quarta-feira, 29 de outubro de 2025

O Regionalismo interno na UNITA e os seus desafios contemporâneos

Por Artur Cussendala

As eleições internas no XIV congresso da UNITA revelam, em essência, a persistência de uma clivagem histórica dentro do partido, enraizada em rivalidades regionais e identitárias que remontam ao período da sua formação. De um lado, encontram-se os militantes oriundos do Huambo, que sustentam maioritariamente o ex-presidente do partido; do outro, perfila-se o principal desafiante, o filho do líder fundador, cuja base de apoio se concentra, de forma expressiva, entre os militantes provenientes do Bié.


Essa divisão não é um fenómeno novo. Desde a fundação da UNITA, em 1966, no "interior do Moxico", Jonas Savimbi procurou construir uma base política sólida no planalto central, apoiando-se sobretudo nas populações ovimbundas do Bié e do Huambo. No entanto, ao longo das décadas seguintes, a distribuição desigual de influência, prestígio e acesso aos centros de decisão contribuiu para o surgimento de rivalidades internas. O Huambo, por ter sido considerado o “coração político” da UNITA e sede simbólica da resistência durante a guerra civil, passou a gozar de um prestígio que muitos militantes do Bié consideram desproporcional.

O actual confronto eleitoral dentro do partido, portanto, deve ser compreendido como a expressão contemporânea dessa disputa histórica pelo protagonismo no seio do partido. Trata-se, em última instância, do auge do regionalismo tribal entre ovimbundos e, um fenómeno que fragiliza a coesão partidária e desafia a narrativa de unidade nacional que a UNITA tenta consolidar desde a transição para a democracia multipartidária em 1991.

Do ponto de vista político, tal fragmentação projeta sérias dúvidas quanto à capacidade do partido de gerir, em escala nacional, as complexas diversidades étnicas, regionais e culturais de Angola. A dicotomia entre “huambistas” e “bienos” reflete uma herança que o partido ainda não conseguiu superar desde a era de Savimbi, revelando que a luta pela liderança não é apenas de natureza ideológica ou geracional, mas também simbólica e territorial.

Em última estância, a persistência do regionalismo na UNITA representa um obstáculo estrutural à sua consolidação como força nacional de alternativa ao poder. Enquanto o partido não conseguir ultrapassar a lógica de pertença regional e afirmar um projecto assente em valores programáticos universais como a democracia interna, a meritocracia e a inclusão, continuará vulnerável à fragmentação e ao descrédito.

Mais do que uma disputa entre figuras ou províncias, o actual congresso põe à prova a maturidade política da UNITA e a sua capacidade de se reinventar num contexto nacional cada vez mais exigente. Se prevalecer o espírito de unidade e o sentido de missão nacional, o partido poderá emergir mais coeso e preparado para disputar o poder com legitimidade moral e política. Caso contrário, permanecerá refém das suas próprias contradições históricas e, o sonho de uma oposição forte e estável em Angola continuará adiado.


terça-feira, 28 de outubro de 2025

 Instrumento jurídico vai responsabilizar cidadãos pela divulgação de informações falsas na internet

28-10-2025 | Fonte: CIPRA

O país contará com um  instrumento jurídico com medidas preventivas e de responsabilização de cidadãos pela produção e divulgação de informações e notícias falsas na internet.

Trata-se da Proposta de Lei Contra Informações Falsas na Internet que foi apreciada nesta segunda-feira, 27 de Outubro, pelo Conselho de Ministros, para envio à Assembleia Nacional.

O diploma surge no âmbito do crescimento tecnológico e da expansão de novas plataformas de comunicação social.

Segundo o ministro das Telecomunicações, Tecnologias de informação e Comunicação Social, Mário Oliveira, no final na reunião, o instrumento é importante para o desenvolvimento dos países, mas igualmente representa algum perigo quando ele não é regulado.

“Hoje o mundo caminha para a regulação do ambiente digital, de forma a que possamos, ou que as sociedades possam, de facto, proteger os países, as organizações e, sobretudo, os seus cidadãos”, disse o ministro.

Além da proposta sobre informações falsas, o Conselho de Ministros apreciou, também para envio à Assembleia Nacional, a Proposta de Lei da Cibersegurança, diploma que visa ajustar o quadro normativo aplicável à cibersegurança com a rápida evolução verificada no sector das telecomunicações e tecnologias de informação.

