quinta-feira, 19 de junho de 2025

 A vitória virtual de Israel e o poder da narrativa ocidental

Centrais nucleares intactas, civis mortos: uma guerra sem vencedores, mas com muito fingimento diplomático.

Por Artur Cussendala 17JUN 2025

A mais recente escalada militar entre Israel e o Irão está, ao menos por agora, sem alterações significativas no tabuleiro estratégico do Médio Oriente. No entanto, a leitura veiculada pelas grandes redes de comunicação ocidentais é a de uma vitória de Israel, como se os foguetes iranianos fossem fogos-de-artifício e a resposta israelita um simples “acto de legítima defesa”.
Não há uma vitória real. Não se destruíram centrais nucleares. Não há uma ocupação territorial, uma rendição ou sequer um cessar-fogo formal. Há, isso sim, uma guerra limitada, quase teatral, mas com consequências letais. Civis morreram em ambos os lados, vítimas de ataques cuja aleatoriedade e impacto psicológico se aproximam de actos terroristas. Mas este detalhe foi varrido para debaixo do tapete da narrativa oficial.
Em vez de uma análise objetiva, temos a repetição de chavões: “Israel neutralizou a ameaça”, “o Irão falhou”, “a democracia venceu o terrorismo”. Expressões moldadas para confortar o Ocidente, manter os financiamentos militares e justificar a contínua presença das potências aliadas na região.
A verdade é que tanto Israel quanto o Irão evitam atingir infraestruturas críticas como as centrais nucleares. Isto revela que, apesar do ruído bélico, ambos os regimes continuam racionais e que ninguém quis puxar o gatilho do apocalipse. A contenção, nesse caso, foi mais eloquente que os mísseis lançados.
No entanto, para os civis de Teerão, Haifa, Tela Viv ou Damasco, isso pouco importou. Casas estão a ser destruídas, crianças traumatizadas, famílias dilaceradas. O sangue que corre não é simbólico. E é precisamente esse drama humano que a narrativa ocidental tenta abafar, focando-se nos gráficos de sucesso do sistema antimíssil israelita ou nas supostas falhas logísticas iranianas.
Trata-se de uma guerra de percepções, onde a imagem de invulnerabilidade de Israel é parte vital da estratégia de dissuasão, e onde o Irão continua a ser retratado como o eterno vilão. Uma construção conveniente, mas perigosamente simplista.
A vitória, portanto, é apenas virtual. Não pelos mísseis interceptados, mas pela capacidade de manipular a narrativa global. E é essa vitória, silenciosa e insidiosa, que ameaça mais a paz do que os próprios drones armados. Porque enquanto se molda a percepção mundial com meias verdades, civis continuam a morrer em guerras travadas por outros interesses. E a diplomacia continua em coma.
Texto e título sujerido pelo Dr. Serafim José Ferreira , um leitor assíduo das minhas postagens.

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