Dois pesos, duas medidas: Gaza, Ucrânia e a hipocrisia do Ocidente
Por Artur Cussendala 10JUN 2025
Se o que está a acontecer em Gaza estivesse a acontecer na Ucrânia, já teriam caído o céu e a trindade. A comoção internacional seria imediata. As sanções cairiam como relâmpagos. Haveria manifestações em massa, pronunciamentos de emergência nos parlamentos europeus, e uma cobertura constante nos meios de comunicação ocidentais. A grande pergunta é: por que razão há tamanha diferença de tratamento?
Desde a invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022, o Ocidente mobilizou-se como raramente se viu: apoio militar, financeiro e diplomático em grande escala, e 18 pacotes de sanções aplicadas contra a Rússia, muitas delas com impacto directo nas economias europeias. Tudo em nome da defesa da soberania, do direito internacional e da protecção dos civis.
Mas quando se observa o que se passa em Gaza, vemos uma realidade gritante: bairros inteiros arrasados, dezenas de milhares de civis mortos, crianças soterradas, hospitais atacados, escolas e campos de refugiados destruídos. E, ainda assim, a reacção do Ocidente é morna, ambígua ou simplesmente cúmplice. O que se ouve são declarações vagas de “preocupação” e apelos ao “uso moderado da força”. Onde estão as sanções? Onde está a indignação?
Por quê esta diferença?
Israel não integra a OTAN, nem a União Europeia, mas é um aliado estratégico de longa data dos Estados Unidos e de várias potências europeias. Para além disso, existe um receio profundo, sobretudo na Europa, de que qualquer crítica ao governo israelita seja interpretada como antissemitismo. Esse medo trava discursos, silencia líderes e neutraliza a consciência internacional.
Mas convém deixar claro: criticar as acções de um Estado não é antissemitismo. Antissemitismo é o ódio aos judeus enquanto povo ou religião. Já a crítica às políticas de Israel, especialmente quando estas violam os direitos humanos e o direito internacional, é não só legítima, como necessária.
Ao condenar com firmeza a invasão russa da Ucrânia, e ao mesmo tempo fechar os olhos ao que se passa em Gaza, o Ocidente revela uma hipocrisia moral e política que fragiliza a autoridade dos seus próprios valores. Os direitos humanos não podem ser aplicados de forma selectiva. Ou são universais e valem também para os palestinianos ou são apenas retórica vazia.
O mundo não precisa de mais alianças cegas, nem de silêncios cúmplices. Precisa de justiça com o mesmo peso e a mesma medida, independentemente de quem comete o crime ou de quem sofre a dor.
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