O objectivo é também implementar medidas para enfrentar as ciberameaças ou ciberataques que periguem os interesses nacionais e a soberania digital, para garantir o normal funcionamento das instituições públicas e privadas, assim como respeitar os direitos e liberdades individuais, por via de um sistema eficiente de protecção de dados pessoais.

Ainda no sector das Telecomunicações, Tecnologias de informação e Comunicação Social, foi apreciado o Projecto de Decreto Presidencial que cria o Centro Nacional de Cibersegurança e aprova o seu Estatuto Orgânico.

O diploma permitirá consolidar Angola como um país mais seguro e competitivo no ambiente digital, promover uma abordagem inovadora e inclusiva para a melhoria do sistema tecnológico, desenvolver acções que estimulem a protecção de infra-estruturas e serviços críticos de informações, e promover uma cultura de segurança cibernética, em conformidade com as normas e boas práticas internacionais.

Para o ministro Mário Oliveira, o grande objectivo é criar condições para proteger os cidadãos e as instituições, de tal maneira que o instrumento contempla a criação do Centro de Respostas a Ataques Cibernéticos e a obrigatoriedade de as instituições reportarem.

O ministro sublinhou que este diploma vai regulamentar e disciplinar, igualmente, o uso de equipamentos não certificados, para a protecção dos cidadãos e das instituições.

Na mesma sessão, foi apreciado o Projecto de Decreto Presidencial que cria o Conselho Nacional de Cibersegurança e aprova o seu Regimento. Este diploma que tem como objectivo a criação de um órgão colegial multidisciplinar de natureza consultiva do Titular do Poder Executivo.

O documento assegura a coordenação e a articulação entre as entidades públicas e privadas que intervêm directamente no processo de concepção e implementação da protecção e resiliência do ciberespaço angolano.

O Conselho de Ministros apreciou, igualmente, o Projecto de Decreto Presidencial que altera o Regulamento Geral das Comunicações Electrónicas.

O diploma estabelece o regime jurídico aplicável às redes e serviços de comunicação electrónicas, às frequências e numerações ao serviço universal, de modo a assegurar os investimentos e o surgimento de novos operadores de comunicações electrónicas.

 

 Campanhas de vacinação e o controlo demográfico no sul global - REFLEXÃO

A discussão sobre as campanhas de vacinação em países do Sul Global, sobretudo em África, na Ásia e na América Latina, continua a suscitar dúvidas legítimas sobre as verdadeiras intenções que, muitas vezes, estão por detrás dessas acções de saúde pública. Ao longo das últimas décadas, têm surgido denúncias e suspeitas de que algumas dessas campanhas foram utilizadas como instrumentos de controlo demográfico, travestidas de solidariedade humanitária.
Em várias regiões africanas, há registos de situações em que as autoridades nacionais foram obrigadas a suspender programas de vacinação ou a expulsar certas ONG’s, após indícios de práticas pouco transparentes. Esses episódios, embora frequentemente rotulados como “teorias da conspiração” por parte de instituições ocidentais, revelam uma realidade mais profunda: a desconfiança histórica do continente africano em relação às intenções das potências estrangeiras, sobretudo quando se trata de saúde e biotecnologia.
No caso de Angola, a reflexão é pertinente. Durante o período colonial, o regime português promovia campanhas de vacinação e vigilância sanitária de forma sistemática, sobretudo nas zonas urbanas e nos grandes centros administrativos. No entanto, cabe questionar até que ponto essas acções eram exclusivamente preventivas e de saúde pública, ou se também faziam parte de uma estratégia mais ampla de controlo populacional e social.
Os dados demográficos ajudam a alimentar essa reflexão. Em 1975, ano da independência, a população angolana era estimada em cerca de 7 milhões de habitantes, destes cerca de 300 mil eram colonos brancos. Quase quarenta anos depois, no censo de 2014, o número subiu para 15 milhões apesar da guerra fratricida, e em menos de uma década, já ultrapassamos os 35 milhões de habitantes. Esse crescimento expressivo levanta uma questão central: o que explicava o crescimento tão limitado durante o período colonial, quando havia campanhas de vacinação “constantes”? Poderia parte dessas intervenções médicas ter tido também a função de controlar a fertilidade e a expansão populacional africana?
Casos semelhantes ocorreram noutros contextos. Em 2003, por exemplo, autoridades religiosas e comunitárias do norte da Nigéria denunciaram campanhas de vacinação patrocinadas por organizações internacionais, acusando-as de incluir substâncias esterilizantes. Na Índia e nas Filipinas, surgiram igualmente relatos de campanhas de vacinação associadas a ensaios experimentais e controlo de natalidade, sempre sob a bandeira da “cooperação internacional”.
Embora não existam provas científicas definitivas que confirmem uma política deliberada de controlo populacional através da vacinação, o histórico das relações coloniais e pós-coloniais obriga-nos a manter uma postura crítica. As políticas globais de saúde não são neutras, estão imersas em relações de poder, dependência tecnológica e interesses económicos e estratégicos que muitas vezes ultrapassam o campo médico.
Por isso, torna-se essencial que os países africanos reforcem a sua autonomia científica, laboratorial e institucional, de modo a gerir de forma soberana as suas políticas de saúde pública. Só assim será possível garantir que cada intervenção sanitária responda genuinamente às necessidades da população e não a agendas externas mascaradas de altruísmo.
PS:_ Aos zelosos do sistema, não precisam me prender ou apedrejar só por pensar "alto".

