sexta-feira, 12 de outubro de 2012

ÁGUA - uma cronica sem Kijila

Por: Rui Ramos
Meu nome é Dick quando proso e quando desproso como é o caso porque assunto é seco.
Nasci no bairro operário há 65 anos. Quando me conheci minha casa humilde era seca, quer dizer, não tinha água. Fiz todo a instrução primária sem água, tinha mãe acartava água sem parar. Nem casa de banho. Nem luz, o que tínhamos era um candeeiro de petróleo, alguém se lembra? Não? Não tem kijila. Então nos anos sessenta já estava a estudar no liceu, sim aquela liceu salvador correia cheio de brancos. Na minha turma tinha o Tony e o Magosa, algum tinha água do tubo em casa? Morde meu dedo. Como então estudávamos? Diferente de quem tinha luz eléctrica no quartinho. Nosso quartinho nem existia. Livros sombreados com candeeiro de petróleo. Minha santa mãe cozinhava com fogão primus, sabe o que é? Não? Não tem kijila.
Bons estudos, nunca reprovei nem eu nem eles.
No ano 1975 ainda sem água e sem luz.
Então naquele Novembro com o Kinfangondo em guerra, morteiros muitos água nunca.
Em 76 fui em Cabinda dar aulas sem casa. A única casa eu ocupei, bem lá em baixo ao pé do Kiloango. Lê Tchiloango. Sexto andar. Sem água. Minha água era subir seis andares a pé com garrafas de água castanha. E bebia. E tomava banho.
De volta em Luanda 1978 cheguei no paraíso, um rés do chãozinho modesto com torneira-raiz num tanquinho, sim quase em baixo da terra, então o povo fazia bicha, o povo isto é as senhoras, desde as 5h até ás 8h um pouco de água, eu pedia dá licença para me lavar para ir trabalhar. Sorte a minha. Quase 40 anos de vida e só aí com aquela aguinha das 6h às 8h. Ponto final.
No Serpa Pinto lá na baixa naquela torneira do jardim, mamãs serpenteavam ruas com banheiras, enche põe na cabeça, europeia gemia tem desvio na coluna, mamã de Luanda não tem coluna. Na Maianga também grande bicha sabe o que é bicha? não? Não tem kijila. Mas na Maianga também tinha uma torneirinha rentinha ao chão que oferecia sua água-benta.
(Continua)

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Alguém disse a pouco que o problema da falta de "luji" não é só da EDEL e um outro amigo aqui também do FB disse-me a pouco e que na falta de aspirina paracetamol serve e lhe dei razão e cliquei no gosto do post dele.
O Degelo dos glaciares, a estiagem pelo país, a falta d'água no rio Kwanza, a ENE que "paia" a bendita "luji" na EDEL a muito que sabe do problema. Caramba, porque não encomendaram a ditas centrais térmicas com mais antecedência? Nós consumidores batemos e vamos continuar a bater na EDEL porque é com ele que assinamos os contratos e cabe a ele nos fornecer a "luji". Argumento nenhum socorre estes incompetentes da EDEL/ENE/EXECUTIVO, porque andaram a dormir e agora já é tarde demais e o pior gastaram a aguá toda da albufeira de Kapanda na campanha eleitoral e agora temos que viver de "luji" vai, "luji" vem. Estes camaradas deveriam ser exonerados, p... afinal para que nos serve o nosso petróleo?
 
by Cussendala in facebook

AS FOGUEIRAS CREPITANTES DE SAVIMBI


Angola sabe da sua própria experiência, como um homem, um único homem, pode provocar um sofrimento incalculável que vai para além de qualquer razão, senão a de procurar de forma desumana satisfazer a sua ambição pelo poder. E, Angola sabe quão rápida a paz pode ser abençoado uma vez que este homem é eliminado”

Há cerca de 20 anos Savimbi dirigiu um dos seus actos mais macabros na Jamba, seu antigo quartel-general. De lenço vermelho enrolado ao pescoço, farda verde e pistola à cintura, o líder da Unita lançava à fogueira dezenas de mulheres e respectivos filhos.
Os nomes das desafortunadas eram anunciados pela tenebrosa voz de Jonas Savimbi. Pouco depois, mulheres e crianças, arrastadas por soldados armados, ardiam em chamas flamejantes.
A morte de Vitória, uma bela jovem benguelense, marcou de forma significativa os espectadores de tão triste teatro. Perante a iminência da morte, Vitória dispensou que fosse arrastada por soldados, dirigiu-se ao fogo com os próprios pés e lançou-se, sendo aí consumida pelas chamas até às cinzas. A jovem não soltou um único grito e, ante o fatídico momento, fitou o líder da Unita e profetizou: Tu não vais vencer e o teu fim será triste.
No dia 22 de Fevereiro de 2002, Jonas Savimbi é crivado de balas disparadas por homens de uma unidade de elite das Forças Armadas Angolanas e da Polícia Nacional. Cumpria-se, assim, a profecia de Vitória, 19 anos depois.
Há sete anos, os Soares & companhia lançaram, em Portugal, um livro que elogia feitos de Jonas Savimbi. Quase ao mesmo tempo, em Luanda, a Comissão Política da Unita organizou uma cerimónia de homenagem ao seu “mano mais velho”.
A cerimónia de Luanda e o lançamento do livro em Lisboa contaram com a intervenção e o apoio de conhecidos “defensores” dos direitos humanos em Angola. Nestes actos foram enaltecidos feitos de um homem que queimou crianças em fogueiras, abriu à baioneta ventre de mulheres grávidas, destruiu cidades, vilas, escolas, fábricas, estradas...
Homenagear Savimbi é derramar lágrimas de crocodilo sobre as cinzas de crianças, mulheres e outros inocentes que arderam nas fogueiras da Jamba, no comboio de Zenza do Itombe e não só. E quando gestos destes engajam portugueses, demonstra bem a cumplicidade na morte de compatriotas seus em vários pontos de Angola, cuja memória mais recente é da família Viola, no Ambriz. Mais argumentos, seria exercício de mera retórica, diante da perversidade dos crimes cometidos. Savimbi incentivou o seu exército a destruir pontes, atacar cidades e, nos últimos tempos, a massacrar todos os estrangeiros que fossem capturados. Provas irrefutáveis foram divulgadas através de cassetes de vídeo apreendidas pelas FAA.
Por isso, os actos de alguns dos “nossos” mais mediáticos humanistas, resvalam dos princípios por que dizem pugnar.
Aliás, Justino Pinto de Andrade foi o primeiro a exaltar a memória de Jonas Savimbi após a sua morte, num espaço de crónicas que subscreve na Rádio Eclésia. Tratou-se de uma demonstração de afecto por um homem que violou dois acordos de paz, dizimou a família Chinguji e pactuou com o regime do apartheid da África do Sul.
Por isso, faço minha a posição de um intelectual português que classifica a morte de Jonas Savimbi como uma verdadeira tragédia, porque deveria ter acontecido 30 anos antes do dia 22 de Fevereiro de 2002.
Ainda hoje, o choro de mulheres e crianças a arder em chamas na Jamba, ecoa nos ouvidos das pessoas de bem que assistiram à carnificina. Mas não é suficiente para tocar a sensibilidade de alguns dos nossos “defensores” dos direitos humanos.
Quanto cinismo, meu Deus!

Raimundo Salvador - Jornalista angolano

PROJECTO LIBOLO

Estive em Calulo, Libolo, a terra que me viu nascer, como congressista convidado ao Congresso Internacional Linguístico (20° Conferência Anu...