por CCPA [13] , propõe:
◦A “neutralidade activa” [14] por contraponto à “neutralidade passiva” do Alto Comissário;
◦A aliança MPLA/UNITA para se poder recuperar o essencial do Alvor, face à auto-marginalização da FNLA. Esta proposta não foi em frente porque o MPLA a recusou à partida;
◦A substituição do A. C. que se distanciava cada vez mais da CCPA;
◦O reforço do papel do MFA só possível com a sua institucionalização como acontecera em Portugal com o C. R.;
Estava bem delineada a confrontação para a conquista do poder. Os confrontos MPLA/FNLA agravavam-se em Luanda e alastraram a outros distritos.
De novo o MFA de Angola vem a Portugal em finais de Maio expor a gravidade da situação, sugerindo a necessidade de uma nova cimeira, para a qual o MPLA e a UNITA não se opunham totalmente. Este Movimento ocupava uma posição fortalecida em Nova Lisboa, endurecendo o seu discurso contra Portugal.
Os três movimentos encontram-se em Nakuru entre 16/21 de Junho, sem a presença de representante português, em princípio o Alto Comissário, em clara violação dos Acordos do Alvor. O comunicado final, «...omite, ostensivamente qualquer referência a Portugal, mas tinha aspectos positivos nomeadamente uma análise da situação que podia ser encarada, sem esforço, como uma séria autocrítica e que nos seus pontos fundamentais coincidia com os estudos que a CCPA vinha fazendo [15] .
Embora este Acordo de Nakuru declarasse que os três presidentes «...afirmam solenemente renunciar ao uso da força como meio de solucionar os problemas e honrar os compromissos resultantes do Acordo...» [16] , os resultados práticos foram nulos e caminhava-se para a guerra civil generalizada.
O MPLA lança a batalha de Luanda para expulsar a FNLA da capital, o que consegue. A FNLA, de acordo com Pezarat Correia, «tinha concentrado no Norte um forte exército, já com unidades do tipo convencional incluindo algumas forças do exército regular zairense, e inicia uma manobra para sul cujo objectivo é a ocupação de Luanda» [17] , ocupando nos finais de Julho os distritos do Zaire e do Uíge. A UNITA domina o planalto central expulsando as forças do MPLA e da FNLA dos distritos do Huambo e do Bié.
É a escalda da guerra civil com os movimentos a ocuparem partes do território, o que podia conduzir à balcanização de Angola. As forças militares portuguesas ainda espalhadas pelo território foram concentradas nas principais cidades para evitar serem envolvidas nos conflitos entre movimentos e em relação a Luanda é dada ordem de impedir qualquer tentativa de entrada da FNLA na capital. Ao pedido da parte portuguesa a Lisboa de reforço de meios, apenas é disponibilizada uma companhia de pára-quedistas (cerca de 120 homens).
Portugal vivia um processo complicado e era difícil, sobretudo os partidos políticos colocarem nas suas listas de prioridade o problema de Angola. Não dava votos. É o Presidente da República que assume o controlo mais directo do processo, para o que sentiu a necessidade de criar junto a si um Gabinete de Angola a fim de ter uma ligação mais directa com Luanda e ter disponível informação em tempo oportuno. Eu vim integrar esse Gabinete como elemento ligado ao processo desde o princípio e conhecedor da situação que se vivia em Angola (finais de Junho de 1975) onde, juntamente com o Cor. Passos Ramos que como elemento da Comissão Nacional de Descolonização estivera no Alvor, passámos a assessorar o P.R. no que à descolonização de Angola dizia respeito.
