segunda-feira, 30 de junho de 2025

 

🎙️A geração da pressa tomou conta da mídia estatal… e a qualidade foi-se.

Ultimamente tenho prestado atenção aos escritos de Carlos Alberto (AC) - O tal jornalista-recluso e pós-graduado em retrocesso mental 🫣- que constantemente reclama da qualidade linguística de alguns jornalistas.

‎O CA tem razão em reclamar mas tem uma explicação para o fenômeno. Tudo começou com os processos de mudança geracional na mídia estatal que foi mal conduzido. Reformaram às pressas os profissionais mais experientes, muitos ainda produtivos e puseram no lugar jovens sem preparação adequada. Resultado? A qualidade despencou.
‎Hoje, os "reformados" brilham na mídia privada, enquanto a estatal afunda em erros básicos, notícias mal apuradas e análises rasas. O que deveria ser renovação virou desorganização.
‎E o problema não foi só na mídia. A mesma receita desastrosa aplicou-se na saúde, na educação, na administração pública. Saiu a experiência, ficou o improviso.
‎Rejuvenescer instituições é necessário, sim. Mas sem formação, sem transição, sem mentoria? É suicídio institucional.
🚨 Angola está a pagar caro por uma reforma feita à pressa.
Imagem de fundo - o Jornalista Carlos Alberto

 NASCI NO PAÍS ERRADO?

Angola é um verdadeiro caso de estudo — não pelo que faz de certo, mas pelo absurdo que se tornou a sua gestão pública. Os salários continuam entre os mais baixos da região e permanecem congelados há anos, enquanto o custo de vida sobe vertiginosamente. Os preços dos serviços públicos aumentam, as taxas e impostos não param de subir, o combustível e o transporte tornam-se cada vez mais inacessíveis, e os alimentos estão a preços proibitivos.
Hoje, quem fazia três refeições por dia já se contenta com duas; quem fazia duas, sobrevive com uma; e quem já vivia com uma refeição diária, agora disputa restos com ratos e baratas nos contentores do lixo.
Enquanto isso, o governo vangloria-se de ter tudo "sob controlo", a oposição finge que não vê — desde que os seus privilégios no Parlamento não sejam ameaçados. A sociedade civil foi silenciada ou caiu em letargia, e os jornalistas, que deveriam ser o quarto poder, tornaram-se cães que ladram mas não mordem, corruptos, domesticados e subordinados.
O que está errado em Angola é o modelo de governação, as prioridades políticas, e a falta de responsabilidade. O que falta é uma elite comprometida com o país real, não apenas com o país dos salões de conferência e dos relatórios manipulados.
Reverter este cenário requer mais do que boas intenções. Exige reforma profunda, redistribuição de prioridades, e sobretudo, coragem política. Até lá, Angola continuará a ser um estudo de caso, não de sucesso, mas de como não se deve governar um país.

sábado, 28 de junho de 2025

Identidade, Poder e Instrumentalização: As Origens Políticas Ambíguas na Luta de Libertação de Angola

A luta de libertação nacional em Angola é frequentemente retratada como uma epopeia de unidade e resistência ao colonialismo português. No entanto, uma análise mais atenta revela contradições identitárias, interferências externas e rearranjos estratégicos que ajudaram a moldar o percurso de movimentos como a Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA).

1. A Ascensão Ambígua de Holden Roberto
Contrariamente à imagem projetada durante a luta, Holden Álvaro Roberto não nasceu em território angolano. Era filho de um missionário baptista da África Ocidental, cuja inserção no contexto angolano se deu por via matrimonial: o pai de Holden casou-se com uma filha de Sidney Manuel Ventura Barros Necaca, destacado nacionalista e missionário protestante de origem angolana. Assim, Holden tornou-se enteado da filha de Necaca e neto por afinidade, o que lhe conferiu laços simbólicos e políticos com o nacionalismo angolano¹.
A influência das igrejas protestantes foi decisiva no norte de Angola, especialmente entre as comunidades do Uíge e Zaire. A associação de Holden à família Necaca ofereceu-lhe legitimidade e acesso aos círculos nacionalistas, fortalecendo sua presença política na diáspora e, mais tarde, na frente diplomática da FNLA.

