OPINIÃO | Uma entrevista que não disse nada
O nosso jornalismo merecia ser estudado e não pelos bons motivos. Numa rara aparição pública, o presidente de Angola concedeu uma entrevista à TPA. No entanto, em vez de aproveitarmos esse momento para esclarecer questões cruciais para o país, vimos um diálogo morno e previsível. Ernesto Bartolomeu, jornalista respeitado, limitou-se ao óbvio, evitando perguntas que realmente interessam aos cidadãos.
Fica a sensação de que a entrevista seguiu um roteiro acordado previamente. Terá sido o presidente a impor as condições? A ausência de confrontos, de perguntas difíceis, levanta dúvidas legítimas sobre a independência editorial do nosso jornalismo.
Pegando na deixa do PR, Luanda é banhada por dois rios com água o ano inteiro. Luanda tem défice de água porquê?
Um outro exemplo claro foi a forma tímida como se abordou a audiência concedida ao General Higino Carneiro. Um tema delicado, que merecia aprofundamento. Mas o jornalista passou por ele quase como quem cumpre um protocolo.
Também ficaram por fazer perguntas fundamentais: quais são as regras do MPLA para as pré-candidaturas à presidência do partido? Que critérios orientam essas escolhas? E mais: a realização do congresso tão perto das eleições não pode prejudicar o candidato do partido, dando-lhe pouco tempo de exposição ao eleitorado?
Assisti a essa entrevista com expectativa e terminei com frustração. Não houve emoção, nem revelações, nem sequer um lampejo de coragem jornalística. Perdi meu tempo. Foi uma oportunidade desperdiçada — para o jornalismo, para o público e, talvez, para o próprio país.
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