Entre a memória e a realidade
Quase cinquenta anos se passaram desde que Angola recuperou o direito de ser dona do seu destino.
Para quem nasceu nos anos 2000 ou veio das chamadas “terras livres” jovem e com o intelecto partidarizado, é difícil imaginar a grandeza dos sonhos que acendemos em 1975. Para estes e muitos jovens, as dificuldades e a estagnação de hoje parecem normais, como se sempre tivessem existido. Mas para quem viveu a transição ou seguiu a trajectória, sabe que há uma verdade que não se pode apagar, já houve um tempo em que acreditámos num futuro diferente mesmo com todas as adversidades. A ressalva se faz aos saudosistas e ressabiados que ainda existem entre nós.
Nestes cinquenta anos, errámos. Errámos, sim e alguns erros como a guerra civil, foram graves, com marcas profundas. Mas também fizemos mais pelo nosso povo do que se fez em quase quinhentos anos de colonização. Erguemos infraestruturas colossais, barragens, estradas, pontes e cidades inteiras. Construímos escolas e hospitais. Abrimos espaço para vozes que antes eram silenciadas. Tentámos, mesmo com imperfeições, traçar um caminho pensado por nós e para nós.
Não é esconder as falhas, nem tapar o desastre que hoje vivemos. É lembrar que o único período justo para comparar o presente é a nossa própria independência. O passado colonial não é exemplo; é aviso. E o presente só fará sentido se nunca esquecermos o quanto custou chegar até aqui.
Eu acredito num futuro melhor. Mas esse futuro não cairá do céu. Ele depende de uma juventude que aprenda a pensar e a viver Angola de forma consciente. De uma juventude que perceba que partidos políticos, assim como religiões, muitas vezes não servem para unir, mas para dividir.
O destino do nosso país não será decidido por bandeiras nem por credos. Será decidido pela nossa capacidade de nos unirmos como povo e lutarmos por um propósito maior de fazer de Angola uma terra justa, livre e digna para todos.
E isso… começa agora.
Angola é vossa, nós kotas, estamos próximos do portão de saída.
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