UNITA entre o oportunismo e a ignorância
Nos últimos tempos, tornou-se frequente ver figuras destacadas da UNITA a pronunciar-se sobre temas políticos e históricos que, claramente, não dominam. Se fosse apenas um problema de opinião infeliz, talvez passasse despercebido. Mas o padrão de declarações infundadas, seguidas de desmentidos públicos com base em factos concretos, revela algo mais grave: um perigoso desprezo pelo rigor, pela verdade e pela responsabilidade política.
A reescrita desajeitada da história
O primeiro caso digno de nota foi protagonizado por Eugénio Manuvacola, uma voz sénior que decidiu, sabe-se lá porquê, negar um dos episódios mais bem documentados da nossa história contemporânea que é a presença e posterior evasão das Forças Armadas sul-africanas do apartheid (SADF) em 1975 em solo pátrio e a sua ligação operacional à UNITA. Essa tentativa de branquear os factos históricos que estão registados em documentos oficiais, testemunhos internacionais e até arquivos militares, foi recebida com natural indignação e amplamente refutada por historiadores e cidadãos atentos.
Pior do que negar a verdade é tentar manipular a memória colectiva de um povo que ainda carrega as feridas do conflito. A intervenção de Manuvacola não foi apenas inoportuna, foi um insulto à inteligência nacional.
E quando o chefe fala demais?
Como se não bastasse, pouco tempo depois foi a vez do próprio presidente da UNITA, Adalberto Costa Júnior, subir ao palco e acusar o Estado angolano de corrupção num momento de importância continental, a candidatura à presidência rotativa da União Africana. Um gesto, no mínimo, imprudente.
Fez-se passar por guardião da moralidade africana, esquecendo-se que estava a expor o país inteiro num cenário internacional e não apenas o governo a que se opõe. A crítica política interna tem o seu espaço; o que não se pode admitir é que se use um fórum externo para enfraquecer a imagem da nação por vaidade ou ambição mal calculada.
A resposta da Presidência da República não tardou. Rotulou-o, com alguma elegância até, de “não patriota”. E se há palavra que custa ouvir quando se pretende liderar um país, é essa.
Ignorância, oportunismo ou ambos?
Fica a pergunta inevitável: o que motiva esse tipo de discurso? Será ignorância genuína, fruto de um despreparo chocante para a realidade nacional e internacional? Ou será puro oportunismo político, uma tentativa desesperada de capitalizar a qualquer custo, mesmo que o preço seja a credibilidade da oposição?
Talvez seja um pouco dos dois. E esse “dois em um” é precisamente o que torna a situação mais preocupante. Porque um político mal preparado pode ser corrigido. Já um político que escolhe ser irresponsável, não se corrige, apenas se afasta da confiança do povo.
Para concluir, dizer que a Oposição também deve ser patriótica.
Angola precisa de uma oposição forte, responsável e intelectualmente séria. Não de aventureiros do discurso fácil, nem de revisionistas históricos de ocasião. Quem ambiciona liderar um país deve, antes de mais, demonstrar maturidade, sentido de Estado e compromisso com a verdade.
É tempo da UNITA reflectir seriamente sobre o rumo do seu discurso. Ou então continuará a cavar a sua própria irrelevância, palavra por palavra, mentira por mentira.
Sem comentários:
Enviar um comentário