A origem e a chegada da mandioca a Angola e à África
A mandioca (Manihot esculenta) é uma planta de raiz originária da América do Sul tropical, especificamente da região do sudoeste da Amazónia, hoje abrangendo partes do Brasil, Bolívia e Paraguai. Estudos arqueológicos e análises genéticas mostram que a sua domesticação começou há cerca de 8.000 a 10.000 anos, quando povos indígenas selecionaram variedades silvestres do género Manihot, desenvolvendo métodos para reduzir ou eliminar o ácido cianídrico presente nas variedades bravas.
Muito antes do contacto europeu, a mandioca já se espalhara por várias regiões das Américas através das trocas culturais e comerciais entre povos indígenas. No entanto, foi no século XVI, com as viagens marítimas e o início do comércio atlântico, que a planta atravessou o Atlântico rumo a África.
Os portugueses, estabelecidos no Brasil, reconheceram na mandioca uma cultura extremamente valiosa: resistente à seca, capaz de crescer em solos pobres e produtiva ao longo de todo o ano. Por essas razões, começaram a transportar mudas e estacas a bordo das naus que faziam a rota Brasil–África. Angola foi um dos primeiros pontos de introdução, seguida de outras áreas da costa ocidental africana e, mais tarde, de regiões orientais como Moçambique e até Madagascar.
O impacto foi imediato. Em Angola, o clima tropical e as condições de solo favoreceram o rápido crescimento da mandioca, que logo passou a integrar-se nas práticas agrícolas e alimentares locais. Inicialmente utilizada como “cultura de segurança” para épocas de escassez, tornou-se gradualmente base da dieta, originando pratos como o funge, a farinha de bombó e a mandioca cozida.
Já no século XVIII, cronistas e viajantes europeus que percorreram Angola notaram que a mandioca era tão comum que muitos acreditavam tratar-se de planta nativa africana. Essa percepção ainda hoje é partilhada por comunidades que, ao longo de séculos, incorporaram-na profundamente na sua identidade culinária.
Assim, a mandioca, embora nascida no coração da Amazónia, encontrou em Angola e no restante continente africano um segundo lar, tornando-se elemento essencial para a segurança alimentar e para a cultura gastronómica de milhões de pessoas.
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