2. Mobutu e o Redesenho Estratégico da FNLA
Mobutu Sese Seko, presidente do então Zaire, teria origens paternas angolanas, especificamente na província do Zaire. Crescido em Léopoldville (actual Kinshasa), teria acompanhado seus pais como refugiados. Esse dado, embora ausente de muitos registos oficiais, é sustentado por fontes orais e por análises políticas da sua intervenção activa nos assuntos angolanos².
A relação entre Mobutu e Holden Roberto foi mais do que diplomática: foi estratégica. Mobutu via em Holden alguém capaz de representar, em língua portuguesa, os interesses da FNLA e, ao mesmo tempo, servir de aliado regional. Isso levou à substituição de Johnny Eduardo Pinnock, angolano de nascimento e fundador da FNLA, mas radicado no Congo desde a infância e com pouca fluência em português.

3. O Esquecido Johnny Pinnock
Johnny Pinnock, verdadeiro fundador da FNLA, é hoje uma figura pouco lembrada. Apesar de angolano, sua trajetória no Congo e o afastamento linguístico do português prejudicaram sua visibilidade. No contexto da Guerra Fria, em que o domínio da comunicação política era vital, a ausência de fluência linguística tornou-se uma barreira insuperável. Mobutu, consciente disso, promoveu Holden Roberto ao posto de rosto público da FNLA³.

4. Conclusão: Lideranças Fabricadas e Identidades Flexíveis
O caso de Holden Roberto, instrumentalizado por Mobutu; de Pinnock, marginalizado por motivos linguísticos; e de Necaca, como elo familiar legitimador, revela como a luta de libertação angolana não foi apenas movida por ideais, mas também por relações estratégicas, alianças familiares e conveniências políticas.
Entender essas complexidades é essencial para uma leitura crítica da história de Angola. A independência foi conquistada não apenas por angolanos natos, mas também por figuras que, embora exteriores ao território, foram moldadas por interesses geopolíticos, missões religiosas e interferências externas — e que, em muitos casos, redefiniram o curso da história nacional.
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Notas de Rodapé
1. Necaca, Sidney Manuel Ventura Barros: Importante figura do nacionalismo cristão angolano. Sobre sua influência no meio protestante e político, ver: Miller, J. (1993). "Kings and Kinsmen: Early Missionary Influence on Politics in Angola", University of Wisconsin Press.
2. Sobre as origens de Mobutu e sua relação com Angola, consultar: Nzongola-Ntalaja, G. (2002). “The Congo: From Leopold to Kabila: A People's History”, Zed Books.
3. A marginalização de Johnny Pinnock é referida em fontes não oficiais e entrevistas orais preservadas por antigos membros da diáspora angolana no Congo Belga. Para um tratamento preliminar, ver: Iko Carreira, H. (1982). “Memórias: Participação nas lutas de libertação”.

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quinta-feira, 26 de junho de 2025

