Recentemente, sob forte pressão sindical, o Estado angolano decidiu aumentar em 25% os salários da função pública. À primeira vista, esta medida pareceu uma vitória dos trabalhadores e um gesto de sensibilidade governamental diante da crescente carestia. No entanto, a realidade mostrou-se bem diferente. Logo após o anúncio do aumento, o preço do litro de gasóleo disparou de 160 Kz para 300 Kz, provocando um efeito cascata sobre os preços de praticamente tudo, especialmente nos transportes e nos bens essenciais.
Como se não bastasse, veio a notícia de que as tarifas de água e electricidade poderão sofrer aumentos de até 35%. Assim, a pergunta impõe-se: o que sobrará dos 25% de aumento salarial? Na prática, quase nada. O suposto benefício foi rapidamente engolido por uma espiral de aumentos que reduziram ainda mais o poder de compra da maioria dos cidadãos.
E os reformados? Estes continuam a ver suas pensões estagnadas, enquanto o custo de vida dispara. E os trabalhadores das pequenas empresas privadas? Estes nem sequer tiveram o “luxo” de um reajuste salarial. Estão a viver a mesma inflação, mas com os mesmos rendimentos. Isso não é só injusto – é cruel.
O que mais choca, no entanto, é a passividade com que a sociedade angolana assiste a tudo isso. Não há manifestações, não há debates públicos sérios, não há pressão organizada. A sensação é de resignação, como se tudo fosse normal. Mas não é.
Não é normal trabalhar o mês inteiro e não conseguir pagar contas básicas. Não é normal ver o Estado anunciar um aumento salarial e, ao mesmo tempo, implementar medidas que destroem qualquer ganho. Não é normal que os reformados sejam abandonados enquanto o custo de vida sobe descontroladamente. E não é normal que o povo aceite tudo isso em silêncio.
É urgente despertar. O silêncio da população é interpretado como consentimento. Se queremos justiça económica, precisamos participar, questionar, exigir. Só assim podemos mudar o rumo deste ciclo de ilusão e sacrifício.
16MAI 2025
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