 O MEU APONTAMENTO


"ANGOLA VOLTA A TER DÓLARES" - É claro que, agora que potências como a Rússia, a China, a Índia e outros países do Sul Global começaram a perder o interesse pelo dólar americano, andam à procura de novos mercados e novas vítimas económicas.

Angola devia, no mínimo, questionar os Estados Unidos sobre o motivo de terem usado o dólar como arma política numa acção unilateral contra um país que apenas tentava reerguer-se.
Se já aplicaram sanções unilaterais uma vez, quem garante que não voltarão a fazê-lo, caso os seus interesses sejam postos em causa?
Fica a pergunta: o que Angola fez para merecer uma sanção que durou dez anos? Essa atitude deixou marcas profundas na nossa economia e mostra como a dependência do dólar pode facilmente transformar-se num instrumento de pressão e dominação.
Angola teve custo de reputação: Dificuldade em atrair investimento estrangeiro.
​ Restrições bancárias: Obstáculos nas transações internacionais, aumentando os custos e o tempo de processamento.
​Crescimento travado: O esforço de reerguer a economia após o conflito foi inegavelmente prejudicado por restrições externas ao acesso a financiamento e comércio.
Angola precisa procurar activamente mecanismos de protecção económica, como a diversificação de moedas de reserva e transação, e o fortalecimento das relações com potências dispostas a construir um sistema financeiro menos dependente da vontade de uma única nação.
Segunda, 27OUT2025

quinta-feira, 23 de outubro de 2025

Jonas Savimbi, entre o colaboracionismo e o conflito nacional

Jonas Malheiro Savimbi foi, em larga medida, um produto das circunstâncias coloniais e da acção da PIDE/DGS, mesmo durante o período em que exerceu funções como ministro das Relações Exteriores no Governo Revolucionário de Angola no Exílio (GRAE). Nessa fase, já dispunha de facilidades de deslocação pela Europa e outros continentes, utilizando documentos emitidos pelas autoridades portuguesas (leia: Tvedten, 1997; Wheeler & Pélissier, 2009 ou ouça o vídeo de Holden Roberto no YouTube).
Em 1966, fundou a UNITA com apoio logístico e político de sectores ligados à PIDE e ao regime do Apartheid sul-africano, uma relação documentada em testemunhos de antigos colaboradores, incluindo um velho companheiro, o Amukuaia em entrevista recente, e analisada em estudos de académicos como Christine Messiant (2001).
Entre 1966 e 1974, Savimbi liderou acções armadas na Frente Leste contra o MPLA, e posteriormente combateu a facção Chipenda afiliada à FNLA depois deste se desentender com o MPLA de Neto no sudeste de Angola. O YouTube está cheio de depoimentos de tes
temunhas que outrora pertenceram a PIDE/DGS em como Savimbi colaborou com as autoridades portuguesas em Angola.
Após a proclamação da independência, de 1975 a 1990, manteve uma intensa actividade militar contra o governo legítimo de Angola, estabelecendo alianças estratégicas com o regime do Apartheid e com potências ocidentais em plena Guerra Fria (leia: Bridgland, 1986; George, 2005). Durante esse período, a UNITA recebeu apoio directo da África do Sul e indirectamente dos Estados Unidos, integrando-se na lógica da confrontação bipolar entre Leste e Ocidente. Neste período, combateu também o ANC e a SWAPO ou melhor, foi tampão destes movimentos que lutavam pela liberdade a pedido do regime do Apartheid.
De 1992 a 2002, após as primeiras eleições multipartidárias, Savimbi recusou aceitar os resultados eleitorais e regressou à guerra civil. Nesse período, controlou vastas áreas do território nacional, provocando uma nova vaga de destruição e sofrimento humano. Estima-se que o conflito armado angolano, em toda a sua duração, tenha causado a morte de mais de meio milhão de pessoas e o deslocamento de milhões segundo (Messiant, 2001; Hodges, 2004).
Perante este percurso histórico, impõe-se a questão: qual foi, efectivamente, o contributo de Jonas Savimbi para a conquista da independência, para a preservação da soberania nacional e para o desenvolvimento político, económico e social de Angola que lhe torne num herói?

