terça-feira, 27 de maio de 2025

 Abel Chivukuvuku e as versões da UNITA: um sonho adiado ou estratégia contínua?

Por Artur Cussendala - 19MAI 2025

Abel Chivukuvuku é, possivelmente, o mais notável ideólogo que a UNITA já produziu. Mais do que um simples dirigente, foi o arquiteto dos serviços de inteligência do partido - a famigerada e temida BRINDE - detentor de um profundo conhecimento sobre os seus activos e passivos — humanos, organizacionais e estratégicos. No entanto, esse capital político e intelectual nem sempre foi devidamente reconhecido ou compreendido pelos seus próprios camaradas ou maninhos como queiram.
Talvez por isso Chivukuvuku tenha optado por não se envolver nas batalhas internas do partido. Conhecendo bem as suas fragilidades, preferiu não alimentar confrontos que poderiam desgastar ainda mais a organização. Em vez disso, decidiu traçar um caminho paralelo, criando alternativas que, embora fora da estrutura formal da UNITA, carregavam claramente o seu ADN político.
Assim nasceu a CASA-CE, que muitos interpretaram como uma “UNITA v0.2”: um projeto reformulado, mas ainda assim enraizado no mesmo universo ideológico. Para este novo movimento, Chivukuvuku levou consigo — ou teve emprestados — vários quadros da UNITA. Quando o projeto mostrou sinais de esgotamento, esses mesmos quadros regressaram ao seio da “UNITA v0.1” sem máculas.
Persistente e coerente com os seus objectivos, Chivukuvuku não desistiu. Impedido de regressar à UNITA e vendo o lugar de liderança ocupado por Adalberto Costa Júnior — o luso-angolano que se consolidou como rosto da oposição —, optou por fundar um novo projeto político: o PRA-JA Servir Angola. Uma iniciativa que pode bem ser chamada de “UNITA v0.3”, pois apesar da nova roupagem, continua a refletir o seu ideal de uma oposição forte, nacionalista e transformadora.
Curiosamente, apesar de todas essas cisões, Abel Chivukuvuku nunca atacou e não atacará publicamente a UNITA. E há uma razão clara para isso: o seu sonho maior ainda é liderar o partido que o viu crescer — e, por meio dele, alcançar a presidência da República. Em sua mente, desvincular-se definitivamente da UNITA significaria romper com esse sonho. E talvez, se isso acontecer, a própria UNITA também perca parte significativa da sua razão de existir.
A trajetória de Chivukuvuku não é apenas a de um político resistente, mas a de um estratega que nunca largou o seu plano inicial. O país talvez ainda não tenha compreendido completamente a dimensão desse projecto.

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