segunda-feira, 2 de junho de 2025

Intolerância política ou feridas abertas da guerra?

Hoje, soube que um deputado da UNITA e a sua delegação foram agredidos no interior da província do Huambo. É um acto condenável, sem qualquer justificação num Estado democrático. Mas, para além da indignação, é preciso reflectir com profundidade: será que estamos apenas diante de intolerância política, ou há feridas mal saradas que continuam a sangrar em silêncio?

Durante a guerra civil, o Huambo foi palco de intensas atrocidades, muitas delas cometidas por guerrilheiros da UNITA nas suas próprias comunidades de origem. Com o fim da guerra e o perdão estatal, muitos desses antigos combatentes voltaram, agora em funções políticas. O problema é que, em várias localidades, eles regressam exactamente onde praticaram violência, muitas vezes sendo nomeados para representar os mesmos que um dia feriram, sequestraram ou até mataram.
É preciso coragem para dizer: o perdão não se impõe por decreto. Ele precisa de tempo, reconhecimento do passado e, acima de tudo, respeito pelas memórias das vítimas. Quando uma comunidade vê o rosto do seu antigo agressor, agora vestido de autoridade, o sentimento de injustiça é natural. Não é política. É trauma.
Por isso, ao condenarmos e como devemos, qualquer acto de violência política, não podemos ignorar o contexto. As zonas onde a guerra foi mais cruel são hoje as mais vulneráveis a episódios como este. São comunidades que pedem mais do que discursos: pedem sensibilidade, reparação e aproximação com respeito.
A paz constrói-se com empatia, não com arrogância. Aproximar-se de um povo ferido exige humildade. E só com esse espírito será possível transformar o passado num alicerce de reconciliação, e não numa sombra que nos persegue.

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