 Não sou inimigo, apenas penso diferente

Amigos e seguidores, é importante esclarecer um ponto: Eu, Artur Cussendala não sou militante do MPLA, apenas um simpatizante. Também não sou inimigo nem adversário da UNITA, e muito menos me considero com autoridade ou competência para sê-lo. Tenho familiares, amigos, vizinhos e colegas que militam activamente na UNITA ou que se identificam com as suas ideias — e respeito todos eles.
A minha discordância não é com o partido em si, mas com determinadas personalidades que, em nome da UNITA, dizem e fazem coisas que colidem com a minha visão da política e da história de Angola. Critico comportamentos, não filiações. O verdadeiro adversário político da UNITA é o MPLA, não cidadãos comuns como eu, que apenas exercem o direito de analisar e questionar factos históricos.
As minhas abordagens sobre a UNITA e sobre Jonas Savimbi não nascem de ódio ou partidarismo, mas de factos concretos e de leituras históricas documentadas e vivências pessoais. Infelizmente, muitos jovens de hoje tentam reinterpretar a história com base em versões idealizadas, onde o mito substitui a realidade e a emoção apaga o rigor. Pintam o passado com as cores do arco-íris, acreditando que, com o tempo, uma mentira repetida pode transformar-se em verdade.
Mas a história de Angola não pode ser romantizada nem reescrita ao gosto das paixões políticas. O que está em causa não é apenas o passado — é o modo como o interpretamos para construir o futuro. A reconciliação nacional exige memória, verdade e maturidade, não revisionismo nem idolatria.
Por isso, se um dia nos cruzarmos, não me vires a cara nem me ofendas — nem moral nem fisicamente. Eu não sou teu inimigo, nem teu adversário. Sou apenas alguém que pensa diferente. E pensar diferente, num país livre e soberano, não é um acto de hostilidade, mas um exercício de cidadania e consciência.
Artur Cussendala
Terça, 20OUT2025

O PROCESSO DEMOCRÁTICO EM ANGOLA, COMEÇOU NA NAMIBIA ENTRE JAMES BAKER E EDUARDO DOS SANTOS.

