quinta-feira, 24 de julho de 2025


Ontem estive bem atento para ouvir a anunciada entrevista do meu líder à CNN Portugal, tirando alguma coisa que não me agradou, o Senhor Presidente esteve bem na conversa com o jornalista português que tentou disfarçadamente medir o seu QI. Mas eu quero voltar ao que não me agradou.

A (des)governação em Angola, ao que tudo indica, não vem só do topo, mas de quem sopra ao ouvido do topo. O Presidente da República parece governar com base no que os seus conselheiros, assessores e bajuladores profissionais lhe contam. E, convenhamos, eles são verdadeiros mestres em contar apenas o que agrada. Vivem a pintar um país cor-de-rosa enquanto o resto da nação vive a preto e branco, ou, melhor dizendo, no vermelho mesmo.
Dizer que 40 cêntimos de dólar por litro de gasóleo é pouco, num país onde o salário mínimo também se conta em cêntimos, é de uma insensibilidade olímpica. Governar assim e ainda achar que o sucessor deve seguir o mesmo modelo? Isso não é liderança, é ficção científica com toques de ironia cruel.
Senhor Presidente, experimente convidar um primo seu que vive no Zango/Icolo e Bengo, desses parentes que não têm carro, para almoçar consigo no palácio. Sirva-lhe um bom prato, desses que custam o salário de um mês de um funcionário público, e pergunte quanto ele ganha, quanto gasta por dia para ir trabalhar e o que ouve nos táxis sobre o seu governo. Pode ser que ele lhe diga mais verdades em 15 minutos do que os seus assessores em 8 anos.
Sim, sabemos que recebeu os 'cofres vazios' mas quem é que não recebeu? Mesmo assim, ninguém conseguiu errar tanto em tão pouco tempo. Nem Agostinho Neto, que foi obrigado a governar com semi-alfabetizados dos maquis porque os colonos levaram a elite embora. O senhor, com doutores e mestres, conseguiu o feito histórico de fazer pior.
E antes que alguém com zelo em excesso resolva me convidar a passar uns dias no "resort" da comarca de Viana, aviso: esta é só uma opinião. Não é crime dizer a verdade, embora, neste país, às vezes pareça e se fui indelicado, peço minhas sinceras desculpas.
Portanto, Senhor Presidente, se ainda restar alguma curiosidade genuína sobre o que realmente se passa neste país chamado Angola, não confie apenas nas planilhas douradas dos seus ministros nem nos sorrisos forçados dos que o rodeiam. Escute o país verdadeiro — aquele que não entra nos relatórios. Porque governar não é apenas assinar decretos nem repetir números: é, sobretudo, saber escutar o silêncio pesado dos que perderam a esperança. E se o senhor continuar a governar com base em ilusões, o sucessor que pedir que siga o seu exemplo, seguirá, sim mas direto para o abismo.

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