Em 30 de Julho o Alto Comissário, General Silva Cardoso, demite-se sendo substituído pelo Almirante Leonel Cardoso. Perante o não funcionamento dos órgãos previstos no Acordo do Alvor e a permanente violação do acordado, Portugal decide suspender parcialmente o Acordo de Alvor, o que levantou delicados problemas em termos de direito internacional, tendo sido incumbidos de estudar uma solução jurídica para o assunto a Professora Magalhães Colaço da Faculdade de Direito de Lisboa e o Dr. Miguel Galvão Teles. Entretanto no território, verifica-se a internacionalização do conflito: Zaire, África do Sul e Cuba intervêm em apoio aos diferentes movimentos
Em vésperas da independência estava iminente o ataque a Luanda em duas frentes. Mas o MPLA/Cubanos resistiram e a capital permaneceu em poder do MPLA graças à destruição da ponte sobre o rio Queve que deteve a coluna que se aproximava de sudeste e da coluna do FNLA, integrando mercenários portugueses, ter sido derrotada na batalha do Kifandongo. [18]
Em reunião da Comissão Nacional de Descolonização de dia 09 de Novembro é decidido o envio de uma Delegação a Luanda em representação de Portugal no momento da declaração de independência de Angola, chefiada pelo Almirante Victor Crespo e na qual eu me integrava. Por decisão do Governo foi travada a ida dessa delegação a Luanda, pelo que a independência da República Popular de Angola foi proclamada sem a presença de qualquer representante da antiga potência colonizadora, Portugal.
A 10 de Novembro, pelas dezoito horas, o Alto Comissário leu uma proclamação em nome da República Portuguesa, reconhecendo a independência do Estado Angolano e a entrega da soberania ao povo angolano a quem compete decidir das formas do exercício da soberania, após o que a última bandeira portuguesa símbolo da soberania portuguesa em África foi arriada e o Alto Comissário e comitiva embarcaram numa fragata da Marinha de Guerra Portuguesa [19] . Às zero horas de dia 11 de Novembro de 1975 estava fora das águas territoriais angolanas, navegando rumo a Portugal, enquanto o Dr. Agostinho Neto proclamava solenemente a República Popular de Angola, enquanto a FNLA e A UNITA proclamavam no Uíge e no Huambo a República Democrática de Angola, sem sucesso.
Foi a única ex-colónia onde se proclamou a independência sem a presença de representantes oficiais de Portugal. Lamento o que considero um grave erro histórico que teve consequências no relacionamento entre os dois países, vindo Portugal a ser o 83.º país a reconhecer, tardiamente, o país independente que nascera da sua antiga colónia. "
A VELHA QUESTÃO QUEM COMEÇOU COM A GUERRA EM 1975.
BREVE CRONOLOGIA DE ANGOLA
1483 – Portugal faz exploração ao longo da costa angolana.
1575 – Portugal inicia tráfico de escravos.
1900-1932 – Conquistadas três tribos significativas, mas todas resistem à consolidação da dominação portuguesa.
BAKONGO – Norte de Angola
KIMBUNDU – Norte e Centro de Angola (Luanda)
OVIMBUNDU – Centro de Angola (50% do total da população de Angola)
MOVIMENTOS NACIONALISTAS DE ANGOLA
HOLDEN ROBERTO, Presidente da FNLA ou Frente Nacional-1961, o mais violento. Com sede no Zaire. Contactos esporádicos com a CIA.
AGOSTINHO NETO, intelectual marxista, Presidente do MPLA-Movimento Popular; melhor organização política. Os guerrilheiros combatiam a partir da base da Zâmbia e do Congo (Brazazaville). Auxilio esporádico da União Soviética.
JONAS SAVIMBI, Presidente da UNITA-1966. Com sede na Zâmbia. Dirigiu pessoalmente a luta de guerrilha desde 1967. Doze oficiais treinados por Norte-Coreanos.
1961 – Tem inicio uma guerra de guerrilha prolongada, desencadeada separadamente por cada um dos três movimentos, combatidos pelo exército português que utilizava armas da NATO fornecidas pelos Estados Unidos.
1969 – NSSM 39 (Relatório “Tar Baby”-de Kissinger)
1973-1974 – A FNLA aceita fornecimento avultado de armas e conselheiros da China e a UNITA recebe armas também da China.
Abril 1974 – O exército português, cansado de guerras coloniais, assume o governo de Portugal.
Maio 1974 – 112 conselheiros chineses juntam-se à FNLA no Zaire. A China envia um carregamento de 450 toneladas de armas para a FNLA.
7 de Julho de 1974 – A CIA inicia secretamente o financiamento de Roberto (não aprovado pela Comissão dos 40) e faz démarches em Washington para obter apoio para a FNLA.
