sexta-feira, 8 de agosto de 2025


 UNITA - o culto à personalidade mudou de rosto?

Será impressão minha, ou a UNITA, outrora firme no culto à personalidade de Jonas Malheiro Savimbi está, aos poucos, a livrar-se dessa herança simbólica? Ontem, 3 de Agosto, assinalou-se mais um aniversário natalício do líder fundador, mas estranhamente, a data passou quase despercebida. Rodei pela cidade e, ao contrário dos anos anteriores, não vi qualquer acto simbólico, mensagem pública de vulto ou mobilização visível em homenagem ao homem de Muangai. Nenhum cartaz, nenhuma nota de imprensa que fizesse jus ao peso histórico da figura que moldou, para o bem e para o mal, a UNITA moderna.
Curiosamente, a UNITA parece ter encontrado um novo centro gravitacional em torno do seu actual presidente, Adalberto Costa Júnior. A sua data de nascimento é agora celebrada com destaque, e a máquina partidária não poupa esforços em transformá-lo num ícone do presente. O culto à personalidade permanece — apenas mudou de rosto.
O que se passa? A UNITA decidiu, estrategicamente ou por conveniência, virar a página de Savimbi? Ou é esta uma tentativa de reescrever a sua narrativa histórica, suavizando os traços do passado para se reposicionar no presente político nacional?
E até o símbolo maior da UNITA, o galo negro, parece estar a ser esvaziado de sentido. Com excepção da bandeira, que ainda resiste, o galo desapareceu do marketing, dos discursos e dos palanques, ele deixou de voar. Estarão à espera da próxima reforma estatutária para o pintar de vermelho, branco ou outra cor mais "moderna"? O símbolo já não canta como antes. Talvez o silêncio do galo seja reflexo da tentativa de enterrar uma parte da identidade que ainda divide opiniões.
Se a UNITA quer evoluir, tudo bem. Mas apagar ou negligenciar a figura de Savimbi sem uma reflexão profunda e pública, levanta questões sérias sobre coerência histórica, fidelidade às origens e respeito pela sua própria génese. Savimbi pode ser controverso, mas é inegavelmente o alicerce da organização. O que é a UNITA sem Muangai?
Esquecer o passado para parecer mais "palatável" ao presente é um erro perigoso. Uma força política que apaga selectivamente a sua memória pode estar a comprometer a sua própria legitimidade. Afinal, quem se esquece das suas raízes corre o risco de se tornar uma sombra de si mesma.

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