O então Secretário de Estado norte-americano James Baker, esteve nas cerimônias de independência da Namíbia e isso foi março de 1990, e claro, haviam muitos chefes de Estado e ministros e um dos chefes de Estado que chamou mais atenção de James Baker, foi o presidente José Eduardo Dos Santos.
Então, o secretário James Baker, diz ao Secretário de Estado para os Assuntos Africanos, Herman Cohen, para falar com o Presidente Dos Santos, afim de marcar um encontro.
Eduardo dos Santos, aceitou o pedido de James Baker e tiveram um encontro em Windhoek. Nesta reunião, o secretário Baker disse: senhor presidente, o seu governo, estará interessado a começar negociar com a UNITA, o fim do conflito? E Dos Santos disse: sim, sim, é uma boa ideia, sim, vamos acabar com esta guerra. Então o Secretário De Estado James Baker, pedeaba Herman Cohen, para fazer chegar a Jonas Savimbi a vontade do presidente José Eduardo dos Santos e do seu governo negociar a paz e na mesma mensagem, James Backer, pede a Jonas Savimbi para voar até Kinshasa (Congo)para lhe transmitir pessoalmente a necessidade de começar a negociar a paz dentro de um processo Democrático. Foi ai, onde começaram a falar em democracia. O Secretário Baker, apenas lhe fez uma pergunta: O presidente dos Santos está pronto para conversar, você estaria disposto a entrar em negociações?
Jonas Savimbi, aceitou mas fez apenas um pedido financeiro para transformar a UNITA num partido político capaz de bater o MPLA nas eleições.
A partir daquela dia, ficou combinado iniciar um processo democrático para Angola. Quem será o mediador? Ambos os lados concordaram que seria Portugal. Então, Portugal inicia a mediação em julho de 1990 em um hotel resort não muito longe de Lisboa.
As conversações começaram com vários observadores do setor militar, diplomático e as conversações estavam sempre em muitos impasses. Então no final de 1990 em Outubro, o presidente George Bush, teve um encontro com o seu homólogo Gorbachev em Houston sua cidade natal.
Os dois ministros das relações exterior da então União Soviética e Dos Estados Unidos, James Baker e Shevardnadze, assim como os Secretários dos ambos países para África nomeadamente Herman Cohen e Anatoly Adam II.
Os dois chefes de Estado queriam saber dos seus secretários de Estado para os Assuntos Africanos do andamento das conversações em Portugal entre o Governo de Angola e os Rebeldes da UNITA.
Os dois secretários de Estados que acompanhavam as conversações em Portugal, disseram aos presidentes, que as coisas não avançavam que há muitos impasses e eles não conseguem chegar a um acordo.
James Baker, disse: Continuam a seguir as conversações e vai me informando. Mas Shevardnadze ministro das Relações Exteriores URSS , disse: Não vamos mais dizer a eles para negociar.
Shevardnadze, disse: Você Baker, és o Savimbi e eu sou o dos Santos. Vamos negociar aqui nesta sala o problema de Angola e tudo que vamos negociar aqui, vamos entrega-los e eles terão de cumprir.
As delegações dos Estados Unidos e da União Soviética, passaram 3 horas elaborando o que séria os acordos de Bicesse.
DEPOIS DE TRÊS HORAS.
Aqui temos um acordo, justo e ideal, 'Maravilha.' Chegou o momento de fazer chegar o documento as respectivas delegações em Portugal.
No lado governo angolano estava o seu ministro sênior, Lopes do Nascimento, e da UNITA estava o vice-presidente da UNITA Jeremias Chitunda, lhes foi entregue os acordos. Olharam e disseram: 'Sim, não é um acordo ruim, vamos fazê-lo. E como os acordos foram aceites pelo presidente José Eduardo dos Santos, presidente Bush convidou Dos Santos a visitá-lo na Casa Branca e o embaixador Russo convidou Savimbi a visitá-lo na embaixada. Primeiro, Savimbi diz: 'Não posso ir lá, sei qual é o problema; eles têm veneno de ação prolongada, e quando eu voltar para o meu Quartel-General, eu vou morrer depois de três meses.
José Eduardo dos Santos, vai à Casa Branca e com quem ele está acompanhado? Com sua filha de 18 anos, Isabel Dos Santos que ele teve com uma Russa, quando estudava na Rússia, uma jovem linda, e ela entra no Salão Oval o presidente Bush simplesmente derrete-se, e diz, venha, sente-se na minha cadeira, aqui está o telefone, ligue para quem você quiser, enquanto falo com o teu pai. Foi apenas uma reunião maravilhosa. E, claro, dos Santos ficou muito feliz, Bush foi tão simpático com presidente Dos Santos que esqueceu que um dia lhe via como inimigo.
EM PORTUGAL.

Começaram as negociações sob os auspícios das Nações Unidas e trabalharam para as eleições mas o maior problema foi a calendarização dos acordos. O governo queria uma transição de dois anos depois da assinatura dos acordos. A UNITA, queria 6 meses de transição. A mediação então sugeriu um ano.
As eleições chegam em setembro de 1992 os resultados chegam: Dos Santos 49%, Savimbi 40%, uma segunda volta é necessário é preciso obter a maioria.
Jonas Savimbi, diz que houve fraude e pediu aos Estados Unidos para denunciar as eleições como fraudulentas. Os representantes dos EUA, disseram a Jonas Savimbi que não podiam contrariar as Nações Unidas que consideraram as eleições livres e justas
Savimbi, não aceitou e decidiu voltar à guerra. Em Washington, todos os apoiantes da direita que apoiava Savimbi, disseram: esqueçam o Savimbi é um antidemocrático. Ele perdeu as eleições.
A partir daquele momento, Savimbi tornou-se num Cão raivoso. Matava tudo e destruía tudo, se transformando num autêntico terrorista e criminoso de guerra.
O governo angolano, compreendeu que terminar a guerra conversando já não era possível. Dai então na voz do presidente José Eduardo dos Santos, fez três cenários para o terrorista Savimbi: Voltar voluntariamente a cumprir o protocolo de Lusaka, Capturado ou é morto em combate.

