O colapso do atendimento na ENDE: reflexo de uma gestão pública ineficiente
Por Artur Cussendala
É difícil compreender as razões que levaram a ENDE a romper com os seus agentes comerciais quase por toda cidade de Luanda. O que se observa hoje é uma sobrecarga absurda na única agência oficial disponível no Camama, que tenta — em vão — atender a clientela de zonas densamente povoadas como o Kilamba Kiaxi, Talatona, Bela, entre outras.
Compareci ontem à agência por volta das 11h e, diante da multidão, tive de voltar para casa. Hoje, decidi chegar mais cedo: saí de casa às 05h26 e, às 05h58, já era o vigésimo quinto na fila. O atendimento só se inicia às 08h00 e, mesmo assim, começa com a triagem de clientes prioritários — idosos, grávidas e pessoas com deficiência. Ou seja, mesmo com madrugadora antecedência, fui relegado a uma posição indefinida. Para piorar, havia apenas duas caixas em funcionamento para uma fila com mais de uma centena de pessoas.
A situação é agravada pela postura dos funcionários, muitos dos quais agem como se estivessem a prestar um favor, esquecendo-se de que o seu salário depende justamente dos utentes que ali se dirigem.
Um episódio particularmente marcante foi a recepção, em plena agência, da notícia do falecimento de uma funcionária. A comoção foi intensa, com gritos de dor em público, num ambiente já tenso e caótico.
Somente por volta das 09h40 consegui pagar as minhas faturas. Quando saí, a agência estava ainda mais cheia. O ambiente mais parecia uma sala de espera de hospital de bairro do que uma instituição de serviços públicos.
Ainda não enfrentei problemas técnicos na rede eléctrica, mas pergunto-me: se os serviços já eram lentos com os agentes em operação, o que esperar agora que estão centralizados?
Outro motivo da minha deslocação foi a tentativa de entender por que os pagamentos efectuados via Multicaixa Express não são automaticamente reflectidos nas faturas, apesar dos constantes incentivos que recebemos por SMS para usar esse meio no pagamento das facturas. Ao questionar no balcão, fui informado de que o assunto deve ser tratado noutro departamento. Dirigi-me até lá e, ao deparar-me com uma fila interminável, desisti. Continuo, portanto, com pagamentos realizados e não reconhecidos.
Este caso da ENDE é apenas um reflexo do que ocorre em várias empresas públicas. A necessidade de uma reforma profunda no sector estatal é urgente. Privatizações selectivas, começando por instituições como a ENDE, EPAL, Angola Telecom e TAAG, poderiam representar um ponto de viragem para a eficiência e respeito ao cidadão.
Infelizmente, temos um governo que não actua com o rigor necessário e uma oposição que se encontra mergulhada num sono profundo. Enquanto isso, as populações seguem abandonadas à própria sorte, sujeitas à desorganização e ao desrespeito de quem deveria servi-las.
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