terça-feira, 27 de maio de 2025

 A Diplomacia Angolana à Deriva

Por Artur Cussendala - Cusse Ndala

A ausência do Presidente João Lourenço nas comemorações do Dia da Vitória em Moscovo, um evento emblemático para a diplomacia internacional e para os aliados tradicionais da Rússia, revela muito mais do que uma simples escolha de agenda. É um sintoma de uma diplomacia fragilizada, hesitante e cada vez mais isolada no palco global.
O Presidente preferiu ligar ao seu homólogo do Azerbaijão — que estava precisamente em Moscovo — para falar de cooperação. A coincidência geográfica não passa despercebida. Teria sido uma tentativa indirecta de se fazer notar por Vladimir Putin? Em seguida, embarcou numa visita à Índia, que muitos interpretam como uma jogada para persuadir Narendra Modi a interceder junto da liderança russa. O gesto é revelador: Angola parece não conseguir mais falar directamente com os parceiros que antes tratava como estratégicos.
Este quadro expõe um momento de depressão diplomática profunda. A virada no xadrez geopolítico mundial agravou-se com o regresso de Donald Trump ao centro das decisões, trazendo incerteza e instabilidade às relações multilaterais. O Ocidente não conseguiu conter Putin na Ucrânia, e a influência russa continua firme. Ao mesmo tempo, a China dá sinais claros de desagrado com Angola. O convite para o Fórum de Cooperação China-África (FOCAC) nunca chegou, um gesto simbólico que não pode ser ignorado.
Agora, há rumores de um novo convite à nossa diplomacia, mas a confirmação oficial não veio. E, num momento tão delicado, o embaixador de Angola na Rússia parece estar ausente do país.
A diplomacia angolana vive dias de perplexidade. O país que, outrora, mediava conflitos regionais e se sentava à mesa com potências globais, hoje parece hesitar diante dos grandes dilemas da política externa. O silêncio torna-se ensurdecedor. E a ausência nos lugares-chave é mais eloquen
te do que qualquer discurso.
Se Angola quiser recuperar relevância internacional, precisará mais do que manobras de bastidores. Precisará de clareza estratégica, presença firme e coragem diplomática.

Artur Cussendala é angolano, analista independente e observador atento da política internacional e da diplomacia africana, gere um canal de informação #angolaeomundoaominuto. Com uma experiência de mais de 35 anos de serviço público, escreve regularmente sobre os rumos políticos e estratégicos de Angola no contexto global.

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