quinta-feira, 19 de junho de 2025

Dois pesos, duas medidas: o Irão, a Rússia e a moral selectiva do Ocidente


Hoje (19 de Junho), o porta-voz das Forças de Defesa de Israel falando a CNN Portugal, justificou os constantes ataques e ameaças ao Irão com um argumento que se tornou habitual: “Não podemos permitir que o Irão se arme, pois representa uma ameaça existencial à nação israelita.” Como se não bastasse, a Europa e o chamado Ocidente colectivo prontamente aplaudiram esta posição, alinhando-se ao lado de Israel como se esta narrativa fosse inquestionável e moralmente superior.
Mas, diante desta cena repetida, levanto uma questão que não pode ser ignorada: qual é a diferença real entre este argumento de “ameaça existencial” usado por Israel e o mesmo argumento utilizado pela Rússia ao justificar a sua intervenção na Ucrânia? A Rússia, desde 2014 e com mais força desde 2022, insiste que a expansão da NATO nas suas fronteiras e a militarização da Ucrânia ameaçam a sua segurança e existência enquanto Estado soberano. No entanto, neste caso, a resposta do Ocidente foi totalmente oposta: condenação, sanções, fornecimento de armas à Ucrânia e apoio irrestrito ao governo de Kiev.
Trata-se, no fundo, da mesma lógica: agir preventivamente contra uma ameaça percebida. No entanto, as reacções internacionais demonstram um claro padrão de hipocrisia e selectividade moral. Quando é Israel a usar a força preventiva, contra um país muçulmano e inimigo tradicional dos Estados Unidos, os tambores da guerra tocam em solidariedade. Quando é a Rússia, considerada rival geopolítico do Ocidente, a fazer o mesmo, os alarmes do “direito internacional” e da “soberania dos Estados” soam alto.
Será então que o problema está no acto em si ou em quem o comete?
A duplicidade do Ocidente revela que os princípios que proclama defender, como a paz, a soberania dos povos e a ordem internacional baseada em regras, são, na verdade, ferramentas ao serviço dos seus próprios interesses. É isso que torna o cenário internacional tão perigoso: a ausência de uma bússola ética universal e a normalização da guerra preventiva desde que seja "amiga" da causa ocidental.
Eu, Cussendala, não tenho simpatias nem por teocracias repressivas nem por autocracias imperialistas. Mas exijo coerência e justiça no discurso internacional. Se a segurança de Israel merece respeito, o mesmo deve valer para a segurança da Rússia. Se a soberania da Ucrânia é sagrada, então a do Irão também o é. O contrário disso é apenas propaganda.
Qual é a sua opinião?

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