A Diplomacia Angolana à Deriva
Por Artur Cussendala - Cusse Ndala
A ausência do Presidente João Lourenço nas comemorações do Dia da Vitória em Moscovo, um evento emblemático para a diplomacia internacional e para os aliados tradicionais da Rússia, revela muito mais do que uma simples escolha de agenda. É um sintoma de uma diplomacia fragilizada, hesitante e cada vez mais isolada no palco global.
O Presidente preferiu ligar ao seu homólogo do Azerbaijão — que estava precisamente em Moscovo — para falar de cooperação. A coincidência geográfica não passa despercebida. Teria sido uma tentativa indirecta de se fazer notar por Vladimir Putin? Em seguida, embarcou numa visita à Índia, que muitos interpretam como uma jogada para persuadir Narendra Modi a interceder junto da liderança russa. O gesto é revelador: Angola parece não conseguir mais falar directamente com os parceiros que antes tratava como estratégicos.
Este quadro expõe um momento de depressão diplomática profunda. A virada no xadrez geopolítico mundial agravou-se com o regresso de Donald Trump ao centro das decisões, trazendo incerteza e instabilidade às relações multilaterais. O Ocidente não conseguiu conter Putin na Ucrânia, e a influência russa continua firme. Ao mesmo tempo, a China dá sinais claros de desagrado com Angola. O convite para o Fórum de Cooperação China-África (FOCAC) nunca chegou, um gesto simbólico que não pode ser ignorado.
Agora, há rumores de um novo convite à nossa diplomacia, mas a confirmação oficial não veio. E, num momento tão delicado, o embaixador de Angola na Rússia parece estar ausente do país.
A diplomacia angolana vive dias de perplexidade. O país que, outrora, mediava conflitos regionais e se sentava à mesa com potências globais, hoje parece hesitar diante dos grandes dilemas da política externa. O silêncio torna-se ensurdecedor. E a ausência nos lugares-chave é mais eloquen
te do que qualquer discurso.
te do que qualquer discurso.
Se Angola quiser recuperar relevância internacional, precisará mais do que manobras de bastidores. Precisará de clareza estratégica, presença firme e coragem diplomática.
Artur Cussendala é angolano, analista independente e observador atento da política internacional e da diplomacia africana, gere um canal de informação #angolaeomundoaominuto. Com uma experiência de mais de 35 anos de serviço público, escreve regularmente sobre os rumos políticos e estratégicos de Angola no contexto global.
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