Os "imbumbáveis" já esfregavam as mãos
Alguns “imbumbáveis”, como eu, ou mesmo empregados mas pertencem ao "verbo encher", já esfregavam as mãos de contentes ao ouvirem rumores de novas paralisações entre 11 e 17 de Agosto. Imaginavam mais umas “mini-férias” forçadas, recheadas de vandalismo, saques e a já habitual circulação de vídeos violentos nas redes sociais, celebrando a morte e o caos como se fossem troféus. Mas ao que parece, a ANATA tirou-lhes o gostinho. Nenhuma paralisação foi oficialmente decretada, e se vier a acontecer, será por conta e risco de quem decidir dar a cara por ela.
É importante lembrar e reiterar que o direito à greve e à manifestação está consagrado na Constituição da República de Angola. Greves não são, por si só, crime. São uma forma legítima de reivindicação e eu mesmo já liderei uma quando estava no activo. O problema está no formato como elas têm sido conduzidas: coercivas, violentas e frequentemente manipuladas por interesses obscuros, que vão muito além das legítimas reclamações laborais.
A paralisação dos taxistas, por exemplo, pode até ser legal, desde que não impeça o exercício livre de outros motoristas que não aderirem ao protesto. Nenhum cidadão tem o direito de impedir outro de trabalhar, circular ou exercer funções essenciais, como os profissionais de saúde que salvam vidas diariamente nos hospitais. O bloqueio de vias públicas, a destruição de bens e o impedimento do direito de ir e vir são actos criminosos, e devem ser tratados como tal.
Ninguém tem o direito de travar uma ambulância que vai salvar uma vida. Isso devia ser óbvio. Mas parece que, neste país, até o óbvio precisa de ser explicado com desenho.
Mais grave ainda é o papel que alguns políticos em especial aqueles que se dizem líderes na oposição e alguns aspirantes a líderes sociais desempenham neste cenário. Incentivam o caos a partir do conforto dos bastidores e muitos a mais de 10 mil quilómetros das nossas fronteiras sem medir as consequências humanas e sociais dos seus discursos inflamados. Muitos pouco se importam se da "confusão" virá desemprego, instabilidade ou mesmo morte. Para eles, o cálculo é puramente político e quanto pior estiver o país, melhor para suas ambições.
Portanto, é preciso separar as águas: o direito à manifestação é sagrado, mas não é um salvo-conduto para o crime. O cidadão consciente deve saber quando se está a lutar por justiça e quando está a ser usado como massa de manobra para fins alheios à sua causa.
O país não está bom, de facto mas não podemos torná-lo pior.
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