OS COBARDES DO EXÍLIO DIGITAL
Há uma categoria curiosa de indivíduos que só encontra coragem para criticar o regime depois de atravessar fronteiras e instalar-se confortavelmente em sofás aquecidos pela comodidade ocidental. Enquanto cá estiveram, silenciaram-se, adaptaram-se e, pior ainda, beneficiaram do sistema que hoje atacam com fúria teatral. Alguns até floresceram nos braços da mídia pública, sendo promovidos, celebrados e sustentados por aquilo que agora classificam como opressivo, corrupto ou retrógrado.
Por Artur Cussendala
Quem não se lembra, por exemplo, de nomes como Victor Hugo Mendes ou Gilmário Vemba? Personalidades que se tornaram populares com o apoio e visibilidade oferecidos por canais estatais, que hoje vilipendiam sem pudor. Não estamos a falar de jovens desiludidos em busca de liberdade, estamos a falar de pessoas que se empanturraram à mesa do regime e, só depois de saciados, passaram a cuspir no prato onde comeram. Um deles chegou ao ponto de se associar ao Venâncio, que quer ver Angola mergulhada em conflitos como os que varreram Moçambique no pós eleitoral e que já o vivemos e nos deixaram memórias tristes. Falta apenas alinhar-se, mesmo que subtilmente, com outras figuras estrangeiras hostis aos interesses nacionais, como o populista português André Ventura, conhecido pela sua retórica racista e colonialista. Até onde vai a sede de protagonismo?
Essa súbita coragem no exílio não é sinal de consciência crítica, é puro oportunismo. É fácil fazer-se de revolucionário quando se vive longe das consequências. É fácil levantar a voz contra um regime quando se tem gás, internet de alta velocidade e um passaporte carimbado. Difícil mesmo é enfrentar os desafios de cá, conviver com o povo, sentir na pele os dilemas diários e, ainda assim, erguer a voz com lucidez e responsabilidade.
O que esses “combatentes de ocasião” praticam não é activismo, é traição moral. Porque, se de facto queriam mudança, teriam usado os privilégios que tiveram quando cá estavam para promover o debate, formar consciências e propor alternativas. Mas preferiram o silêncio confortável enquanto subiam a escada do sucesso. Agora, no topo e longe, fazem do grito uma fachada.
Não é patriotismo — é cobardia disfarçada de lucidez. Não é crítica construtiva — é revanche de quem perdeu o lugar à mesa.
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