terça-feira, 27 de maio de 2025

 A Diplomacia da Submissão (ou como ser humilhado com gravata e sorriso nos lábios)

Por Artur Cussendala

É sempre um espetáculo — trágico, mas digno de pipoca — ver certos presidentes africanos desfilarem pelo mundo como mascotes bem treinados do Ocidente. A última performance foi de Cyril Ramaphosa, que se apresentou na mítica Sala Oval com ares de estadista... e saiu de lá com um puxão de orelha público, acusado, veja só, de compactuar com um “genocídio dos boeres”. Bem-feito. Quem mandou ir bajular Trump como quem vai pedir bênção ao padrinho branco?
A cena foi tão desconfortável quanto previsível: Ramaphosa, ali, vestido de dignidade emprestada, tentando explicar o inexplicável, enquanto Trump, com seu habitual ar de “não sei onde fica a África, mas sei mandar nela”, o engoliu com garfo e faca — sem precisar levantar a voz. E o pior? Com câmaras a captar tudo, para que o mundo inteiro pudesse rir em alta definição.
E por que não? Zelensky já teve seu momento de marionete, mexendo os braços enquanto outros puxavam os fios. Agora é a vez de líderes africanos entrarem no teatro da diplomacia humilhante — aquele em que o roteiro é escrito em Washington, mas os actores vêm de países colonizados.
Confesso: adoraria ver o nosso presidente — sim, o incansável “campeão da paz” — a fazer a mesma romaria. De preferência, com a bandeira nacional debaixo do braço e um discurso cheio de elogios vazios ao “grande parceiro americano”. Seria um número e tanto: ele, todo sorridente, a acenar como quem vai ao FMI buscar uma esmola com laço dourado. E claro, levaria também aquele ar de “estou aqui para cooperar”, que é como se diz “podem mandar” em linguagem diplomática.
Mas atenção: não é só ele. É toda uma geração de líderes que confundem diplomacia com obediência, cooperação com vassalagem, e reuniões bilaterais com audiências de súplica. A diferença entre um estadista e um subalterno está no pescoço: o primeiro mantém a cabeça erguida. O segundo vive de chapéu na mão.
E nós? Nós é que ficamos com a vergonha de ver os nossos representantes tratados como figurantes num palco onde a soberania é apenas decorativa.

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