Agosto de 1974 – Os soviéticos reagem às iniciativas da China e dos Estados Unidos anunciando apoio moral ao MPLA.
Fins de 1974 – Os soviéticos começaram a enviar pequenas quantidades de armas para o MPLA via Congo (Brazzaville).
15 de Janeiro de 1975 – No acordo do Alvor os três movimentos de libertação concordam numa competição pacífica, sob a supervisão dos Portugueses, para eleições e independência marcadas para 11 de
Novembro de 1975.
26 de Janeiro de 1975 – A Comissão dos 40 aprova 300.000 dólares para Roberto.
Fevereiro de 1975 – A FNLA destrói a perspectiva de uma solução pacífica atacando o MPLA em Luanda e no Norte de Angola.
Março de 1975 – Os soviéticos respondem intensificando os carregamentos de armas para o MPLA. Conselheiros soviéticos e cubanos vão para Angola.
Julho de 1975 – A Comissão dos 40 aprova um programa paramilitar de 14 milhões de dólares para apoiar a FNLA e a UNITA contra o MPLA.
O MPLA expulsa a FNLA e a UNITA de Luanda.
Os Estados Unidos ignoram os apelos do Senegal para uma mediação por parte das Nações Unidas ou da Organização da Unidade Africana.
Os carregamentos de armas da CIA começam a entrar em Angola via aeroporto de Kinshasa.
As unidades blindadas do exército zairense juntam-se à FNLA e à UNITA em Angola.
Agosto de 1975 – A força da FNLA ameaça Luanda.
A CIA mente ao Congresso dos Estados Unidos sobre entrega de armas a Angola e utilização de conselheiros americanos.
O Subsecretário de Estado para os Assuntos Africanos dos Estados Unidos, demite-se como protesto pela intervenção paramilitar dos Estados Unidos.
Princípios de Setembro de 1975 – O MPLA retoma a iniciativa. Realiza uma conferência de imprensa alargada para mostrar armas norte-americanas que têm rótulos de embarque recentes da Força Aérea dos Estados Unidos.
Meados de Setembro de 1975 – O exército do Zaire compromete dois batalhões para-comandos.
Setembro de 1975 – A CIA inicia uma política de fornecimento de informação tendenciosa à imprensa dos Estados Unidos. A Agência desencoraja a discussão para uma solução pacífica entre a UNITA e o MPLA. O Departamento de Estado rejeita a abertura do MPLA para negociações.
Outubro de 1975 – Cuba começa a introduzir unidades do exército regular em Angola.
Uma coluna blindada secreta sul-africana junta-se à UNITA e dirige-se para o Norte. Colaboração entre a África do Sul e a CIA no terreno.
11 de Novembro de 1975 – Independência de Angola, proclamada pelo Presidente Agostinho Neto, em nome do Comité Central do MPLA. ESTAVA CRIADA A REPUBLICA POPULAR DE ANGOLA.
12 de Novembro de 1975 – O MPLA e os cubanos destroem e desmoralizam o exército da FNLA e do Zaire no Norte de Luanda.
Novembro de 1975 – A CIA inicia o recrutamento de mercenários em França.
Dezembro de 1975 – A CIA inicia o recrutamento de 300 mercenários portugueses.
Novembro-Dezembro de 1975 – A CIA continua a mentir ao Congresso sobre as armas e conselheiros utilizados em Angola; a Administração perde a batalha para o apoio do Congresso.
Janeiro de 1976 Retirada dos sul-africanos.
Janeiro-Fevereiro de 1976 – Um numeroso exército de cubanos e do MPLA, com aviões a jacto, helicópteros e armamento pesado esmaga a FNLA e a UNITA.
Abril de 1976 – Remunerações da CIA: 3,85 milhões de dólares dados às pessoas que apoiaram o programa.
Junho de 1976 – A CIA começa a atribuir condecorações e louvores a mais de uma centena dos seus homens comprometidos com o programa para Angola.
(J. Stockwell / 1979)

PROJECTO LIBOLO

Estive em Calulo, Libolo, a terra que me viu nascer, como congressista convidado ao Congresso Internacional Linguístico (20° Conferência Anu...