 Israel vs Irão: Quando a retórica se confronta com a realidade

Por mais que se tente moldar a narrativa internacional principalmente no ocidente, há momentos em que os factos falam mais alto do que qualquer propaganda. Um desses momentos acaba de acontecer no confronto entre Israel e o Irão. Contrariando o que muitos esperavam, foi Israel e não Teerão, quem recorreu aos bons ofícios de Donald Trump para pressionar por um cessar-fogo. A razão? Uma guerra mal planeada, um inimigo subestimado e um sistema de defesa que começava a mostrar sinais de fadiga.
Nos últimos dias, o mundo assistiu em directo e apesar da censura, à surpreendente dificuldade das Forças de Defesa de Israel em abater mísseis iranianos. Este fracasso operacional pode ser explicado por três factores inquietantes: o salto qualitativo da tecnologia militar iraniana empregue nos seus mísseis e drones, uma eventual escassez de mísseis antiaéreos disponíveis em Israel, ou, e aqui reside o ponto mais sensível — o custo insustentável de manter uma guerra prolongada contra um adversário que se preparou para resistir e contra-atacar.
Durante décadas, Tel Aviv habituou-se a controlar o ritmo dos conflitos no Médio Oriente, confiando numa superioridade militar amplamente reconhecida. Mas desta vez, o Irão demonstrou não apenas capacidade de resposta, como também resiliência estratégica. E isso mudou o jogo.
O apelo a Washington para entrar no conflito e por mediação revela mais do que uma quebra de iniciativa: é um reconhecimento tácito de que o conflito saiu do controlo. A tradicional imagem de Israel como potência militar inabalável está a ser posta à prova por um Irão que, apesar das sanções, isolamentos e ameaças, mostrou que sabe jogar no mesmo tabuleiro e com peças próprias.
É evidente que uma guerra total entre estas duas potências traria consequências devastadoras para toda a região. Mas é igualmente evidente que Israel saiu deste episódio com a sua aura de invulnerabilidade visivelmente abalada. A retórica da força encontra finalmente um adversário com músculo, método e coragem para responder. E quando isso acontece, o silêncio que se segue aos pedidos de cessar-fogo diz mais do que qualquer comunicado oficial.

NOTA: podes encontrar este texto no meu perfil de facebook - https://www.facebook.com/photo/?fbid=10235451613849507&set=a.2618406417914&__cft__[0]=AZWESvADmO2MQnBKXnF7m1sDv4_qZmsRKExSzJNhVBtAty7ZDi74gobAfTE5vHJl4aN1Z1cowWoJEyGixmF84Ox_7SzK6K5K9pGzBJEyeko5eQwOfpOIZhsW8az67IgTrHprt_L1qxAa6E8FG-dr1TwBgxzDYixU-YLqj9ktCXEG6w&__tn__=EH-R

quarta-feira, 25 de junho de 2025

Europa de joelhos na OTAN: submissão ou medo disfarçado?

A recente cimeira da OTAN, que segui com bastante atenção desde que cheguei da agência da ENDE, foi tudo, menos diplomática. Donald Trump, com o estilo que o caracteriza, exigiu dos aliados europeus e do Canadá, o aumento imediato dos seus orçamentos de DEFESA para 5% do PIB de cada membro da aliança. Até aqui, nada de novo. Mas impôs uma condição clara: os gastos devem ser feitos exclusivamente com a indústria militar dos Estados Unidos.
Quando eu pensava que Macron ou o chanceler alemão Friedrich Merz fossem tesos, enganei-me completamente. E o que fizeram os líderes europeus? Acenaram em silêncio, concordando com tudo, como se estivessem a agradecer por um favor.
Todos... menos a Espanha. Esta ousou demonstrar alguma autonomia, sendo de imediato ameaçada com sanções e aumento de tarifas comerciais.
O que se passou foi mais do que uma reunião de aliados. Foi um espetáculo de submissão colectiva.
Resta perguntar: será realmente o medo da Rússia que justifica tanta humilhação? Ou a Europa já não sabe como sobreviver sem o guarda-chuva nuclear americano?
Custa admitir, mas parece que, para muitos líderes europeus, a soberania já não passa de um detalhe secundário diante dos caprichos de Washington.
E nós, cidadãos do Sul Global, ficamos a assistir, entre o espanto e a vergonha alheia.
No final, quem realmente lidera a OTAN? Bruxelas ou Washington? E quem é o protegido e quem é o vassalo?

O colapso do atendimento na ENDE: reflexo de uma gestão pública ineficiente


Por Artur Cussendala


É difícil compreender as razões que levaram a ENDE a romper com os seus agentes comerciais quase por toda cidade de Luanda. O que se observa hoje é uma sobrecarga absurda na única agência oficial disponível no Camama, que tenta — em vão — atender a clientela de zonas densamente povoadas como o Kilamba Kiaxi, Talatona, Bela, entre outras.


