NASCI NO PAÍS ERRADO?
Por Artur Cussendala
Angola é um verdadeiro caso de estudo — não pelo que faz de certo, mas pelo absurdo que se tornou a sua gestão pública. Os salários continuam entre os mais baixos da região e permanecem congelados há anos, enquanto o custo de vida sobe vertiginosamente. Os preços dos serviços públicos aumentam, as taxas e impostos não param de subir, o combustível e o transporte tornam-se cada vez mais inacessíveis, e os alimentos estão a preços proibitivos.
Hoje, quem fazia três refeições por dia já se contenta com duas; quem fazia duas, sobrevive com uma; e quem já vivia com uma refeição diária, agora disputa restos com ratos e baratas nos contentores do lixo.
Enquanto isso, o governo vangloria-se de ter tudo "sob controlo", a oposição finge que não vê — desde que os seus privilégios no Parlamento não sejam ameaçados. A sociedade civil foi silenciada ou caiu em letargia, e os jornalistas, que deveriam ser o quarto poder, tornaram-se cães que ladram mas não mordem, corruptos, domesticados e subordinados.
O que está errado em Angola é o modelo de governação, as prioridades políticas, e a falta de responsabilidade. O que falta é uma elite comprometida com o país real, não apenas com o país dos salões de conferência e dos relatórios manipulados.
Reverter este cenário requer mais do que boas intenções. Exige reforma profunda, redistribuição de prioridades, e sobretudo, coragem política. Até lá, Angola continuará a ser um estudo de caso, não de sucesso, mas de como não se deve governar um país.
Sem comentários:
Enviar um comentário