quinta-feira, 24 de julho de 2025

 A Medalha e o Espelho


Nos últimos tempos, algumas figuras públicas têm recusado medalhas comemorativas dos 50 anos da Independência Nacional. À primeira vista, pode parecer um gesto de coerência ou protesto legítimo. Mas, em muitos casos, há mais vaidade do que virtude por trás dessa recusa.
Recusar uma honraria pode ser um acto nobre — desde que fundado em princípios. Mas quando a recusa é apenas uma tentativa de se destacar no palco da opinião pública, perde toda a substância e se torna teatro. Há quem rejeite medalhas mais por busca de protagonismo do que por desacordo com o seu simbolismo. E o mais curioso: muitos dos que recusam, no íntimo, sabem que nunca prestaram o serviço que a medalha representa.
Convém lembrar que o Presidente da República apenas entrega as medalhas; não é o seu proprietário. Essas distinções pertencem à Nação, não ao governo. Representam a memória colectiva, os sacrifícios históricos, a caminhada de um povo. São, acima de tudo, um símbolo do reconhecimento nacional e não uma homenagem pessoal de quem as entrega.
Se eu Cussendala fosse distinguido, e conhecendo o meu percurso, os sacrifícios que aceitei em nome de Angola, aceitaria de cabeça erguida. Mesmo que tivesse divergências políticas ou pessoais com o Chefe de Estado que as entrega, mandaria um representante. O reconhecimento não é do João Lourenço; é do país. E recusar o que é de direito, só por birra ou orgulho, seria um gesto que mais me diminuiria do que me enobreceria.
É triste ver que muitos dos agraciados estão ali apenas por serem figuras públicas — celebridades da ocasião — e não por feitos que deixaram marcas. Isso, sim, enfraquece o valor simbólico da distinção.
A medalha, como o espelho, não mente. Só incomoda quem não gosta do que vê refletido nela.

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