Compareci ontem à agência por volta das 11h e, diante da multidão, tive de voltar para casa. Hoje, decidi chegar mais cedo: saí de casa às 05h26 e, às 05h58, já era o vigésimo quinto na fila. O atendimento só se inicia às 08h00 e, mesmo assim, começa com a triagem de clientes prioritários — idosos, grávidas e pessoas com deficiência. Ou seja, mesmo com madrugadora antecedência, fui relegado a uma posição indefinida. Para piorar, havia apenas duas caixas em funcionamento para uma fila com mais de uma centena de pessoas.

A situação é agravada pela postura dos funcionários, muitos dos quais agem como se estivessem a prestar um favor, esquecendo-se de que o seu salário depende justamente dos utentes que ali se dirigem.

Um episódio particularmente marcante foi a recepção, em plena agência, da notícia do falecimento de uma funcionária. A comoção foi intensa, com gritos de dor em público, num ambiente já tenso e caótico.

Somente por volta das 09h40 consegui pagar as minhas faturas. Quando saí, a agência estava ainda mais cheia. O ambiente mais parecia uma sala de espera de hospital de bairro do que uma instituição de serviços públicos.

Ainda não enfrentei problemas técnicos na rede eléctrica, mas pergunto-me: se os serviços já eram lentos com os agentes em operação, o que esperar agora que estão centralizados?

Outro motivo da minha deslocação foi a tentativa de entender por que os pagamentos efectuados via Multicaixa Express não são automaticamente reflectidos nas faturas, apesar dos constantes incentivos que recebemos por SMS para usar esse meio no pagamento das facturas. Ao questionar no balcão, fui informado de que o assunto deve ser tratado noutro departamento. Dirigi-me até lá e, ao deparar-me com uma fila interminável, desisti. Continuo, portanto, com pagamentos realizados e não reconhecidos.

Este caso da ENDE é apenas um reflexo do que ocorre em várias empresas públicas. A necessidade de uma reforma profunda no sector estatal é urgente. Privatizações selectivas, começando por instituições como a ENDE, EPAL, Angola Telecom e TAAG, poderiam representar um ponto de viragem para a eficiência e respeito ao cidadão.

Infelizmente, temos um governo que não actua com o rigor necessário e uma oposição que se encontra mergulhada num sono profundo. Enquanto isso, as populações seguem abandonadas à própria sorte, sujeitas à desorganização e ao desrespeito de quem deveria servi-las.



Li a carta aberta da Titica e compreendendo a dor e a indignação por trás de cada palavra. Ela não fala só por si, mas por muitas mulheres trans que enfrentam diariamente a humilhação, o preconceito e a exclusão. No entanto, não podemos ignorar que vivemos numa sociedade angolana, africana, com padrões culturais e religiosos profundamente enraizados e com um sistema legal que ainda não sabe bem o que fazer com identidades de género fora do padrão tradicional.

A pergunta que me fica é: que tipo de dignidade uma mulher trans espera receber num país onde a própria estrutura legal e os valores culturais dominantes ainda não reconhecem plenamente a sua existência?
Antes de exigirmos respeito, que sim, é merecido, temos que enfrentar dois debates urgentes: o primeiro é legal. O Estado precisa definir com clareza qual é a sua posição sobre identidade de género e garantir, por lei, os direitos fundamentais dessas pessoas. O segundo é cultural. Precisamos conversar, com seriedade, sobre o que significa ser africano no século XXI. Será que os nossos valores são estáticos? Ou há espaço para evoluir sem perder as nossas raízes?
Sem isso, tudo continuará a ser barulho: gritos de um lado, rejeição do outro. E no meio, pessoas reais a sofrer em silêncio.

  O SACO DE KUMBÚ QUE NÃO ME ACHOU Diz o comunicado do SIC de hoje sobre dois russos que andavam a fazer turismo criminal por Angola: "...