By: Cabonda Júnior-Mandavid

sábado, 18 de outubro de 2025

 Os Acordos de Alvor, um nado morto da transição angolana


Muitos enaltecem os Acordos de Alvor por simples ignorância histórica ou por conveniência política. Com efeito, os Acordos de Alvor, assinados a 15 de Janeiro de 1975, entre o Governo português e os três principais movimentos de libertação de Angola, a saber: o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), a Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) e a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), representaram mais um exercício formal de diplomacia do que um verdadeiro compromisso com a unidade nacional.
Ao contrário do que por vezes se afirma, o Acordo de Alvor não consolidou a independência de Angola. Ficou reduzido a um registo histórico de intenções, sem concretização política nem social. A sua fragilidade estava inscrita desde a origem. À mesa de negociações sentaram-se quatro actores: o poder colonial português e os três movimentos de libertação que, meses depois, se envolveriam em confrontos abertos e sangrentos.
A animosidade entre as forças nacionalistas era antiga e insuperável. Desde 1962, o MPLA e a FNLA disputavam influência territorial e reconhecimento político, com a FNLA a controlar o Norte e a interditar a presença do MPLA na zona fronteiriça com o antigo Zaire (actual República Democrática do Congo) e de forma sanguenta. No Leste, a UNITA, então uma força ainda incipiente, mantinha contactos com a PIDE/DGS e beneficiava, em certos momentos, de apoio tácito do sistema colonial, funcionando como instrumento de equilíbrio no tabuleiro político.
Portugal, por sua vez, longe de ser um árbitro neutro, tinha infiltrados nos três movimentos e usava a mesa de Alvor para gerir uma retirada estratégica. A assinatura dos acordos serviu mais para salvaguardar os interesses imediatos de Lisboa e projectar uma imagem de “descolonização exemplar” do que para construir uma base real de coabitação política.
Nenhum dos signatários acreditava verdadeiramente na viabilidade do acordo. Todos possuíam um “plano B” e só assim se explica o recurso a forças estrangeiras nas batalhas antes da independência, uma estratégia alternativa para o controlo do poder no antes e pós-independência. Assim, o fracasso era inevitável. A ruptura deu-se poucos meses depois, quando os três movimentos proclamaram, de forma autónoma e em territórios distintos, as suas próprias independências. Portugal, sem autoridade para gerir a transição e sem presença militar suficiente para garantir a ordem, abandonou precipitadamente o processo, deixando Angola à mercê de uma guerra civil devastadora que só terminou em 2002.
Os Acordos de Alvor enquadram-se, assim, numa longa tradição de tentativas falhadas de pacificação e reconciliação em Angola. Tal como os Acordos de Gbadolite (1989), de Bicesse (1991) ou de Lusaka (1994), Alvor partilhava o mesmo vício de origem: a ausência de confiança entre as partes e a instrumentalização política dos processos de paz.
Por isso, é um erro histórico considerar o Acordo de Alvor como um marco decisivo na consolidação do Estado angolano. Ele foi, na verdade, um nado (nascido) morto, um acto simbólico que antecipou o colapso da convivência política e a eclosão da guerra civil. O verdadeiro ponto de viragem da história contemporânea de Angola só viria quase três décadas depois, com os Acordos de Luena (2002), que finalmente encerraram o conflito armado e inauguraram um período de paz efectiva, ainda que com desafios profundos de reconciliação e coesão nacional. E para lembrar que os acordos do Luena só vincaram porque a paz foi imposta pela força.

