sábado, 18 de outubro de 2025

 A Glória dos vencidos e a derrota dos Generais

Por: Artur Cussendala SÁBADO, 18OUT2025

Quando a história é escrita pelos sobreviventes, até a rendição pode parecer um triunfo.

Os generais de carreira travaram combates contra capitães, majores e tenente-coronéis e, paradoxalmente, não venceram. Foram derrotados, desarmados e transformados à força em civis. Ainda assim, há quem veja nessa derrota um “ganho histórico”, como se a rendição pudesse ser reescrita em linguagem de glória. Tal inversão de valores revela a fragilidade da actual intelectualidade angolana, cada vez mais refém de narrativas convenientes e de uma leitura superficial do passado recente.

Um Marechal (Savimbi), rodeado pelos únicos generais de carreira que o país conhecia e com domínio de cerca de 75% do território nacional, não resistiu. Perdeu batalhas, perdeu a guerra e, por fim, capitulou. Para suavizar a vergonha e travestir o fracasso, deu-se à rendição o nome de “Acordo de Paz do Luena”, um título diplomático para encobrir a realidade militar e política do desfecho. Ironicamente, os falsos generais que mataram o Marechal triunfaram também sobre os verdadeiros generais de carreira, e hoje essa inversão é contada como epopeia por alguns dos amnistiados da UNITA.
A responsabilidade maior recai sobre José Eduardo dos Santos, que optou por amnistiar sem julgar, diluindo a fronteira entre justiça e perdão. E, mais recentemente, sobre João Lourenço, que decidiu reabilitar simbolicamente Jonas Savimbi, que outorgará a mesma medalha concedida às vítimas e aos combatentes pela paz. Esse gesto, ainda que revestido de retórica de reconciliação, acabou por nivelar moralmente agressores e ofendidos, algo que a história dificilmente absolverá.
Hoje, muitos acreditam que a violência, o saque e a destruição cometidos em tempos de guerra foram contribuições para a independência e unidade nacional. Mas há equívocos que o tempo não corrige: o humanismo é virtude dos humanos, não dos desumanos.
Tenho dito.

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