 ACORDOS PRÉ-ALVOR

‎Essa é uma parte da história pouco explorada mas fundamental da pré-história dos Acordos de Alvor e relata os encontros nas matas de Angola, realizados ainda sob fogo e clandestinidade, entre 1974 e início de 1975.
‎Esses encontros não constam, na sua maioria, dos registos oficiais portugueses ou das actas de Alvor, mas são muito citados em relatos orais, memórias de guerrilheiros e arquivos militares angolanos. Eram reuniões separadas, de carácter político e militar, conduzidas por comandantes regionais dos movimentos de libertação e nem sempre com a presença dos líderes máximos, para testar alianças, avaliar forças e sondar posições sobre o futuro pós-colonial.
‎Aqui vai um resumo histórico rigoroso do que se sabe sobre esses encontros nas matas, divididos por região e contexto político.
1. As matas do Moxico e Cuando Cubango – contactos entre UNITA e oficiais portugueses
‎Período: Junho a Setembro de 1974
‎Local aproximado: nas matas entre Lumbala Nguimbo, Luso (actual Luena) e Cazombo
‎Protagonistas:
‎Pelo lado português: oficiais da PIDE/DGS e do Comando Militar do Leste, entre eles o coronel Costa Campos
‎Objectivo: negociar um cessar-fogo local e garantir livre circulação das forças da UNITA no Leste após o 25 de Abril.
‎Importância:
‎Estes encontros serviram para a UNITA preservar a sua estrutura militar e consolidar o controlo do planalto central, preparando-se para o pós-colonial.
‎Savimbi sabia que Portugal se retiraria e usou essas conversas para obter armamento e legitimidade junto das autoridades coloniais locais.
‎Resultado:
‎Um acordo tácito de não agressão foi alcançado com os portugueses, o que permitiu à UNITA movimentar-se livremente no Moxico e no Bié até finais de 1974.
2. As matas do Uíge e do ZaireFNLA e comandos portugueses
‎Período: Maio a Agosto de 1974
‎Local: zonas de Maquela do Zombo, Sanza Pombo e Damba
‎Protagonistas:
‎Pela FNLA: comandantes como Pedro Hendrick, Kinkela e Bula Matadi
‎Pelo lado português: oficiais da 1ª Região Militar (Carmona)
‎Objectivo: definir linhas de desmobilização e troca de informações sobre a posição do MPLA e de tropas portuguesas.
‎Importância:
‎A FNLA, com forte apoio do regime de Mobutu e dos EUA, não confiava no MPLA e preferia negociar separadamente com Lisboa.
‎Nesses encontros, ficou acordado que as forças da FNLA poderiam deslocar-se para o interior, o que explica a rápida presença do movimento em Luanda nos primeiros meses de 1975.
‎Resultado:
‎A FNLA conseguiu acesso logístico a várias cidades do Norte e iniciou o transporte de armas vindas do Zaire, com anuência tácita de oficiais portugueses locais.
3. As matas do Kwanza Norte e Malanje – contactos entre o MPLA e tropas coloniais
‎Período: Julho a Setembro de 1974
‎Local: zona de Cacuso, Golungo Alto e Dondo
‎Protagonistas:
‎Pelo lado português: oficiais do Exército destacados de Luanda e de Malanje
‎Objectivo: discutir o cessar-fogo regional e preparar o retorno seguro dos quadros do MPLA a Luanda.
‎Importância:
‎O MPLA aproveitou esses encontros para negociar posições militares estratégicas e garantir o controlo da capital no momento da retirada portuguesa.
Rosa Coutinho, que chegou a Angola em Julho de 1974 como Alto-Comissário, incentivou esses contactos com a esperança de estabilizar o território antes da descolonização.
‎Resultado:
‎A presença do MPLA em Luanda e no eixo Cuanza Norte–Malanje consolidou-se logo no início de 1975, resultado directo dessas negociações discretas.

‎4. Encontros secretos entre guerrilheiros nas tentativas falhadas de aproximação entre movimentos
‎Período: Outubro – Dezembro de 1974
‎Locais: matas do Bié (entre Camacupa e Andulo) e do Moxico
‎Protagonistas:
‎Pequenos destacamentos de guerrilheiros da UNITA e do MPLA, com alguns observadores civis da FNLA, enviados sob mediação da Igreja Católica e de representantes locais da Cruz Vermelha.
‎Objectivo: testar a possibilidade de cessar-fogo entre movimentos angolanos, antes da conferência de Alvor.
‎Resultado: fracasso total.
‎A desconfiança era profunda, as diferenças ideológicas intransponíveis. Em vários casos, as patrulhas enviadas para o diálogo foram emboscadas.
‎Esses episódios confirmam que as “matas” eram já o verdadeiro cenário diplomático de Angola, antes mesmo da conferência de Alvor.

  Resenha pessoal dos 50 anos da Independência de Angola Por: Artur Cussendala 12NOV2025 Posso estar equivocado mas cinco décadas depois da ...